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Scot Consultoria

Parabéns, São Paulo


Quinta-feira, 28 de janeiro de 2010 - 14h22


Lá se vai mais um aniversário da grande metrópole paulistana. É fascinante pensar historicamente, tentando entender como se formaram essas incríveis aglomerações humanas. Mais interessante, ainda, descobrir como se alimenta a vida na cidade gigante. Enorme desafio. Aprende-se na história econômica elementar que, em todo o mundo, as cidades somente puderam crescer quando a produtividade do trabalho no campo se elevou. Antes disso, nos primórdios nômades da civilização, as famílias, suas tribos e seus grupos produziam o próprio alimento que comiam. Fase ancestral da agricultura de subsistência. O maior estímulo à produção agrícola sempre derivou, desde a antiguidade, das inúmeras e longevas guerras. Afinal, exércitos precisam ser abastecidos em campanha, longe dos campos de cultivo de cereais, da carne e do leite. Ninguém vence uma batalha com a fome batendo na sua legião. Os militares guerreiros, sem querer, impulsionavam a roça. Nos fortificados burgos medievais, nos palácios da nobreza europeia e na Igreja, comerciantes, religiosos, filósofos, artistas, meretrizes, toda uma população desconectada da lide rural exigia comida e roupas para manter suas atividades essencialmente urbanas. Nesse período da Idade Média cresceu o mercantilismo, demandando alimentos e matérias-primas. A formação de excedentes no campo fortalece as nascentes cidades. Jamais vingaria a Revolução Industrial se, antes, não tivesse ocorrido uma enorme modificação na área agrícola. A forja de novos instrumentos de lavra, o cercamento das terras, a dragagem dos pântanos, a regulamentação do trabalho camponês, tudo isso possibilitou o início do capitalismo europeu. Mais gente na cidade, maior produtividade no campo. Essa é a história da civilização. São Paulo vingou tardiamente, comparada aos grandes centros urbanos da Europa. Porém, de modo semelhante, dependeu do campo para evoluir, passando por fases distintas em seu crescimento. Enquanto o eixo econômico da colônia brasileira pertencia ao açúcar do Nordeste e, depois, à mineração das Minas Gerais, desde a criação do colégio jesuíta em 1554 ela permaneceu sem maior expressão. Durante dois séculos, a vila de difícil acesso erguida nos campos de Piratininga esteve quieta e isolada, abastecida pelas roças locais de subsistência. Depois, ao evoluir para uma espécie de quartel-general dos bandeirantes, ganhou maior movimento. Mesmo assim, apresentava em 1872 apenas 31 mil habitantes. Pouca gente para comer. Tudo começou a se alterar, de verdade, com a chegada do ciclo do café, a partir de 1860. A onda verde dos cafezais tomou conta do Vale do Paraíba, expandindo-se depois na direção de São Paulo, passando por Campinas e se firmando em Ribeirão Preto no início dos anos 1900. Para se localizar nesse período de desenvolvimento basta saber que a Ferrovia Santos-Jundiaí começou a operar em 1867. Trilhos do progresso. Fugidos da guerra de unificação e atraídos pelos negócios da economia cafeeira, muitos italianos por aqui desembarcam, dirigindo-se ao interior, onde constituíram o colonato. Outras nacionalidades, entretanto, chegaram para se dedicar ao comércio da nova riqueza na capital. Em 1895 a cidade de São Paulo contava 130 mil habitantes, metade dos quais, estrangeiros. Em 1920 já ostentava São Paulo 580 mil habitantes. Não parou mais de prosperar. Um período de esplendor e glória vingou na grande cidade. Mas a situação começou a mudar em meados da década de 1960. A partir desse momento, a força do êxodo rural iria determinar nova dinâmica na crescente metrópole paulistana. Expulsa pela modernização do campo e atraída pela esperança do emprego, a pobreza rapidamente migrou para São Paulo. Surgia, então, o drama do abastecimento popular. Milhões de bocas para comer, a desgraça rondando a cidade. Nada se passou fácil naquelas décadas de 1970 e 1980, período em que as políticas públicas cumpriram papel fundamental ao enfrentar o enorme desafio da alimentação familiar. Podia-se morar debaixo da ponte, mas de onde viria comida para saciar tanta necessidade? Qual o preço do arroz com feijão? Centros de comercialização e distribuição, como a Ceagesp, tornaram-se essenciais. Impulsionados foram os mercados regionais e as tradicionais feiras livres, surgiram as novidades dos sacolões e varejões. Cresceu o cinturão verde, lavraram-se as fantásticas hortas de Mogi das Cruzes, Ibiúna e alhures. Mais de longe vinham os cereais, a carne, ovos, leite, mandioca, laranja, cultivados por todo o interior. No começo, quase tudo dependia do estímulo governamental. Depois, progressivamente, a iniciativa privada assumiu seu papel. Ainda bem. Estudioso da matéria, o economista rural Eliseu Alves, da Embrapa, mostra que entre 1950 e 1990 a demanda de alimentos no Brasil cresceu 6% ao ano, exigindo e estimulando o crescimento da produção agrícola. Em excelente trabalho, intitulado Transformação da Agricultura Brasileira e a Pesquisa Agropecuária, comprova que o setor rural, como resultado dos investimentos tecnológicos, se capacitou para superar o crescimento populacional. Felizmente. Resumo da história: se a produção rural não tivesse correspondido, aprimorando-se para gerar os excedentes capazes de alimentar milhões, São Paulo estaria mais triste no seu 456º aniversário. Este é o presente que a metrópole ganha, de forma quase anônima, dos agricultores paulistas e brasileiros. Benjamin Franklin disse certa vez que, "se as cidades forem destruídas e os campos forem conservados, as cidades ressurgirão, mas se queimarem os campos e conservarem as cidades, estas não sobreviverão". Belo ensinamento.
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