Escrevi nesta coluna no início do ano passado, que 2009 tinha chegado com cara de poucos amigos. De fato, a tragédia climática que se abateu sobre o Oeste de Santa Catarina, chuvas pesadas, desmoronamento de morros e enchentes, surpreendeu e emocionou o país inteiro. Concomitantemente o Rio Grande do Sul, vizinho próximo, amargava uma estiagem que se prolongou por mais de 100 dias.
Pois 2010 chegou com cara mais feia ainda. As tragédias climáticas se repetiram agora com mais intensidade e abrangendo uma região geográfica significativamente maior – a região Sul e Sudoeste atingindo vários estados brasileiros com efeitos devastadores e ceifando vidas humanas.
São meros caprichos da natureza, dizem alguns, posto que fatos semelhantes ocorreram em outras épocas. Sim é verdade, mas não com a freqüência e intensidade de agora.
A imprensa de um modo geral tem dedicado um espaço importante informando sobre as conseqüências dessas tragédias. As emissoras de televisão têm despendido uma parte considerável do seu precioso tempo publicando imagens desoladoras resultantes de desmoronamento de morros, destruição de casas e estradas, enchentes, vendavais e o desespero das vítimas.
Tudo bem, isto ajuda a comover a população e estimular ações de ajuda comunitária às pessoas atingidas. Mas, fico apreensivo ao verificar que se consome um tempo precioso da programação para mostrar as conseqüências e quase nada desse mesmo tempo para discutir as verdadeiras causas subjacentes a esses fenômenos.
Parece que temas como aquecimento global, desmatamento criminoso da floresta amazônica, da mata atlântica e das cabeceiras e margens de rios e a expansão da agricultura predatória não prende a atenção dos telespectadores e, portanto, não aumenta os índices de audiência.
De fato, temas importantes relativos à preservação da natureza e equilíbrio ambiental são deixados assim “meio de ladinho” pela maioria das pessoas e só são lembrados quando a natureza reage.
“... temas importantes relativos a preservação da natureza e equilíbrio ambiental são deixados assim “meio de ladinho” pela maioria das pessoas e só são lembrados quando a natureza reage.”
Vamos a um exemplo. Pesquisadores já há alguns anos vêm chamando a atenção para os problemas de compactação do subsolo em função da agricultura intensiva que utiliza maquinário pesado em várias regiões do Rio Grande do Sul.
Demonstraram que uma determinada área de terra que no período de 24 horas era capaz de absorver 80mm de águas da chuva, hoje essa mesma área, no mesmo espaço de tempo, absorve apenas 8mm.
O restante da água fica na superfície ou escoa para os rios. Pois bem, esse trabalho de pesquisa foi literalmente ignorado por técnicos e produtores rurais. Nada foi feito para corrigir o problema.
Conseqüência: na região central deste estado, onde se planta arroz irrigado, os produtores estão contabilizando um prejuízo enorme: estima-se que um milhão de toneladas de arroz deixará de ser colhida porque a lavoura ficou submersa por um longo período.
O fato é que, de um modo geral, estamos agindo como se fôssemos a última geração na face da terra sem nos preocuparmos com o mundo que deixaremos para as próximas gerações.
É imperiosa uma tomada de posição firme e consciente no que se refere à preservação do meio ambiente, caso contrário as catástrofes climáticas se transformarão numa triste rotina.