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Scot Consultoria

Vilã ou solução?


Segunda-feira, 29 de março de 2010 - 14h31


Certamente voc j ouviu falar que no presta colocar plantas no quarto de dormir. Meia verdade. Durante a noite as plantas no crescem, apenas queimam energia em seu metabolismo, liberando CO2 (gs carbnico ou dixido de carbono) no ambiente. O fenmeno, porm, quase imperceptvel para os humanos. Tudo depende da fotossntese, processo que somente ocorre na presena do Sol. Por meio dela, ao contrrio dos animais, as plantas "respiram" CO2 e expelem oxignio. Os raios de luz penetram nos estmatos das folhas e, contando com gua e sais minerais, absorvidos pelas razes, provocam uma reao bioqumica capaz de transformar a energia solar em energia vital. Protenas e carboidratos assim se sintetizam nos tecidos vegetais, formando a base das cadeias alimentares. Ciclo do carbono. Compreender esse processo bsico da ecologia ajuda a entender certa polmica sobre as mudanas climticas. Pairam dvidas sobre a real participao da agropecuria na agenda. Alguns a colocam como vil do aquecimento global. Noutra vezes, o campo vira soluo na crise ambiental. Percebe-se muito palpite e pouca informao cientfica nesse assunto. Para comear, o bvio. Se a natureza fosse mantida selvagem, a civilizao humana no teria prosperado. O desmatamento ofereceu terras para a produo de alimentos e matrias-primas, exigidas crescentemente pela economia urbana. Necessria historicamente, a supresso de florestas virgens se esgotou e perdeu recentemente o apoio da sociedade. Hora de preservar. Nenhum eclogo discorda quanto ao efeito malfico do desflorestamento. Primeiro, na influncia sobre o regime de chuvas e a temperatura local. Segundo, no efeito deletrio sobre o solo virgem, podendo afetar o regime hdrico. Terceiro, na perda da biodiversidade, favorecendo o surgimento de pragas e doenas agrcolas. Tais impactos exigem, em compensao, boas prticas agrcolas. A questo se complica quando entram na conversa as emisses de CO2, gs considerado de efeito estufa. Sabe-se que molculas de carbono (C) formam a base da matria orgnica. Quando em combusto, reagindo com o oxignio do ar, forma o CO2. Concentrando-se na atmosfera, o gs carbnico anda virando componente do mal. Opinio unnime reconhece que a queima de petrleo e carvo mineral libera grandes quantidades de CO2. A crescente utilizao dessa energia fssil acumulada durante milhes de anos nas jazidas profundas devolve atmosfera o carbono ento adormecido, provocando o aquecimento do planeta. B--b climtico. Mas, no caso das emisses oriundas da agropecuria, imperam controvrsias. As lavouras e as pastagens se renovam constantemente, desde o plantio at a colheita. Nesse ciclo, as plantas absorvem carbono da atmosfera, crescem, frutificam e, depois, o liberam por meio das atividades humanas (digesto, por exemplo) ou na degradao natural. Esse princpio de raciocnio explica por que, na metodologia internacional dos inventrios ambientais, se consideram neutras as emisses provocadas pela queima de combustvel renovvel, como o etanol. O carbono presente no lcool carburante pressupe que o canavial o tenha anteriormente sugado via fotossntese. Estabelece-se, assim, um ciclo de absoro e liberao de molculas de carbono, cuja conta final resulta zero. Alguns cientistas e ambientalistas, preocupados com o terrvel fenmeno do aquecimento da Terra, tendem a rotular o CO2 como um gs poluente. Ora, isso soa como heresia para os pesquisadores com formao biolgica. Afinal, para os agrnomos o CO2 significa o gs da vida vegetal e, indiretamente, de toda a vida animal, incluindo, obviamente, o homem. Percebam a enrascada terica! No caso da zootecnia, que responde pela produo animal, o problema advm das emisses de gs metano, gerado na ruminao dos bovinos. Provocadas pela fermentao entrica, aquela que ocorre no estmago dos bichos, o gs metano se supe bem mais pernicioso ao aquecimento do planeta que o CO2. Aqui tambm pairam divergncias. Alguns estudiosos andam desconfiados de que o efeito estufa do metano seja bem menor do que teoricamente se supe. Calcula-se algo ao redor de, apenas, 6 vezes o poder do CO2. A diferena brutal com relao ao nmero - 21 vezes - suposto at ento. Mas o principal argumento de alvio para a pecuria parte do princpio de que o metano surge do pasto que o gado antes devorou. Ou seja, o boi - ou sua senhora vaca - no inventa molculas de carbono, mas sim as engole da gramnea que lhe serviu de comida. A pastagem, por sua vez, somente pode crescer em razo da fotossntese que previamente realizou. Resultado nulo para o aquecimento global. Concluso: seja devida ao menor impacto do metano, seja por uma razo de princpio bioqumico, a influncia da criao de gado na equao climtica reduz-se fortemente. Excelente notcia para as pessoas que comem carne, principalmente as famlias e os pases mais carentes. Podem mastigar sem remorso. O Instituto Florestal acaba de divulgar seu novo inventrio da vegetao nativa em So Paulo. Estima-se que, nos ltimos sete anos, tenha havido uma recomposio vegetal de 95 mil hectares no territrio paulista. Representam matas ainda jovens, que esto crescendo e absorvendo carbono do ar, acumulando-o nos tecidos vegetais. Daqui a 50 anos, essa recuperao florestal ter retirado da atmosfera, via fotossntese, 28 milhes de toneladas de CO2. Equivalem s emisses de 8 milhes de nibus a diesel rodando mil km por ms durante um ano inteiro. fantstico. Efeito estufa ao contrrio. Problemas existem. Mas certamente a agropecuria sustentvel faz parte da soluo.
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