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Scot Consultoria

Rússia em foco


Segunda-feira, 17 de maio de 2010 - 15h18

Engenheira Agrônoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.


Ana Paula Ribeiro, graduanda em Engenharia Agronômica ESALQ/USP e estagiária da Boviplan Consultoria Agropecuária. Nos últimos tempos, a Rússia está no centro das atenções do mercado de carne, sendo com notícias positivas ou nem tanto, porém, quase que diariamente a vemos citada nos jornais. Atualmente, o Brasil é o maior exportador de carne bovina mundial, com uma participação de cerca de 30% no mercado internacional, situação que colabora de forma direta com o saldo positivo da balança comercial brasileira. O maior importador de nossa carne in natura é a Rússia, importando por volta de 25% do total exportado. No entanto, a Rússia, que é uma grande importadora de produtos agropecuários, está com planos estratégicos para diminuir a sua dependência de importação de alimentos, o que pode afetar o comércio com o Brasil. Hoje em dia, as importações de carne naquele país correspondem a 90% da oferta total que os restaurantes, hotéis e algumas cadeias de varejo demandam. O segmento mais barato é praticamente dominado pelos países da América Latina, enquanto as carnes de melhor qualidade são importadas dos Estados Unidos e Austrália. Em 2008 viu-se que dentre os produtos que o Brasil exporta para Rússia 30,7% são carnes desossadas de bovino congeladas; 13,2% de outras carnes de suínos congeladas; 2,4% de carcaças e meias-carcaças de suínos congelados; 5,2% são pedaços e miudezas comestíveis de galos/galinhas congeladas; ainda na área de alimentos, 24,4% de açúcar de cana bruto; 1,5% de café solúvel e outros produtos. Quanto a cotas de importação da carne, a Rússia quer redistribuí-las a favor do Brasil, Argentina e outros países latino-americanos, reduzindo a oferta de carnes de países, como os Estados Unidos. Mesmo assim, os países latinos possuem muitas restrições relacionadas às taxas aduaneiras. Além disto, a Argentina reduziu suas exportações de carne devido à escassez no mercado interno. A necessidade de importação de carne por parte da Rússia advém do seu elevado custo e também dos baixos volumes de produção, diminuindo a sua competitividade. A fim de melhorar a situação, o governo russo decidiu aumentar os direitos aduaneiros esperando estimular o desenvolvimento das fazendas de gado russas. Em paralelo, investe na pecuária local de forma mais direta. Nos últimos anos, a Rússia importou mais de 150 mil reprodutores bovinos, a fim de melhorar a genética do rebanho nacional. A compra de reprodutores é realizada em países da Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália e devem continuar como parte do programa nacional que objetiva reduzir a dependência das importações de carne. Outro exemplo da movimentação da Rússia para diminuir sua dependência está na contínua redução de cotas de importação de carne, podendo ser vista num recuo de 12% ocorrido do mês março em relação a fevereiro de 2010. Se ultimamente a Rússia anda perdendo terreno nas importações de carne brasileira, quem também está se destacando é o Irã, que teve grande crescimento entre os países árabes importadores do Brasil, se tornando o segundo maior importador de carne brasileira. Já em março, dividiu o primeiro lugar com a Rússia, sendo que cada um dos países importou 23% da carne brasileira. Por outro lado, o governo russo não está atingindo as metas de desenvolvimento da produção bovina nacional, exemplo disto está no fato de não ter conseguido atingir a taxa de crescimento prevista de 5,1%. Em 2010, a previsão é mais realista, contando que a produção pecuária continuará a crescer, porém, prevendo uma queda de 1,2%, com uma dinâmica menor do que a esperada. No fim do mês passado a Rússia anunciou que voltará a importar carne bovina da União Européia. Por causa da epidemia de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), a UE não exportava carne para Rússia há nove anos. As carnes virão da Espanha, Irlanda, Alemanha, Itália, França, dentre outros países. A Rússia integra, juntamente com o Brasil, o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), caracterizado por uma forte junção entre países que dividem interesses em comum, principalmente nos aspectos econômicos e de desenvolvimento. Porém, os países estão se reunindo freqüentemente para encontrar caminhos e, em esforço conjunto, tomar decisões concretas que lhes trarão força internacional, inclusive está agendada uma visita do Presidente Lula em maio a Moscou, viagem que pode trazer novidades sobre o comércio de carne bovina entre os dois países. É fato reconhecido pelos entendidos em pecuária, no país, de que o setor de transformação evoluiu muito nos últimos anos, principalmente pela profissionalização da gestão das empresas. Mas, parece que este elo da cadeia não andou fazendo o “dever de casa”. Independente do Brasil melhorar a quantidade de volume exportado de carne para a Rússia ou mesmo manter o patamar atual, devemos ter em mente que esta não é uma estratégia sustentável. No início do crescimento de exportações de carne brasileira, o volume exportado era menos concentrado, ter cerca de 46% de sua exportação direcionada apenas para dois países é um erro que pode custar caro no futuro e para todos os elos da cadeia. Bibliografia: -Meat international, notícias sobre o mundo, disponível em http://www.meatinternational.com/news/, acesso no mês de abril. -Produção de carne bovina em 2010, disponível em http://www.nelorems.org/noticias/ver/813/producao-de-carne-bovina-deve-cair-em-2010.html, acesso em 5 de março de 2010. -Guia do exportador, disponível em http://www.global21.com.br/guiadoexportador/russia.asp , acesso em 12 de maio de 2010. -Dados estatísticos da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC). -Rússia retoma importações de carne bovina da União Européia, disponível em http://www.beefpoint.com.br/?noticiaID=62649&actA=7&areaID=15&secaoID=166, acesso em 12 de maio de 2010. -Exportações de carne bovina in natura recuam em março, disponível em http://www.scotconsultoria.com.br/noticia.asp?idN=6676, acesso em 22 abril.
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