Engenheiro agrônomo, doutor em produção animal e pesquisador científico/APTA Colina-SP.
A alimentao o item que mais pesa no custo de produo do leite, variando de 40% a 60% do custo total. As exigncias de mercado fizeram com que surgisse a demanda por novas tecnologias, visando o aumento de produtividade e, principalmente, a reduo dos custos de produo do leite.
Essa evoluo tem exigido do produtor a procura de alimentos alternativos, que possam melhorar as caractersticas qualitativas do leite a preos compatveis do produto final, de tal forma que um dos grandes desafios da atividade leiteira, atualmente, a eficiente produo de leite saudvel, atravs de um sistema de produo calcado na conciliao de alguns fatores, como bons ndices zootcnicos com rentabilidade econmica, que remunere o capital investido e que possibilite ao produtor expandir seu negcio.
Dentre os diversos alimentos alternativos disponveis no mercado, com bom potencial para incluso em dietas de vacas leiteiras, podemos destacar o caroo de algodo, que se apresenta como alimento complementar, pois tem em sua composio 19,3% de extrato etreo (EE), 23,5% de protena bruta (PB), 77% de nutrientes digestveis totais (NDT) e 50,3% de fibra em detergente neutro (FDN) (NRC, 2001).
J a composio nutricional em anlises realizadas no Brasil, apresentadas na tabela 1, verifica-se grande variao, sendo necessrias correes nas dietas de vacas leiteiras mediante anlises peridicas do produto. Alm disso, a efetividade da FDN do lnter do caroo de algodo equivalente efetividade do feno de alfafa, podendo-se inferir que fonte de fibra adequada para manter a porcentagem da gordura do leite.
Assim, o caroo de algodo apresenta-se como alternativa para substituir parte, tanto do volumoso quanto do concentrado, em dietas de vacas em lactao. A protena do caroo de algodo apresenta lenta degradabilidade, e o tempo de permanncia no rmen maior (caroo com lnter).
Esta caracterstica pode ser vantajosa para a otimizao da sntese de protena microbiana, ou seja, em associao com fontes energticas de lenta degradabilidade (casca de soja, milho modo, etc.) possibilita a sincronizao da liberao de amnia (degradao da protena) e da cadeia de carbono (degradao da fibra), de forma mais homognea ao decorrer do perodo.
O limite de incluso de caroo de algodo na dieta de vacas de 2 a 4kg de MS/vaca/dia. Os limites de incluso esto relacionados ao seu alto contedo de gordura (18 a 20% da MS) e ao uso de outros alimentos ricos em gordura na dieta. O limite de incluso de caroo de algodo na dieta de vacas de 2 a 4kg de MS/vaca/dia.
recomendado no fornecer mais do que 700 g/vaca/dia de leo proveniente de fontes vegetais ricas em leo. Quando o caroo de algodo usado nas dietas substituindo gros, ocorre a diminuio do contedo de CNF (carboidratos no fibrosos na dieta), e consequentemente, diminuio da quantidade de carboidratos fermentados no rmen.
Vale ressaltar que, apesar de sua qualidade, ocorre no caroo de algodo um fator anti-nutricional, chamado gossipol. O teor de gossipol livre (GL) varia, conforme o cultivar, de 0,5 a 1,0% na MS. Cultivares resistentes a pragas geralmente tem maior teor de gossipol. Em pequenas quantidades, o GL incuo, porm, quando fornecido em grande quantidade e por tempo prolongado, pode provocar leses cardacas e hepticas, principalmente em animais jovens.
Se a intoxicao se manifestar, o tratamento difcil. Mesmo que o animal sobreviva, provavelmente ter que ser descartado quando alcanar a idade adulta, porque ficar com sua capacidade de produo comprometida. Portanto, o caroo de algodo no deve ser fornecido para bezerros e outras categorias de animais em crescimento, at alcanarem a idade de reproduo.
Tambm no se deve fornecer o caroo de algodo para reprodutores (touros, bodes, carneiros, bfalos, etc.), que podem passar a apresentar problemas reprodutivos. Portanto, o caroo de algodo indicado, principalmente, para fmeas adultas e machos em fase de terminao para abate.
O caroo de boa qualidade deve ser firme e fazer um barulho caracterstico quando chacoalhado. Ele deve se apresentar sem cheiro, limpo, livre de substncias estranhas e com colorao variando do cinza-claro ao branco.
Quando o caroo colhido e armazenado muito mido, pode apresentar aquecimento excessivo, tornando-se escuro, o que geralmente indica prejuzo da qualidade, pela diminuio da digestibilidade da protena e pela rancificao (oxidao da gordura em cidos graxos pouco palatveis).
Alm disso, pode ocorrer o aparecimento de fungos e de micotoxinas, inclusive a aflatoxina. Se a presena de aflatoxina for superior a 20 ppb (partes por bilho), o caroo no deve ser fornecido aos animais (BUTOLO, 2002).
Na propriedade rural, o caroo deve ser armazenado sobre estrados, em local seco, bem ventilado e protegido da luz solar direta. Deve-se evitar formar pilhas muito grandes e a temperatura do caroo estocado deve permanecer baixa. O teor de umidade deve ser acompanhado frequentemente, passando o caroo pelo secador sempre que o teor de umidade for superior a 10%.
Na propriedade que no dispe de secador ou de uma boa estrutura de armazenamento, deve-se evitar estocar o caroo por muito tempo. A maior parte do caroo de algodo utilizado na alimentao animal fornecida na forma natural, sem nenhum tipo de processamento. A moagem do caroo de algodo tem pouco efeito no local e extenso da digesto da maioria dos nutrientes e na produo de leite, quando fornecido para vacas em produo.
Os dados de pesquisas disponveis no suportam qualquer benefcio na moagem do caroo de algodo com lnter. No entanto, a moagem aumenta o valor energtico do caroo de algodo sem lnter. Mesmo que as caractersticas qumicas do caroo de algodo sem lnter sugiram um maior valor energtico em relao s sementes com lnter, com base nos dados de digestibilidade, sementes com lnter possuem aproximadamente 10% a mais energia disponvel que sementes sem lnter, quando fornecidas na forma intacta a vacas em lactao.
O principal efeito do caroo de algodo na dieta de vacas leiteiras consiste no aumento da porcentagem de gordura do leite na ordem de 0,2 a 0,3 unidades percentuais. Vrios fatores ocorrem para esse efeito, destacando-se a digesto da celulose presente no lnter, aumentando a concentrao de cido actico utilizado na sntese de gordura do leite.
QUANDO COMPENSA USAR O CAROO DE ALGODO NA DIETA DE VACAS LEITEIRAS?
O preo do caroo de algodo pode ser comparado com o do milho (concentrado energtico) e do farelo de soja (concentrado protico), atravs da seguinte equao:
Caroo de algodo, R$/t = (0,915M + 0,381F) x %MS
Onde M = preo do milho em gro (R$/t) e F = preo do farelo de soja (R$/t).
Por exemplo, em maio de 2010, segundo levantamento da Scot Consultoria para o estado de So Paulo, a cotao do milho estava em R$267,00/t e o farelo de soja custava R$490,00/t (na base natural). Ento o preo de oportunidade do caroo de algodo ser de R$483,31/t de matria natural. Se o teor de matria seca do caroo for de 92%, o preo de oportunidade corrigido ser de R$444,65/t.
Quando o preo de mercado estiver abaixo do preo de oportunidade, ser vantajoso adquirir o caroo de algodo. Se o preo de mercado for maior, ento ser prefervel utilizar milho e farelo de soja como fontes de energia e protena na dieta de vacas leiteiras.
Neste sentido, para que o produtor de leite consiga reduo dos custos operacionais na alimentao dos animais, o mesmo dever realizar a aquisio das matrias primas em pocas do ano onde a oferta dos insumos bastante alta e, conseqentemente, os custos sero menores.
Tanto melhor a rao quanto maior o nmero de ingredientes e maior a capacidade de adquirir componentes certificados e baratos. A homogeneidade dos subprodutos outra questo delicada, pois seus teores variam muito.
O caroo de boa qualidade deve ser firme e fazer um barulho caracterstico quando chacoalhado. Ele deve se apresentar sem cheiro, limpo, livre de substncias estranhas e com colorao variando do cinza-claro ao branco.
O caroo de algodo, por exemplo, se estiver muito mido, apresenta problemas de armazenagem. Com tudo isso, o proprietrio rural tem que pensar que quando opta por formular raes na fazenda sua responsabilidade aumenta.
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