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Scot Consultoria

Os dois lados do PIB brasileiro


Segunda-feira, 14 de junho de 2010 - 14h43

Economista, especialista em engenharia econômica, mestre em comunicação com a dissertação “jornalismo econômico” e doutorando em economia.


Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstram que o Brasil apresentou excelente desempenho econômico no primeiro trimestre deste ano: crescimento do Produto Interno Bruto de 9% sobre idêntico período de 2009. Tomando como base o trimestre anterior o crescimento foi de 2,7%, o que projeta um crescimento na ordem de 6% para este ano. Os números que medem a geração de riqueza no país têm dois lados: bom e ruim. Crescer 9% não é pouca coisa, portanto, tem que ser comemorado. Este patamar é inferior a poucos países no mundo entre eles a China (crescimento de 11,9%). O país ficou na sexta posição entre os países que mais cresceram no período. Ficamos a frente inclusive da índia que cresceu 8,6%. Além disso, a indústria de transformação cresceu 17,2%, o comércio 15,2%, a construção civil 14,9% e a indústria extrativa 13,6%. Outro aspecto positivo é a retomada dos investimentos, notadamente no setor industrial. A expansão foi de 26%. É a maior alta desde 1995. O desempenho robusto demonstra que o Brasil se recuperou da recente crise internacional e de sobra retomou fortemente o nível da atividade econômica. Mas nem tudo são flores. Primeiramente devemos considerar a precária base de comparação, ou seja, os números atuais são comparados ao desempenho pífio da economia nacional do ano passado. Evidentemente que por este motivo os números atuais se potencializam. Outro aspecto relevante, que nos remete a analisar o desempenho do PIB com cautela, é o fato que alguns setores tiveram excelente desempenho a partir de subsídios governamentais, como foi o caso do setor automotivo que teve na redução do IPI o que permitiu produzir e vender veículos “como nunca antes visto neste país”, como gosta de dizer o presidente Lula. Daqui para frente serão praticados preços normais, o que reduzem as vendas. Sem expandir a poupança interna, que se situa na casa dos 15,8% do PIB, portanto sem recursos para investimentos, haverá desequilíbrio entre a oferta e demanda no mercado, cujo efeito colateral já sabemos: inflação. Só para exemplificar, a poupança na China é na ordem de 30% do PIB. Para “segurar” a demanda o caminho será apertar a política monetária, com elevação dos juros básicos, aumento do compulsório bancário e outras restrições ao crédito. Isso tudo sem falar do baixo investimento em infraestrutura, como energia, portos, aeroportos, estradas, armazéns, entre outros. São gargalos que não permitem a manutenção de um ritmo acelerado de crescimento da economia. Se é importante comemorar o bom desempenho do PIB brasileiro no primeiro trimestre, não é menos importante ter um olhar mais técnico e pé no chão, evitando entre outras coisas, uma euforia que pode se transformar em frustração. A análise do PIB tem seus dois lados.
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