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Scot Consultoria

Câmara do Boi Gordo


Segunda-feira, 29 de novembro de 2010 - 10h56

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Você pode achar que sei alguma coisa sobre mercado. Sei nada, caro leitor. É que estou a tanto tempo olhando diariamente isso daí que a gente acaba pegando um pouco da manha da coisa. Mas isso não quer dizer nada. Cada ano que passa a gente aprende mais um pouquinho e dá uma espiada na montanha do desconhecido que se avoluma à nossa frente. O que vou aprendendo, e o que vou me sentindo seguro, vou aos poucos passando para vocês. Mas existem as tais fronteiras no conhecimento e são essas fronteiras, o desconhecido, o não dominado, que me despertam a curiosidade. Por exemplo, este ano tenho aplicado muita estatística sobre a pecuária. É bom demais quando a gente descobre um comportamento, um tipo de rigor estatístico que não sabíamos que existia, principalmente no boi. Ou melhor, imaginávamos, porém não detínhamos o conhecimento de como chegar até essas confirmações. Os resultados tem sido surpreendentes. Então, rigor estatístico sobre a pecuária é a minha fronteira atual. Ainda estou com uma lanterna fraca dentro de um quarto escuro ansiosamente procurando o interruptor. Depois de vários testes que ainda vou fazer, daqui a um tempo provavelmente estarei mais seguro a compartilhar esse conhecimento com vocês. Mas como sei onde tenho que procurar? Como sei qual caminho tomar? Qual direção seguir? Se eu soubesse, contaria para você. Na verdade, não sei, mas leio demais sobre mercado de um modo geral, então aos poucos a gente vai pegando o que um diz aqui, o que outro diz ali; uma análise, uma abordagem que faz sentido, que poderia ser aplicada para a pecuária... Acho que é por aí o caminho. Não é intencional o que vamos achar, mas ao mesmo tempo é intencional, pois é uma busca em campo aberto para melhorar o conhecimento sobre pecuária. Aliás, isso nos leva a um debate interessante. Opiniões qualquer um pode ter sobre o mercado. Isso é fácil. O difícil é provar as opiniões. O difícil é mostrar causas vs. Consequências para as coisas. Vai por mim. Assim como você, tenho inúmeras opiniões sobre a pecuária. São formadas pelo o que leio, converso ou reflito. Descarto na raiz a maioria delas por não conseguir provar que elas de fato são válidas. Um exemplo prático está aqui na Carta Pecuária. Leitores me mandam opiniões, mas não enviam junto a prova de como chegaram nelas. Então, vai aí a dica. Se você quer que sua opinião seja respeitada, ou até mesmo aceita e publicada aqui, pois faço o maior gosto de publicar aqui opiniões, prove por A+B seu raciocínio e indique suas fontes de informação. Agora, você pode se perguntar qual o motivo que nos leva a percorrer o caminho mais difícil e assumir uma posição de aprendizado, ao invés de simplesmente ser um usuário do conhecimento. É simples. No final, quero saber se a arroba em dado momento está cara ou barata. Tenho três formas complementares de chegar a essa resposta. A primeira é olhando o nosso próprio negócio, ou seja, a rentabilidade de nossa engorda. É onde o bicho pega. Quanto você ganhou ou perdeu na atividade? É isso daí que coloca a comida na mesa. Para nós, a rentabilidade é vinculada a duas outras coisas. Primeiro, ela é vinculada à reposição. Percebe que a reposição está vinculada intimamente com a rentabilidade? Com 10 reais você consegue comprar duas bananas. Se conseguir comprar 3 bananas, não é melhor? Você parte com o jogo já meio ganho. A reposição é o maior custo do invernista, então é onde deve estar em primeiro lugar a atenção, mas sem perder o foco do custo de engorda, que é vital. Acontece que se você não for inventar de asfaltar a sua fazenda, nem pintar de branco com pontinhas azuis todas as cercas e nem contratar manicure para fazer os cascos dos seus animais, ou seja, se você não desviar dinheiro de boi para algo que não seja diretamente ligado ao boi — ao aumento da produção, uma forma de fazer mais rápido o que se fazia antes, ou a uma forma de substituição que faça o seu gasto cair, o seu custo é mais ou menos parecido com o meu. Isso quer dizer que, se for isso, se você não inventar moda dentro da fazenda, é provável que o seu preço de compra da reposição seja mais importante que seu custo de produção, assim como o meu é. Então é por essa razão que é super importante saber da onde vem os preços da reposição, porque eles sobem ou descem, e qual será o momento certo de agir ou esperar. É por isso que a gente acompanha a taxa de reposição e o abate/retenção de fêmeas e acompanha o mercado futuro. Para nos anteciparmos ou, sendo menos pretensioso, para nos prepararmos para os baques ou oportunidades que virão no futuro. Em se tratando de commodities, onde não existe diferenciação por qualidade, o lucro da operação só é atingido pelo volume produzido ou, se não tiver volume, pela correta leitura do timming de compra de matéria prima. Em terceiro lugar, não adianta nada comprar bem, ter custos razoavelmente dentro de um bom-senso e, no final, não conseguir vender bem seus animais. E essa é razão do estudo que fazemos de mercado, e é o motivo do aprendizado que comentei no início. Tudo é feito no intuito de conseguir comercializar melhor o gado. Aqui também o mercado futuro e, mais ainda, o mercado de opções são fatores importantes. Então, vê como é simples? Comprar bem, ter um bom-senso de custos, vender bem. É simples, mas não é simplório. Não é fácil agir com simplicidade no dia-a-dia. Se fosse fácil todo mundo já estaria rico com boi. Basta olhar para o lado e ver que isso não é verdade. Essa semana fui ao almoço da Câmara do Boi Gordo da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros, a nossa BVMF, onde são negociados os contratos futuros do boi gordo. O almoço era para a posse dos membros da câmara, à qual fui convidado a tomar posse como membro para esses próximos dois anos. É na câmara que são discutidos os contratos futuros, sua forma de negociação. É lá que é discutido o indicador Esalq/BVMF. São sugeridas alterações, são feitos comentários. É lá na Câmara do Boi, como disse um dos membros, que é lavada a roupa suja, no bom sentido; é lá que se discute o mercado futuro de boi gordo no Brasil. Então, caro leitor, fico feliz em avisar para vocês que seu editor foi convidado e aceitou ser membro da Câmara do Boi da BVMF. Vamos ajudar a melhorar esse mercado e, na medida do possível, contribuir para o aumento no volume de contratos negociados na bolsa. É lá que, a meu ver, está uma das excelentes alternativas de se trabalhar a pecuária de forma mais profissional e melhorar a lucratividade do negócio. É lá que, se for feito direitinho, desembocará boa parte das estratégias que comentamos acima, tanto na compra de reposição, quanto na venda de boi gordo/vaca gorda.
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