Abiec esteve presente na COP 16, a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, realizada em novembro passado em Cancún, no México.
Não se aprovou nenhum acordo obrigatório que substituísse o Protocolo de Kyoto, onde países assumissem metas da redução de emissões. Não se sabe quanto os países ricos terão que doar a um Fundo para ajudar os mais pobres a se adaptarem às mudanças climáticas. Também não sabemos como funcionará o REDD, o mecanismo que permite compensações a países em desenvolvimento para evitar o desmatamento.
Mas apesar de todas as incertezas, a conferência teve um desfecho melhor do que esperavam os pessimistas. Isso porque apesar da falta de compromissos vinculantes, todos os países, com exceção da Bolívia – que acha que não se deve comercializar a natureza –, admitiram continuar as discussões nestes três tópicos mais relevantes com a perspectiva de concluir um acordo até a COP 17, em Durban, na África do Sul.
O Brasil, particularmente, apareceu em Cancún como uma potência ambiental por ter cumprido suas metas voluntárias de redução de emissões antes mesmo que países desenvolvidos o fizessem. Na COP 15, em Copenhague, o presidente Lula havia prometido uma redução de 36% a 38% nas emissões brasileiras de gases de efeito estufa entre 2005 e 2020, sendo que grande parte desta meta viria por meio da redução do desmatamento na Amazônia.
Ora, segundo os dados oficiais do Inpe, as taxas de desmatamento da Amazônia vêm caindo seguidamente desde 2004, e em 2010 atingiram uma baixa recorde.
A queda se deve a uma melhor fiscalização e controle estatal, mas também a iniciativas de setores como o da soja e da indústria da carne, que assinaram moratórias de desmatamento em suas cadeias de fornecimento.
Os três maiores frigoríficos do País estão com seus fornecedores georreferenciados e monitorados, em um claro sinal à sociedade de que um novo tempo está chegando para a pecuária e a carne brasileira.
De fato, o Brasil pode com certeza despontar como uma potência ambiental capaz de conciliar produção e preservação como nenhum outro no mundo, e a pecuária é parte essencial deste processo.
Por isso, a Abiec trouxe de Cancún um novo conceito a ser trabalhado na pecuária brasileira. Entre 31 de outubro e 5 de novembro do ano passado, em Haia, na Holanda, a FAO organizou a Conferência Global sobre Agricultura, Segurança Alimentar e Mudanças Climáticas.
Na ocasião, foi cunhado o termo Climate Smart Agriculture, ou Agricultura Clima-Inteligente, um conceito repetido e divulgado em Cancún.
E o que é Climate Smart Agriculture para a FAO? É a agricultura que aumenta de forma sustentável sua produtividade e também sua resistência às mudanças climáticas, e ao mesmo tempo contribui para a mitigação de emissões e para a segurança alimentar e objetivos de desenvolvimento de seus países.
A pecuária tem sido vista e divulgada como uma vilã do meio ambiente e do clima. Esta história precisa ser revertida. Podemos mostrar ao mundo que a nossa pecuária também é clima-inteligente, que o Brasil é o país do Climate Smart Livestock.
O Brasil tornou-se o maior exportador de carne do mundo, garantindo não só a sua segurança alimentar como também a de outros países, a maior parte deles em desenvolvimento. A indústria da carne e a pecuária também contribuem para o desenvolvimento do País, com US$ 5 bilhões de divisas em exportações e a geração de 8 milhões de empregos.
Ao mesmo tempo, a pecuária, em vez de ocupar novas áreas, tem liberado áreas para a agricultura, evitando assim desmatamentos, emissões por queimadas e a perda de biodiversidade. Ao se intensificar, a pecuária também reduz suas próprias emissões, pois se torna mais eficiente. Somente entre 1988 e 2007, o Brasil reduziu as emissões de metano por kg de carne produzida em 29%, uma redução maior do que a de qualquer outro país produtor.
Também ao se intensificar, a pecuária transforma solos em estoques de carbono por um melhor manejo de pastagens. E quanto às mudanças climáticas, nenhum país pode se adaptar melhor ao calor do que o Brasil, com a melhor genética zebuína do mundo e tecnologia em suplementação animal na seca, com a real possibilidade de integração com agricultura e florestas plantadas em sistemas agrosilvopastoris.
Nossa pecuária já é Clima-Inteligente. No entanto, esta história não é contada, o que precisa ser mudado com urgência, pois uma burocracia, depois de criada, dificilmente poderá ser desfeita, uma vez que acaba se autoalimentando. As COPs, suas resoluções e seus reflexos nacionais como a Política Nacional de Mudanças Climáticas nos farão conviver, em um futuro próximo, com inventários de carbono, metas de emissões, ecotaxas, barreiras reais e imaginárias à carne e à pecuária.
Devemos recontar essa história e mostrar que, longe de ser a vilã, a pecuária é, na verdade, a grande aliada que o Brasil tem para liderar o mundo como potência ambiental.
Fonte:
Revista Nacional da Carne
<< Notícia Anterior
Próxima Notícia >>