Com o fechamento das contas de 2010 começam a vir a público o desempenho do país em várias frentes. Houve avanços na era Lula em seus oito anos de poder. Esses avanços foram valorizados pela população ao ponto de o ex-presidente ter conseguido fazer sua sucessora. É uma leitura importante e não se pode tirar o mérito.
Entretanto, nem tudo são flores. Alertamos inúmeras vezes sobre alguns pontos vulneráveis na condução da política econômica do país. As contas externas e o dáficit nas contas públicas são dois exemplos.
Vamos ao primeiro ato do que denominamos de “heranças” da era Lula: as contas externas.
O saldo de transações correntes ficou negativo em US$47,5 bilhões. O dobro de 2009 e o maior desde 1947. Esse valor é apurado somando-se os saldos da balança comercial (registro de exportações e importações), da balança de serviços (juros, dividendos, fretes, viagens internacionais, etc.) e as transferências unilaterais (remessas de recursos de brasileiros residentes no exterior, por exemplo).
Com um Real valorizado o saldo comercial caiu. As exportações não cresceram como deviam e as importações se potencializaram, puxadas, além do câmbio, também pelo aumento do consumo interno. Resultado desta combinação: queda de 20% no saldo comercial, se comparado a 2009.
Na balança de serviços as saídas se deram por várias frentes. Gastos com viagens internacionais, remessas de lucros e dividendos, pagamento de aluguel de equipamentos, como guindastes e plataformas de petróleo, pagamento de juros, fretes, são alguns exemplos.
Como as transferências unilaterais não possuem grande significado em termos de valor, ao reduzir o saldo comercial e apurar um rombo na balança de serviços, o deficit em transações correntes foi inevitável. As contas externas se salvaram com a balança de capitais. Pagando a maior taxa de juros do mundo o Brasil apresenta forte atração ao capital especulativo. Além disso, os investimentos diretos, para o setor produtivo, foram expressivos: US$48,4 bilhões, sendo o Brasil o sexto país no ranking do destino dos investimentos estrangeiros.
O desafio quanto à taxa de câmbio ainda continua. Mesmo o atual governo atuando no sentido de desvalorizar o Real, pouca coisa tem conseguido, sendo que a projeção aponta para um rombo na ordem de US$50 bilhões em transações correntes para este ano, ou seja, reproduzirá o péssimo desempenho de 2010. Além do câmbio o país precisa melhorar sua pauta de exportação, implementar uma política de substituição de importações e ganhar em competitividade internacional. É preciso obter ganhos em produtividade e reduzir o custo Brasil.
Heranças podem vir para o bem ou para o mau, mas uma coisa é certa, devem ser assimiladas e, quando for para o mau, devidamente equacionadas.
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