A produção sustentável é o grande mote do momento. A sociedade não só exige produtos seguros, como também gostaria de consumir produtos que estejam em sintonia com o desenvolvimento sustentável, em especial os consumidores externos, mercado no qual o Brasil quer cada vez mais aumentar sua participação.
Quando se fala em produção sustentável não se objetiva apenas um produto que respeite o meio ambiente e que promova a equidade social, a eficiência econômica também faz parte das premissas do desenvolvimento sustentável. A competência econômica pode ser obtida tanto pelo aumento da escala, como pelo aumento de produtividade, desde que ambos também venham acompanhados de margens maiores. Para se obter produtividade em sistemas a pasto é preciso utilizar pastagens que não só suportem boas lotações, mas que também sejam longevas, ou seja, sustentáveis.
O maior problema das pastagens brasileiras é o elevado estado de degradação, empreendido pelo manejo ineficiente, seja pela carência na reposição dos nutrientes ao solo ou pelo erro na definição da melhor pressão de pastejo. A degradação está tão arraigada entre os produtores, que muitos nem se dão conta que o custo de reforma é uma das principais contas de seu fluxo de caixa, algo que poderia ser profissionalmente retirado do mesmo, já que a maioria das gramíneas utilizada em nosso país é de ciclo perene. O bom pecuarista é aquele que entende muito de capim, não o que entende muito de gado.
Não bastando a forma amadora como muitos produtores atuam no manejo das pastagens, a escolha pelo monocultivo já mostra há anos, que não é um bom caminho. Trata-se de um conceito que recebe ampla alerta no ensino secundário e superior em ciências agrárias, e que evidentemente, muito já foi criticado em eventos técnicos pelo país afora. Desde 1995, a questão da Síndrome da Morte da Braquiária, também conhecida como “Morte do Marandú” é notícia entre os pecuaristas da região norte do país, e mais recentemente também aflige alguns na região centro-oeste do Brasil.
Curiosamente, apesar de diversos pesquisadores já terem se empenhado em desvendar o problema da “Morte da Braquiária”, a grande maioria ainda se mostra reservada no momento de definir as causas de forma definitiva. O que se sabe é que o excesso de umidade enfraquece as plantas e, assim, microrganismos oportunistas se incumbem de realizar o “nocaute”. A solução até o momento é a troca do Braquiarão por outra gramínea, em geral do gênero Panicum, Grama Estrela ou Brachiaria humidícola.
Contudo, todas as opções citadas não só possuem ciclos de crescimento diferentes do Braquiarão, como a maioria, com exceção da B. humidícola, são mais exigentes em fertilidade do que o capim que se quer substituir. Esta não similaridade significa que o mesmo modelo de produção utilizado anteriormente não poderá ser repetido. No caso do Panicum, o que se conseguirá na verdade será um aumento entre o diferencial que é produzido no período chuvoso e na seca, já que esta opção de gramínea sofre mais com a estacionalidade de chuvas do que o Braquiarão.
Um dos fatores que levam à “Morte da Braquiária”, segundo os pesquisadores é o ataque das cigarrinhas das pastagens, praga que também enfraquece consideravelmente o Braquiarão, e em menor escala, também já vem causando sérios problemas nas últimas espécies de Panicum comercializadas no mercado, como o Mombaça e a Tanzânia. Cigarrinhas do gênero Mahanarva, comuns na região norte do país, são as responsáveis por causar danos consideráveis em gramíneas tidas, anteriormente, como “resistentes” ao ataque de cigarrinhas das pastagens. Outro monocultivo fadado ao insucesso, já que os produtores do norte do país plantam cada vez mais o Mombaça nas áreas onde morreu o Braquiarão.
Uma alternativa para trocar o Braquiarão por opção similar, seria o uso de outro cultivar de Bachiaria brizantha, como é o caso do Xaraés e do Piatã. Mas se também são B. brizantha, como é o caso do Braquiarão, não seria arriscado plantá-las? A resposta para esta pergunta ainda não pode ser definitiva. Porém, até o momento muitos dos produtores que optaram por esta troca estão obtendo sucesso.
O leitor deste artigo pode pensar que os problemas com pragas estão ligados somente à região norte do país, mas a verdade é outra infelizmente. Produtores do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul já estão sofrendo com o percevejo castanho, desde o início da década de 90, praga de raiz típica de lavoura. No entanto, só recentemente o assunto é mote corriqueiro entre os produtores daquela região.
Ao contrário da cigarrinha das pastagens, o percevejo por ser um inseto de hábito subterrâneo, não tem metodologia de controle efetiva, salvo a preventiva, realizada por inseticidas químicos e biológicos adicionados ao solo no momento do seu preparo.
Por ser uma praga polífaga, podemos entender que o forte crescimento da integração lavoura e pecuária nas áreas de cerrado, poderá aumentar a sua infestação. No entanto, as operações de preparo de solo, corriqueiras em áreas de lavoura, são bem eficientes em seu controle, o que de certa forma seria positivo. Por outro lado, a tendência é o aumento do plantio direto, que pode diminuir o controle da praga através deste tipo de operação agrícola.
Portanto, temos o amadorismo no manejo das pastagens disseminado e ainda teremos que conviver com o aumento dos problemas com pragas, já que o percentual de áreas exploradas está concentrado em poucas opções forrageiras. A solução comumente utilizada para enfrentar a questão das pragas, é a troca por espécies de gramíneas mais resistentes ou tolerantes ao ataque de pragas. Esta alternativa vem surtindo efeito, mas é uma solução medianamente longeva, como podemos observar nesta discussão.
A Embrapa é a grande responsável pelo lançamento de novas opções forrageiras no Brasil, mas sabemos que o lançamento de novas gramíneas, não é tão rápido como o mercado consumidor desejaria. Isto ocorre porque o processo de melhoramento genético é realmente lento, leva anos até que uma variedade nova possa ser lançada.
As novas variedades, em geral são lançadas de forma genérica, isto é, são indicadas para quase todas as regiões produtoras do país, não há um trabalho específico por região produtora, como ocorre no caso dos híbridos de milho e sorgo. Contudo, existe uma ampla variedade de ambientes de produção no Brasil, que poderiam sim, exigir variedades diferenciadas a fim de se atender de forma mais especializada as diferentes demandas regionais. Mas como sempre, para isto é necessário grande aporte de recursos para a realização de pesquisas e desenvolvimento do produto final.
Uma pecuária sustentável, ao menos em nosso país, passa quase que obrigatoriamente pelo modelo onde a pastagem é o principal alimento do ciclo de produção de um bovino. Para que possamos sustentar um modelo de produção engajado no desenvolvimento sustentável precisamos profissionalizar a produção pecuária.
Um país que visa garantir o abastecimento interno de proteína, com baixo custo, e ainda almeja conquistar maior fatia do mercado internacional, não pode ficar refém do amadorismo no manejo das pastagens e de um orçamento incompatível com o seu apetite por produzir.
Portanto, não adianta só o pecuarista se aprimorar na gestão de seu negócio, é preciso também que o governo direcione mais recursos para a pesquisa nesta área. Um governo novo está iniciando, mas as novidades necessárias para solucionar os problemas mencionados anteriormente, dependerão de maior representatividade do setor, que precisará aprender a negociar de maneira mais eficiente do que a realizada no governo passado.