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Scot Consultoria

Agro e Ambiente são Inimigos?


Quarta-feira, 11 de maio de 2011 - 15h53

Engenheiro agrônomo


Manh do dia 10 de maio de 2011, dia em que estava prevista a votao das mudanas do cdigo florestal, programa Bom dia Brasil, da Rede Globo. Miriam Leito, com ar professoral, anuncia que os produtores parecem ter escolhido o inimigo errado, ao falar do tema do dia. A jornalista tentava explicar que proteo ambiental no inimiga da produo e nem do produtor. Est certa a jornalista, corretssima a sua observao. O que est errado quem escolheu quem como inimigo. No foi o produtor; muito pelo contrrio, pois a produo rural vem praticando a sustentabilidade muito tempo antes de se falar no assunto como falado hoje em dia. Dizer que a encrenca parte do setor produtivo um argumento falacioso, maldoso, deturpado, indigno. ONGs, alguns partidos polticos, setores desinformados da sociedade e at mesmo religiosos elegeram o agro como o inimigo da proteo ambiental, um mal a ser combatido. No do trguas e investem recursos enormes para ludibriar a opinio pblica a acreditar numa verdade criada, fantasiosa e enganosa. Uma navegada na internet possibilita a qualquer um, que esteja interessado, certificar-se do grau de acusaes e do tanto que se tenta negativar a imagem daqueles profissionais que trabalham no campo. A pecuria ento sofre mais ainda. A ponto de um documentrio, denominado A Carne Fraca ter sido amplamente divulgado at pela mdia profissional. O documentrio to ruim, mal elaborado e tendencioso que seus produtores aumentaram em quase seis vezes o tamanho do rebanho bovino mundial. Mentira proposital ou ignorncia absoluta? Sabe-se l o que pior. A horda contra a pecuria ainda engrossada por veganos ou vegetarianos que fazem de suas opes - legtimas e dignas de respeito - uma religio a ser difundida e at obrigada. Sim, alguns querem obrigar que outros adotem seus costumes, pois radicais j sugeriram a proibio do consumo de carne bovina em determinados dias da semana. E quando suas opes posies radicais contra o consumo de carne so combatidas pelo setor, dizem-se vitimados por falta de respeito pelas suas opes. Ora, quem falta com o respeito pelas opes de quem? Os argumentos usados para defender suas idias so os mesmos; que a pecuria destri o ambiente. E no so apenas os grupos de interesses claros que defendem essa posio antagonizada entre ambiente e produo. Infelizmente grande parte da mdia, como a jornalista citada no texto, parece defender bandeiras e posies. Interesse ou simples preguia mental? O fato que nunca se pode esperar que boas solues ou boas decises sejam obtidas com base em informaes ruins, deturpadas. E os produtores nesse debate? Setores envolvidos com o Agro queixam-se h anos de que a comunicao do meio rural com a sociedade falha, insuficiente e precria. Com isso a imagem dos produtores acaba sendo aquela interpretada por grupos de interesse, preconceituosos ou preguiosos mentais, leitores de orelhas de artigos. Pergunta-se porque motivos o setor no se defende. E a resposta simples. No h defesa argumentativa pela simples razo de que os recursos todos, assim como o tempo, esto destinados ao trabalho, execuo do que a sociedade chama de sustentabilidade. Em outras palavras, o produtor no se comunica porque est fazendo o que tantos outros apenas discursam. O Agro entendeu o que sustentabilidade h muitos anos atrs, e vem colocando em prtica, melhorando dia a dia. Vamos relembrar alguns dados j publicados em artigos recentes. - A produtividade brasileira mdia por rea cresceu 2,5 vezes nos ltimos 40 anos, muito acima da mdia mundial. No caso do milho, especificamente, enquanto o mundo cresceu 17% em produtividade, o Brasil cresceu 73%, de acordo com o Departamento Norte-Americano de Agricultura (USDA). Fonte: Em nome da produo brasileira, texto de Lygia Pimentel. - O plantio direto, em pouco menos de 35 anos, conquistou quase 32 milhes de hectares, e no para de crescer. Somando apenas os ganhos diretos, podemos concluir que o saldo do plantio direto, por hectare, de 1.212,56kg de equivalente gs carbnico sequestrados por ano. Extrapolando para toda a rea de plantio direto, podemos estimar a economia na emisso de 37,9 milhes de toneladas de CO2. O montante equivalente a 10,5% do total estimado de emisses de gs carbnico pelo Brasil. Fonte: Plantio direto, exemplo de sustentabilidade, texto de Maurcio Palma Nogueira. - O Brasil tem hoje um ativo ambiental muito grande comparado ao resto do mundo. Nossa matriz energtica 47,3% oriunda de fontes renovveis. O resto do mundo usa apenas 12,7% de energia de fontes renovveis. Fonte: A Carne brasileira e os desafios da sustentabilidade, texto de Fernando Sampaio. - A agricultura garante 28,5% dessa energia renovvel e consome apenas 4,5% na matriz. Somos os campees mundiais da agroenergia. Existe uma injustificvel vitimizao do Pas nesse tema na mdia, aqui e no exterior, inclusive em reas governamentais. Fonte: Enganos e mentiras sobre as emisses de CO2 do Brasil, texto de Evaristo de Miranda. - Estudos recentes indicam que, no Brasil, onde temos pouco mais de uma cabea por hectare, os bovinos emitem 60,5 kg de metano e 54 kg de CO2 por hectare/ano, ou 1,3 tonelada em equivalente CO2/hectare/ano. Por outro lado, h estimativas de que um hectare de pastagem sequestre 3,4 toneladas em equivalente CO2/hectare/ano. Portanto, possvel concluir que, no fim das contas, comparando as emisses de CO2 pelos bovinos e o que retido pelas pastagens, o saldo positivo. Fonte: A Carne no fraca, texto de Roberto Rodrigues. - Tanto na pecuria como na agricultura, a ocupao da terra melhorou em propores pouco acima de 1/10 durante o perodo. Ou seja, para cada unidade de rea ocupada, a produo ou suporte aumentou 10 unidades. Fonte: A Sustentabilidade em pauta, texto de Maurcio Palma Nogueira. - Da gua usada na irrigao da pastagem, apenas prximo a 1% fica retida na estrutura da planta, enquanto os 99% restantes so transpirados e voltam para a atmosfera. Fonte: A intensificao animal a pasto x sustentabilidade, texto de Adilson Aguiar. - A produo rural no gasta gua; apenas usa. E no processo ainda filtra a gua que foi utilizada devolvendo-a mais limpa ao ambiente. Fonte: O boi, a gua e uma Oportunidade, texto de Maurcio Palma Nogueira. - (com a produtividade da ndia) Assumindo o mesmo volume produzido atualmente no Brasil, as principais lavouras (gros, frutas, vegetais, cana-de-acar e mandioca) ocupariam 108 milhes de hectares, em vez dos 61 milhes hoje ocupados. Na ndia, essas mesmas lavouras ocupam cerca de 120 milhes de hectares. Fonte: O Agro em Brasndia , texto de Andr Meloni Nassar. - O Brasil reduziu em 80% o desmatamento na Amaznia. Projetar a ideia de que a agricultura desmata o Brasil uma falcia. O Brasil o pas com mais reas protegidas do mundo: 2,4 milhes de quilmetros quadrados, 28% do seu territrio. Em segundo lugar vem a China, com 17% de seu territrio, e em terceiro lugar, a Rssia, com cerca de 8% do seu territrio. Precisamos de mais parques nacionais ou deveramos cuidar melhor das reas protegidas existentes? Fonte: O Cdigo Florestal na Hora do Voto , texto de Rodrigo de Lara Mesquita. - essencial lembrar que o Brasil possui 63% de vegetao nativa que ainda no foi devidamente valorizada. Preservar por preservar no sustentvel, pois no contempla o vis social e econmico, inerente ao conceito de sustentabilidade. Fonte: Qual cdigo florestal o Brasil quer?, texto de Rodrigo C. A. Lima. - Tcnicos analisaram no apenas as emisses oriundas da atividade, mas calcularam tambm a absoro de carbono que ocorre no crescimento das pastagens. O "balano" ambiental assim calculado indica que quase metade das emisses de GEE (106, ante 221 Mt CO2 eq/ano) se compensa pelo sequestro de carbono acumulado nas gramneas. Fonte: O arroto do boi, texto de Xico Graziano. - A taxa de lotao passou de 0,97 cabea por hectare para 1,2 cabea por hectare, um incremento de 23,7%. Portanto, a evoluo da produtividade nos permitiu aumentar o rebanho e a produo de carne, utilizando menos rea. A taxa de desfrute, que mede o volume de animais abatidos em relao ao rebanho total, saiu de 18,4% em 2000 para 20,1% em 2010, uma alta de 9,2%. Esse incremento obtido com a reduo da idade do abate dos animais. Fonte: Caminho da Sustentabilidade, texto de Alcides Torres, Gustavo Aguiar e Douglas Oliveira. - Para cada quilo de equivalente carbono emitido na forma de xido nitroso, sero sequestrados 6,2 kg de carbono em matria vegetal que ser convertida em hmus. Fonte: Mais uma na conta da Agricultura, texto de Maurcio Palma Nogueira. - A economia brasileira encontra-se em processo de digesto da mudana de preos relativos havida internacionalmente e internalizada via transaes comerciais e financeiras. No caso dos alimentos, desde 2000 o aumento real em dlares foi de quase 50%; no Brasil, o ajuste real foi de apenas 17% ao atacado e de 15% ao consumidor. Fonte: Commodities determinam como controlar ncleo da inflao, texto de Geraldo Barros. Vale lembrar que o conceito de sustentabilidade, amplamente relacionado ao debate em torno do cdigo florestal, envolve trs pilares que so os ambientais, sociais e econmicos. O breve levantamento realizado neste artigo, baseado apenas na memria, pode ser amplamente estendido o que permite encontrar uma infinidade de nmeros que comprovem os ganhos sociais e ambientais com o agro brasileiro ao longo dos anos. Basta procurar, sem preconceitos. Esse o nvel da argumentao dos profissionais do agro: embasadas cientificamente, fundamentadas em dados. Muitas vezes os artigos so carregados de emoo, o que normal; mas sempre comprometidos com a verdade, com o fundamento tcnico e cientfico. Do outro lado temos a comunicao falaciosa e sensacionalista como a propaganda veiculada pelo Greenpeace na pgina A11 do jornal o Estado de So Paulo do dia 10/05/2011. Os dizeres do Greenpeace? Dilma, desliga essa motosserra A motosserra ronca alto no Congresso. L est para ser votado um projeto de lei que pretende enterrar 78 anos de proteo s florestas brasileiras e vai aumentar o desmatamento. A cincia j avisou: o Brasil pode ampliar a nossa produo de alimentos sem desmatar mais nenhum hectare. Presidente Dilma, desliga a motosserra do Congresso. Dados mentirosos num recado visivelmente contrrio base democrtica. Mesmo que seja metafrico, o Greenpeace intima, claramente, que a presidente enquadre o Congresso. Fossemos um pas srio e a propaganda desta ONG seria punida por difundir mentiras e ludibriar o consumidor. O cidado, quando se informa, consumidor de quem divulga as informaes. Se uma indstria no pode mentir num rtulo, uma entidade que diz defender o meio ambiente no deveria mentir em suas informaes. O conceito o mesmo; o produto diferente. Por fim, no d para deixar de fazer a pergunta: Quem escolheu os inimigos errados? Com base em que tipo de informaes os congressistas brasileiros votariam as alteraes do cdigo florestal?
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