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Scot Consultoria

De mocinhos a heróis


Segunda-feira, 11 de julho de 2011 - 10h10

Engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – USP. Diretor-fundador da Scot Consultoria. Analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas da cadeia de pecuária de corte, de leite, ovinos, grãos e insumos agropecuários. Palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Presidente da Associação dos Profissionais para a Pecuária Sustentável. Membro do Conselho Consultivo da Phibro, Membro do Conselho Técnico do programa Bifequali da Embrapa Sudeste e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.

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O dilema do Código Florestal deixa aflito o setor agropecuário. A maioria das questões relacionadas ao assunto traz à tona as possíveis consequências do desmatamento, ligando-o ao aquecimento global e emissões de gases de efeito estufa (GEE). Tornou-se rotina as acusações e críticas sobre a pecuária neste cenário, tanto dentro como fora do Brasil. Para analisar todos os lados dessa discussão, nada como um pouco de informação para quebrar alguns paradigmas. O grande potencial O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, temos um produto de qualidade que chega às mesas de diversos países. São pessoas que se alimentam dessa carne. A imensa maioria dos abates brasileiros é proveniente de animais da produção extensiva, e ainda assim, possuímos cerca de 69% das florestas originais. Não enfatizaremos a questão do carbono das florestas, mesmo porque a taxa de desmatamento vem caindo ano a ano, isto não é novidade. Quando olhamos para as áreas de pastagens e o grande potencial de seqüestro de carbono do país é que a coisa fica interessante. Segundo estimativas da Scot Consultoria, o Brasil possui aproximadamente 171 milhões de hectares de pastos. Os últimos dados consolidados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que as pastagens plantadas degradadas representam 6% da área total. As pastagens naturais, com 36% da área, apresentam baixa capacidade de suporte, estão em algum estágio de degradação e podem ser melhoradas. Dessa forma, é possível considerar que as pastagens degradadas ou em degradação representam 42% da área de pastagem no país. De acordo com estimativa da Scot Consultoria, essa área é equivalente a 71,8 milhões de hectares. Através da reversão do atual quadro, com a recuperação ou reforma, as pastagens brasileiras se transformariam em um gigante “dreno” de carbono. Dados da Embrapa Instrumentação Agropecuária, de São Carlos - SP, no mostram que áreas tropicais de pastagens bem manejadas possibilitam o sequestro de 6,1 a 12,8 toneladas de CO2 por hectare ao ano da atmosfera. Há anos a comunidade científica levanta esta bandeira, porém apenas com o reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), este meio de mitigação tomou proporções. Sob esse ponto de vista, ter pastagem é um benefício. Com a recuperação destas áreas, a produção brasileira, que já desempenha um papel fundamental em escala global, poderia ser ampliada sem desbravar áreas. A tarefa é grande Os dados de redução dos GEE são animadores, mas de pouca valia sem o investimento financeiro em reformas e manutenção da qualidade dos pastos. A participação do governo é fundamental neste processo, em função da alavancagem de capital necessária e do retorno do investimento demorado. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA declarou recentemente que a pecuária contará com três linhas de crédito específicas no Plano Agrícola e Pecuário 2011/2012, sendo uma delas destinada à renovação de pastagens, com ênfase em melhoria de produtividade. O crédito vai atender ações como correção de solo, adubação, manejo e reforma de pastagens degradadas. A linha parece buscar, em meio às discussões do novo Código Florestal, redimir o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que não deslanchou. Segundo informações do governo, dos R$2 bilhões destinados ao programa, somente R$700 mil, ou 0,35%, foram efetivamente contratados. Agentes de mercado informam que o excesso de burocracia (elaboração de laudos técnicos específicos) e o elevado custo operacional (exigências por parte do BNDES e a necessidade de acompanhamento detalhado pelos bancos, torna o processo oneroso) levaram à baixa contratação do programa. Além disso, a taxa de juros do ABC é a mais baixa dos programas voltados à sustentabilidade, de 5,5% ao ano, em comparação com o Produsa (5,75% a 6,75% ao ano) e Propflora (6,75% ao ano), o que o torna menos interessantes para os bancos. Espera-se que o governo consiga no Plano Agrícola e Pecuário 2011/12, estruturar uma linha de financiamento funcional atendendo a pecuária, para que possamos caminhar na direção desta grande oportunidade para o país. Já somos os mocinhos, mas podemos virar heróis. Cordialmente, Alcides de Moura Torres Junior - engenheiro agrônomo, diretor da Scot Consultoria e vice-presidente da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável (APPS). Colaboraram: Gustavo Adolpho Maranhão Aguiar – zootecnista e diretor da Scot Consultoria. Douglas Coelho de Oliveira – zootecnista e trainee da Scot Consultoria. * material publicado na Revista Nacional da Carne
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