O dilema do Código Florestal deixa aflito o setor agropecuário.
A maioria das questões relacionadas ao assunto traz à tona as possíveis consequências do desmatamento, ligando-o ao aquecimento global e emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Tornou-se rotina as acusações e críticas sobre a pecuária neste cenário, tanto dentro como fora do Brasil.
Para analisar todos os lados dessa discussão, nada como um pouco de informação para quebrar alguns paradigmas.
O grande potencial
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, temos um produto de qualidade que chega às mesas de diversos países. São pessoas que se alimentam dessa carne.
A imensa maioria dos abates brasileiros é proveniente de animais da produção extensiva, e ainda assim, possuímos cerca de 69% das florestas originais.
Não enfatizaremos a questão do carbono das florestas, mesmo porque a taxa de desmatamento vem caindo ano a ano, isto não é novidade. Quando olhamos para as áreas de pastagens e o grande potencial de seqüestro de carbono do país é que a coisa fica interessante.
Segundo estimativas da Scot Consultoria, o Brasil possui aproximadamente 171 milhões de hectares de pastos.
Os últimos dados consolidados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que as pastagens plantadas degradadas representam 6% da área total. As pastagens naturais, com 36% da área, apresentam baixa capacidade de suporte, estão em algum estágio de degradação e podem ser melhoradas.
Dessa forma, é possível considerar que as pastagens degradadas ou em degradação representam 42% da área de pastagem no país.
De acordo com estimativa da Scot Consultoria, essa área é equivalente a 71,8 milhões de hectares.
Através da reversão do atual quadro, com a recuperação ou reforma, as pastagens brasileiras se transformariam em um gigante “dreno” de carbono.
Dados da Embrapa Instrumentação Agropecuária, de São Carlos - SP, no mostram que áreas tropicais de pastagens bem manejadas possibilitam o sequestro de 6,1 a 12,8 toneladas de CO2 por hectare ao ano da atmosfera.
Há anos a comunidade científica levanta esta bandeira, porém apenas com o reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), este meio de mitigação tomou proporções.
Sob esse ponto de vista, ter pastagem é um benefício.
Com a recuperação destas áreas, a produção brasileira, que já desempenha um papel fundamental em escala global, poderia ser ampliada sem desbravar áreas.
A tarefa é grande
Os dados de redução dos GEE são animadores, mas de pouca valia sem o investimento financeiro em reformas e manutenção da qualidade dos pastos.
A participação do governo é fundamental neste processo, em função da alavancagem de capital necessária e do retorno do investimento demorado.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA declarou recentemente que a pecuária contará com três linhas de crédito específicas no Plano Agrícola e Pecuário 2011/2012, sendo uma delas destinada à renovação de pastagens, com ênfase em melhoria de produtividade.
O crédito vai atender ações como correção de solo, adubação, manejo e reforma de pastagens degradadas.
A linha parece buscar, em meio às discussões do novo Código Florestal, redimir o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), que não deslanchou.
Segundo informações do governo, dos R$2 bilhões destinados ao programa, somente R$700 mil, ou 0,35%, foram efetivamente contratados.
Agentes de mercado informam que o excesso de burocracia (elaboração de laudos técnicos específicos) e o elevado custo operacional (exigências por parte do BNDES e a necessidade de acompanhamento detalhado pelos bancos, torna o processo oneroso) levaram à baixa contratação do programa.
Além disso, a taxa de juros do ABC é a mais baixa dos programas voltados à sustentabilidade, de 5,5% ao ano, em comparação com o Produsa (5,75% a 6,75% ao ano) e Propflora (6,75% ao ano), o que o torna menos interessantes para os bancos.
Espera-se que o governo consiga no Plano Agrícola e Pecuário 2011/12, estruturar uma linha de financiamento funcional atendendo a pecuária, para que possamos caminhar na direção desta grande oportunidade para o país.
Já somos os mocinhos, mas podemos virar heróis.
Cordialmente,
Alcides de Moura Torres Junior - engenheiro agrônomo, diretor da Scot Consultoria e vice-presidente da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável (APPS).
Colaboraram:
Gustavo Adolpho Maranhão Aguiar – zootecnista e diretor da Scot Consultoria.
Douglas Coelho de Oliveira – zootecnista e trainee da Scot Consultoria.
* material publicado na Revista Nacional da Carne