A especialização da pauta de exportação brasileira é um tema que gera constantes debates e reúne defensores e opositores. Há muita confusão sobre o assunto, já que especializar as exportações não quer dizer especializar a produção internamente.
É preciso que se entenda que o Brasil só tem a ganhar com a especialização dos produtos exportados, mas que não necessariamente haverá especialização na produção nacional. Ao contrário, os dados da produção industrial brasileira mostram que a pauta é diversificada e que nos últimos anos todos os setores registraram crescimento.
A produção industrial para o mercado interno continua diversificada e aquecida. Nas exportações, no entanto, deve-se aceitar que os setores mais competitivos, como os de
commodities devem ocupar um espaço maior, aproveitando-se os bons preços internacionais e a ascendente demanda doméstica e internacional.
A participação de commodities nas exportações vem crescendo desde 2007, ano em que o Brasil foi considerado país mais confiável sob a percepção do investidor. Tal fator, combinado com a alta dos preços das
commodities, contribuiu para o aumento de investimentos no setor e, consequentemente, aumento na produção e na exportação.
Para entender a dinâmica da pauta de exportação brasileira, bem como justificar a afirmativa de que a especialização é um fator positivo para o Brasil, utilizou-se a metodologia elaborada por Nakahodo e Jank (2007) no estudo “A Nova Dinâmica das Exportações Brasileiras: Preços, Quantidades e Destinos”, que analisa dados de 1996 a 2006. Em seguida, atualizou-se o estudo por meio dos dados de exportação da SECEX (Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), de 2007 a 2010.
A metodologia classifica os produtos exportados em duas categorias: commodities e diferenciados. Dentre as commodities, estão três classes de produtos: os do agronegócio, os combustíveis e os minerais e metais. Dentre os diferenciados estão os produtos de manufaturas industriais, classificados em níveis de “intensidade tecnológica”, podendo ser: alta, média-alta, média-baixa e baixa tecnologia.
Avaliando-se os dados de 2007 a 2010, comparando-os com aos dados de 1996 a 2006 (período de tempo avaliado por Nakahodo e Jank), percebeu-se que houve, de fato, mudança na participação do grupo das commodities na pauta de exportação. O equilíbrio observado até 2006 entre a participação dos produtos diferenciados e das commodities (ou seja, diferenciados e
commodities possuíam mesmo peso na balança comercial), após 2007 as commodities passaram a ter maior peso nas exportações, representando quase 68% do valor exportado em 2010.
Especificamente, as exportações dos produtos do agro tiveram um aumento significativo, com exceção de pontual queda em 2009, devido à crise iniciada no final de 2008. A participação de tais produtos, no entanto, continuou a crescer, atingindo seu ápice em 2009, com quase 40% do valor total exportado.
Nos combustíveis também houve aumento expressivo no valor exportado, que foi de USD 10,5 bilhões em 2006 para quase USD 20 bilhões em 2010. Vale lembrar que a alta nos preços das
commodities tem forte influência nesses cenários e que, devido à volatilidade intrínseca dos preços dos produtos primários, a relação entre commodities e diferenciados, na pauta exportadora, pode voltar a se equilibrar se os preços caírem.
Quanto aos produtos diferenciados, uma variedade menor desses produtos vem sendo responsável por uma parcela maior das exportações. No período entre 1996 a 2006, observou-se certa constância na participação dos diferenciados nas exportações, com significativa presença dos de alta e média-alta tecnologia. De 2007 para frente, percebemos uma queda na participação dos diferenciados, principalmente nos produtos de média-alta tecnologia, apesar destes ainda serem significativos na pauta, representando 18% do total.
Este “rearranjo” da pauta de exportação não deve ser considerado algo ruim, uma vez que o País tem no setor de commodities e que a especialização não necessariamente reflete a realidade da pauta de produção (principalmente para consumo interno). Para exemplificar: quando avaliamos a produção industrial por meio do índice de quantum, percebemos que houve um incremento de 36% na produção de bens de capital e de 10% na produção de bens de consumo no período entre 2006 e 2010. Apesar da diferente classificação (em relação à usada por Nakahodo e Jank), fica claro que a produção de diferenciados (em que se enquadram as categorias de bens de consumo e de capital) continua a crescer, apesar da redução na participação no valor exportado. Isso mostra como a produção interna continua diversificada, apesar da especialização das exportações.
Exportar mais dos produtos em que o Brasil tem uma vantagem competitiva é positivo, não só em termos de comércio global, mas também em termos de emprego, renda e de benefícios para a sociedade. Se todos os setores crescerem em termos de produção (contrariando a tese de que a especialização na produção de commodities causaria a desindustrialização), não só faz sentido como é necessário o Brasil especializar sua exportação naqueles bens em que é mais competitivo internacionalmente. Nesse caso, devemos estimular o crescimento das exportações das commodities – e não rechaçá-los.
Por
Paula Moura e
Isabella Franchini.
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