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Scot Consultoria

Perspectivas promissoras


Quinta-feira, 25 de agosto de 2011 - 13h13

Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ-USP 1976. Consultor - Tecfértil - Vinhedo-SP.


O recebimento de fertilizantes no mês de julho continuou bastante forte, refletindo a antecipação de compras realizadas pelos produtores do Mato Grosso. Comparado aos anos anteriores, o volume de recebimentos em julho somente foi menor que em 2008, ano que também vinha com forte aceleração de compras, mas que sofreu uma forte queda após setembro devido à crise financeira internacional. O volume de recebimentos acumulado no período de janeiro-julho corresponde a um aumento de 21,2% sobre o ano anterior, confirmando a antecipação de compras, motivada pela boa comercialização da safra, perspectivas de preços remuneradores também para a safra que será plantada e ainda como tentativa de evitar os aumentos indicados para os preços de fertilizantes. Os próximos meses ainda devem continuar com recebimentos elevados, pois conforme informações correntes, mais de 90% dos fertilizantes necessários para a safra já foram adquiridos e, sendo assim, mais 1.000.000 de toneladas devem ser recebidas pelos agricultores em prazo curto pois já estariam adquiridos. A situação no Brasil não é diferente, havendo também uma forte antecipação das compras, com volume recebido pelos agricultores 27,8% superior ao mesmo período do ano anterior, sendo esperado um recorde no consumo de fertilizantes para este ano de 2011. Nota-se que esta aceleração nas compras foi pronunciada no segundo trimestre do ano, coincidindo com a boa realização da safra e motivando os produtores a investirem na safra a ser plantada em breve. Importações e mercado internacional Fazendo frente a esta demanda mais acelerada, as indústrias também se anteciparam nas importações de matérias primas principalmente de fosfatados e potássio. Por outro lado, o forte ritmo das importações enfrenta as deficiências de infraestrutura já tão comentada do país e navios carregados com fertilizantes já estão 35 dias na barra de Paranaguá aguardando para serem descarregados. Isso eleva os custos dos produtos devido ao pagamento do tempo de espera (demurrage) com impacto médio de quase US$15,00 por tonelada no ano. As importações seguiram em ritmo forte também como forma de evitar as seguidas altas de preços, com os valores médios FOB na origem mostrando a continua elevação de preços imposta pelo mercado internacional aos preços dos fertilizantes, como mostra o gráfico a seguir, e que ainda não refletem os patamares de preços correntes no momento. Relações de troca As relações de troca ainda são lentamente corroídas pelos aumentos de custos dos fertilizantes, mas sem a ameaça do forte perda de capacidade de compra ocorrida em 2008 pois apesar dos aumentos dos fertilizantes, ainda tem se mantido os bons preços de soja. No caso do superfosfato triplo, embora se mantendo estável, a comparação relativa de preços já é 1,5 vezes mais desfavorável que no início do ano, atingindo relação superior aos anos anteriores, com exceção clara do pico de 2008 e que se iniciou em 2007. O cloreto de potássio ainda continua com elevação de preços e com isso a perda de capacidade de compra continua a ser corroída como mostra o gráfico abaixo. Na relação de troca direta soja-fertilizante, os preços de agosto mostram uma pequena folga para o produtor, tanto devido a uma pequena melhora nos preços de soja apurados pelo IMEA nas diferentes regiões do estado como também devido a uma acirrada concorrência entre as empresas, na busca dos compradores ainda disponíveis e isso, refletiu em preços dos fertilizantes um pouco inferiores aos do mês anterior, favorecendo a relação de troca. Com isso, o produtor gastará no momento, cerca de 1,5 saco de soja a menos para adquirir uma tonelada de fertilizante comparando com o mês anterior. Ao serem comparados os preços correntes com uma simulação de preços para o estado, notamos que os preços oferecidos estão abaixo do esperado, e não refletem os custos efetivos de reposição e margem, como pode ser visto na tabela a seguir e compará-la com a tabela acima. Por isso, este quadro mostra que este é um momento importante e favorável para aqueles que ainda não adquiriram o fertilizante necessário para a próxima safra, negociem com seus fornecedores para obter a melhor condição de preço e também garantir o insumo para o plantio que já está bastante próximo de se iniciar. Outra questão é avaliar o comportamento dos preços daqui em diante. Apesar dos preços já atingirem patamares bastante elevados e nas últimas semanas as variações dos preços internacionais serem pequenas, a forte demanda de fertilizantes no mundo tem garantido aos fornecedores imporem preços maiores. Alguns analistas indicam que apesar da crise financeira em andamento, os preços agrícolas não estão sendo afetados, principalmente porque as safras deste e no próximo ano não contribuem significativamente para um aumento dos estoques, mantendo uma relação estoque/consumo bastante baixa. Assim, mantendo-se os preços agrícolas nos níveis atuais ou até se elevando, à medida que vai sendo definida a safra americana de soja e milho e que tem sido avaliada como em piores condições, o poder de compra dos produtores agrícolas mantém-se bom e permite a imposição de preços mais elevados para os fertilizantes. Neste cenário, os fornecedores de cloreto de potássio, com carteiras de pedidos lotadas pelos contratos efetuados com a China e Índia e pela forte demanda do Brasil já sinalizam com preços superiores no primeiro trimestre de 2011, estipulando preços de US$530,00 para os contratos, acima dos preços atuais de US$470,00 com a China e em média ao redor de US$490,00 com a Índia. No mercado livre, isto é sem contrato, pode-se esperar preços maiores que os atuais US$540-560,00 e que já são superiores aos preços dos contratos. Fatos e dados A grande preocupação para a agricultura brasileira é a garantia de suprimento adequado de fertilizantes e isto é muito mais evidente quanto ao cloreto de potássio, em que a nossa dependência de importações é superior a 90%. Assim, quais as perspectivas para a produção de fertilizantes potássicos no Brasil? Grandes esforços têm sido feitos por várias empresas no sentido de viabilizar a produção de fertilizantes potássicos, motivados muito mais pela oportunidade de preços remuneradores e não pelo apelo de garantir um suprimento estratégico. Em geral as grandes empresas de potássio do mundo, Canpotex, BCP, ICL e outras têm sido um bom investimento e garantido bons lucros aos seus acionistas. Assim, várias iniciativas estão na corrida para suprir a demanda do nutriente, sendo muitos delas de novas empresas mineradoras e baseadas em fundos de investimentos. No Brasil, além dos investimentos da Vale em Sergipe e que podem atingir uma produção de 2,4 milhões de toneladas se os entendimentos com a Petrobrás seguirem a um bom termo para a concessão das jazidas, muito se fala na existência de grandes jazidas na Amazônia e sendo por isso, citado que o país detém a terceira posição das reservas de potássio no mundo. Falta transformar isso em produção. O fato mais recente é a divulgação dos resultados de sondagens feitos pela empresa potássio do Brasil na Amazônia e que revelaram reservas de silvinita com 1,82 metros de espessura contendo 39,94% de KCl (foto abaixo) e outra com 1,59m com 44,52% de KCl, e isso pode se estender por muitos quilômetros. A companhia espera definir os recursos existentes até 2T de 2012, e até o final desse ano efetuar a abertura de capital obtendo recursos para implantação da produção do fertilizante, estimando um investimento de US$3,5-4,0 bilhões com a meta de produzir 4,0 milhões de toneladas anuais de cloreto de potássio. Deve ser destacado que esta ocorrência é próxima de outra conhecida como Fazendinha, com recursos da ordem de 500 milhões de toneladas de minério potássico e cujos direitos pertencem a Petrobrás. Outras empresas realizam sondagens na região (Terreno Resources) bem como em Sergipe (Águia Resources – Potássio do Atlântico), Bahia (Atacama Minerals) e também há fortes iniciativas para a oferta de produtos alternativos como o termo-potássio, a partir de verdete da Verde Fertilizante em Minas Gerais e até de rochas moídas como o fonolito de Poços de Caldas que será produzido pela Curimbaba. Podemos ter assim uma perspectiva promissora para garantir o abastecimento estratégico dentro de aproximadamente cinco anos, mas a má notícia para os agricultores é que este cenário somente se concretiza se os preços estiverem elevados o suficiente para empurrarem os investimentos e possam garantir bons lucros aos investidores.
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