Perspectiva animadora

Abaixo temos na parte de cima a arroba do boi em reais e na parte de baixo um estudo técnico chamado Índice de Força Relativa, o IFR. O IFR é um dos índices técnicos mais utilizados nos mercados. Ele é tão utilizado por uma simples razão. As informações que passa são muito confiáveis. Veja, por exemplo, o que está ocorrendo no boi atualmente. Observem as duas setas, tanto nos preços da arroba, quanto no IFR. Elas indicam quando o mercado trabalhou com o IFR abaixo de 20, o que significa um mercado “sobre-vendido”, ou, em outras palavras, caiu demais. O mercado caiu demais neste ano em duas ocasiões. Em meados de maio, nessa primeira seta. Reparem que o IFR deu um sinal algumas semanas antes do mercado efetivamente atingir seu pior preço, mas foi um sinal válido - logo depois realmente os preços começaram a subir. O outro sinal foi emitido esta semana. Esta semana o mercado também ficou “sobre-vendido” ou caiu demais. Vamos ver no que vai dar isso daí. Anteriormente, como falei o IFR não errou. Aliás, o IFR não erra no boi desde que comecei a utilizá-lo há mais de uma década. Ele não é certeiro em dizer na pinta o pior momento do mercado, mas nos indica o período em que é bom ficar alerta para uma virada. Agora é um deles. “Rogério, você vem vindo animado nessas duas últimas semanas. O que está acontecendo?”, você pode me perguntar. Bom, caro leitor, realmente fiquei um pouco mais animado sim. Vejo os números e fico pensando que se pudesse existir uma situação melhor para soprar esses ventos de baixa do mercado bovino, essa é uma situação dessas. Primeiro, estamos entrando no quarto e último trimestre do ano, notoriamente conhecido por despejar muito dinheiro na economia. No início com o pagamento dos 13º salários. Depois, com o movimento de festas de final de ano. Além disso, em boa parte do país o tempo volta a esquentar. Isso favorece o consumo de carne? Não sei. Só sei que é ruim demais fazer churrasco com frio. Experiência própria. Melhor no calor. Depois, o dólar. A alta da moeda, mesmo que ocorrendo de forma ligeira e brusca, barateia nossa carne. E no comercio, bons negócios são feitos baseados no momento. Assim como muita gente compra milho naqueles momentos de preços bons. Depois sai novamente do mercado. Acredito que o barateamento de nossa carne e, os problemas de aftosa no Paraguai poderão nos ajudar nesse ponto. Em terceiro, a indústria está ativa. Não vemos ela parada. Está comprando, está aumentando as escalas, está se mexendo. Observe esse movimento da indústria como se fosse um pecuarista. Para quê ele compraria boi magro agora se saberia que iria vender boi barato daqui a um tempo? A indústria está aproveitando o boi barato para aproveitar também a janela de carne em bons preços. É a mesma lógica do pecuarista, nada muda. Aliás, essa é a lógica de qualquer comércio — comprar bem para vender melhor ainda. E por último, os concorrentes. O suíno subiu novamente agora em setembro. Subiu mais de 30%. O frango também subiu agora em setembro. Subiu 2% só, agora, porém lembre-se que já subiu quase 20% desde julho para cá — e permanece valorizado. A carcaça subiu mais de 6% no mesmo período em que o frango subiu 20% e o traseiro, 10%. Nosso boi? Praticamente nada. Menos de 2%. Para ser mais exato, 1,8% de alta. Isso tudo sem falar no bezerro, que está na contramão do boi. Sua arroba valia 116 reais uns dias atrás. Hoje vale 120 reais. O bezerro não está tomando conhecimento da baixa do boi, caro leitor. Isso é uma informação importantíssima que vejo sendo pouco comentada no mercado. Agora contemple isso tudo. Contemple a alta do boi perante as outras carnes, contemple o que está por vir de injeção de renda e perante o movimento do dólar. Pense no movimento de bois confinados — ele vai acabar eventualmente. O que me interessa, agora, é o que irá acontecer depois dessa maré de baixa atual passar. E esse depois é o que está me deixando animado.
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