Conforme já escrevi em outros artigos sobre agrotóxicos, “agricultura é poluição”. É que onde se faz agricultura deixa de existir ecossistema, passa a ser agrossistema. Tudo isto porque precisa-se alimentar uma população planetária crescente. Desta forma, entendo que o ser humano é o maior predador do planeta. E as pragas e doenças, quando descobrem uma lavoura, dito agrossistema, encontram alimento, sombra e tranquilidade, e nenhum inimigo natural, como ocorre num ecossistema. É comer e comer o dia inteiro, reproduzindo-se sob as bênçãos de nosso clima tropical. Caso não se use agrotóxicos eles podem reduzir de 40% a até 80% o que se pretendia colher, sejam frutas, verduras, legumes ou grãos. É prejuízo na certa, daí o uso dos agroquímicos, também chamados pelos puristas como defensivos agrícolas.
Separemos uma coisa, para o bom entendimento aos leigos daquilo que estou explicando: agrotóxicos seriam os remédios das plantas, enquanto os fertilizantes seriam os seus alimentos. É bom que se diga que fertilizantes são de origem mineral, e não são químicos, exceto o fertilizante nitrogenado, mas a “química” aí é mínima, pois o nitrogênio está no ar, na atmosfera que respiramos, e é “capturado” por processos químicos, através do uso de gases como catalisadores.
Na soja, por exemplo, e em outras leguminosas, como o feijão, nem se usa fertilizante nitrogenado, pois se faz a inoculação nas sementes das plantas e estas fixam o nitrogênio, dispensando o N da fórmula do NPK.
Sobre os chamados “alimentos contaminados por agrotóxicos”, como falam as pessoas que mal conhecem o assunto, eles apenas repetem o que os outros dizem. A verdade é que na química, parafraseando com Paracelso, um famoso médico e alquimista alemão da época da Renascença, a “dose faz o veneno”. Ou seja, tudo depende de quanto se ingere de um produto, seja químico ou alimento. Nesse sentido, se você tomar muita, mas muita água mesmo, até ela pode fazer mal e matar, e não falo aqui de se morrer afogado, não.
As doses de agrotóxicos são planejadas para matar insetos e não gente de sangue quente, e com peso milhares de vezes maiores do que o de um inseto.
Por exemplo: um inseticida tem uso desde 100 ou 200 g por hectare (1 hectare ou ha = 10.000m² ou seja, 100 x 100 metros) a até uns 2kg, varia conforme o produto, e é diluído em água em quantidades de 200 a 500 litros de água a serem pulverizados por cada 1ha. Então, faça o cálculo comigo, se 1kg tem 1.000 gramas, e se 1ha tem 10.000m², são despejados, sobre as plantas e também no solo, porque sempre há perdas, cerca de 0,10mg por m².
Ainda neste exemplo, perceba que numa área de 1m² de lavoura é possível se ter 5kg de tomate, ou 3kg de morangos, só para lembrar. Isto significa dizer que, cada tomate, ou morango, se for bem pulverizado, se terá depositado de 0,01mg a 0,03mg por fruta. E se você consumir este produto, lavando normalmente em água corrente, poderá, teoricamente, permanecer 0,001mg por fruta. Considerando que a dose letal daquele veneno para uma pessoa, seja de 0,10g por kg vivo, você teria que consumir 100kg de tomate por dia multiplicado pelo seu peso, para ter uma dose letal... Estaria parcialmente certo, se você argumentar, que 2 ou 3kg de tomate “envenenado” e não lavado poderá causar problemas de toxicidade a você, isto se você for um alérgico, como eu sou. Mas não mata, pode crer, no máximo poderia dar uma diarreia, ou coceiras, ou dor de cabeça. As formas que temos de nos prevenir contra isso é, primeiro, lavando os produtos, e, segundo, variando a alimentação, assim você nunca vai consumir o mesmo agrotóxico. Claro, nunca coma mais do que 5kg do mesmo alimento no mesmo dia...
Assim fazendo a gente consegue morrer com mais de 100 anos, e poderemos tranquilamente morrer atropelados quando chegarmos lá. Afora isto, é importante ressaltar que, à exceção dos inseticidas organoclorados, que são cumulativos, uma das razões do seu banimento, os demais princípios ativos são metabolizados e eliminados do organismo humano pelas vias normais de excreção.
Li, dias atrás, uma declaração do pessoal técnico-agrícola da CEASA-SP que “os ingredientes ativos proibidos para uso agrícola, tais como inseticidas organoclorados (BHC, DDT, Aldrin, Dieldrin, Heptacloro etc.) e os fungicidas mercuriais, todos efetivamente banidos, não têm sido detectados nas análises e nem existem evidências de que estejam sendo usados no Brasil”. E se acontecer é caso de polícia, pode mandar prender.
Tem mais coisa
"Os agricultores brasileiros usam muitos agrotóxicos e por isto o Brasil é campeão mundial no uso de agroquímicos". A primeira afirmação é mentirosa, pois os agricultores brasileiros usam o necessário, até porque esses produtos são muito caros, em média um herbicida ou inseticida de primeira linha custa mais de US$20.00 por litro ou quilo. Se o leitor calcular que um agricultor médio ou pequeno tem no mínimo 80 ou 100 hectares dá para calcular as despesas de forma simples, não é? Ninguém gosta de jogar dinheiro fora. Usa-se porque é absolutamente necessário. Relembre o trem humano na foto lá de cima deste artigo.
Já a segunda crítica, de que somos campeões mundiais, esta é verdadeira, mas apenas no valor absoluto e no total utilizado no ano, pela simples razão de que somos um país continental, de dimensões gigantescas. Os EUA eram os campeões, até dois anos atrás, e “perderam” esta posição porque passaram a usar lavouras transgênicas, que usam menos agrotóxicos, especialmente milho, soja e algodão. No Brasil estamos atrasados ainda neste quesito, por culpa dos biodesagradáveis, que não querem nem uma coisa nem outra. Aliás, ninguém sabe o que eles querem...
Quando se faz o cálculo médio, conforme a FAO/ONU, de kg ou litro por hectare usados de agrotóxicos, caímos para a 9ª posição, pois os EUA, Alemanha, França, Argentina, Itália, Espanha, Japão e Holanda, ganham de nós de goleada, em quantidade (peso) e em dólares.
E mesmo que fôssemos campeões no uso médio por hectare, a justificativa para isso seria mais do que lógica, pois somos o único país tropical desta lista, onde os insetos proliferam espantosamente. É no calor que nasce mais mosquito, não é? Lá no hemisfério Norte o clima é frio, e não facilita a vida dos insetos, reduzindo com isso o uso dos venenos. Mas não é só isso, é que justamente por sermos um país tropical, ou de clima temperado, com sol abundante o ano inteiro, que podemos plantar na mesma área de terra duas lavouras por ano, safra de verão e safrinha de pré-inverno. Na média, acabam sendo cinco safras a cada dois anos. Enquanto os americanos e os europeus só conseguem uma safra por ano, pois no inverno não dá para plantar nada, é só gelo.
Outra acusação falaciosa que se faz hoje em dia, especialmente o pessoal da Anvisa, é que usamos no Brasil agrotóxicos que seriam “proibidos” nos EUA ou na Europa. O que ocorre, na verdade, é que são produtos sem pedido de renovação de registro na Europa ou EUA, porque as patentes venceram. Se não tem registro não pode vender. E aqui no Brasil também é assim. Mas isto é muito diferente de ter sido “proibido”. As empresas não renovam os pedidos de licença dos produtos com patente vencida para tentar “dificultar” a ação dos genéricos vindos da China, África do Sul, ou Israel. Os genéricos ficam sem “referências” de padrão para registrar produtos na Europa. No Brasil, como o Governo Federal estimula os genéricos, a importação é livre e solta.
Temos, ainda, uma concorrência feroz disputando lavoura a lavoura a venda dos agrotóxicos, especialmente chineses, e são todos genéricos, os que se diz que foram “proibidos” na Europa.
Há um exemplo gritante ocorrendo no mercado brasileiro, o do inseticida metamidofós, recentemente proibido. É um produto altamente eficiente, apesar da alta toxicidade, para várias culturas (milho, soja, café, batata, algodão) e foi desenvolvido pela Bayer nos anos 1950, tinha o nome de Tamaron, e apenas a antiga Hokko, hoje Arysta, depois de vencida a patente, conseguiu sintetizar e fabricar o produto, com o nome de Hamidop. Concorreram no mercado brasileiro até a chegada dos genéricos, dentre outras empresas a Fersol. Quando os genéricos do gênero metamidofós entraram aqui no Brasil a Bayer já tinha no mercado internacional um produto mais efetivo, com menor toxicidade e provavelmente maior rentabilidade.
Além dos genéricos importados, a Fersol, empresa 100% brasileira, conseguiu sintetizar e fabricar o metamidofós aqui no Brasil, se não me engano desde os anos 1990, mas agora a Anvisa, numa ação intempestiva e ditatorial, por meio de portaria, sem ouvir ninguém, e tampouco sem direito de defesa, conseguiu proibir a fabricação e venda do metamidofós no Brasil, a partir de junho deste ano. Se não houver uma liberação há o perigo de a Fersol quebrar, pois era o seu principal produto.
A pergunta que fica no ar é: por que não proibiu antes? Proibir, aliás, nem é a pergunta certa, a pergunta justa é: por que liberou? Sim, porque a Anvisa é um dos três órgãos federais que autorizam e liberam a fabricação e venda. Primeiro libera, e autoriza, mas depois proíbe? Ora, onde estamos?
Tem alguma coisa errada nesse angu, e não é só propaganda ideológica contra agrotóxicos, não. Vejo que a Anvisa deve explicações aos agricultores brasileiros.
Ainda sobre os perigos dos agrotóxicos, uma garantia científica é confirmada pelo médico toxicologista Ângelo Zanaga Trapé, professor-doutor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas, Unicamp, dita em entrevista à rádio CBN (em 24.06.10): "Tenho 30 anos de trabalho em clínica pública de saúde e, em todos esses anos, jamais detectei um caso de intoxicação alimentar por essas substâncias", afirma ele.
Da minha parte afirmo que, se os agrotóxicos efetivamente fizessem tanto mal como apregoam seus inimigos, aconteceria ao contrário com a expectativa de vida média dos seres humanos, não é verdade? Essa média é cada vez maior, no planeta inteiro.
Portanto, consuma seus alimentos sem neuroses. E se você leu este artigo até aqui, saiba que não é exatamente tudo o que você precisava saber, pois tem muita ciência, mais tecnologia e legislação, amparando o uso dos agrotóxicos. Mas já foi um bom começo...
Portanto, lave antes, e seja feliz, pois se lavar fica bão!
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