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Scot Consultoria

A crise ronda. Mas o que esperar dos fundamentos?


Quinta-feira, 10 de novembro de 2011 - 16h48

Zootecnista pela UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.


O Food Price Index, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), que mede no mercado internacional, a variação mensal de preços de cinco grupos de commodities (cereais, óleos/gorduras, lácteos, carnes e açúcar), registrou quedas consecutivas em julho, agosto e setembro. Desde o início do ano, a queda é de 2,6%. A evolução do índice em 2011 tem sido diferente do verificado nos anos passado e retrasado. No mesmo período de 2009 e 2010, foram registradas altas de 9,3% e 7,9%, respectivamente. O contrário deste ano. Veja a figura 1. O atual comportamento do índice é semelhante ao observado em 2008, ano da crise financeira global, desencadeada pela crise norte-americana de crédito de alto risco (subprime). De janeiro a setembro daquele ano, o índice recuou 1,6%. Considerando somente o grupo dos grãos, o índice se manteve estável em 2011. Em 2008 caíra 2,4%. Neste ano o terceiro trimestre foi negativo para os mercados em geral, e para as commodities, em particular. O risco de recessão na Europa e nos Estados Unidos mantém os mercados apreensivos. As medidas para o combate ao endividamento europeu aumentou a aversão ao risco por parte dos investidores e trouxe incertezas com relação ao crescimento econômico mundial. Diante desse contexto, as estimativas de demanda por commodities no curto e médio prazos foram revistas para baixo, fato que tirou a sustentação dos preços. Oferta versus demanda Se há a expectativa de redução da demanda mundial por commodities em curto e médio prazo, resta analisar a oferta. Segundo último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês), a oferta norte-americana dos chamados coarse grains (milho, sorgo, cevada, aveia, centeio) na safra 2011/12 foi revista para baixo em função de queda de produtividade, causada pela seca e problemas climáticos no plantio e desenvolvimento das lavouras. De maneira geral, o relatório apontou que o nível dos estoques continua historicamente baixo em relação à demanda. Essa condição vale para todos os produtos, com destaque para o milho, o café e o algodão. Vejamos a relação entre o estoque de passagem e a utilização de grãos a cada safra. Através desta relação, é possível fazer um rápido balanço do mercado. A figura 2 mostra esta relação para o milho nos últimos anos. A estimativa aponta para a segunda menor relação em dez anos. Isto indica que o mercado está enxuto, levando-se em conta os estoques e o consumo esperado. Resta avaliar como será a produção da safra 2011/12. Os números do USDA apontam para produção mundial recorde de milho, 3,7% maior que a da safra 2010/11, totalizando cerca de 855 milhões de toneladas. No Brasil, de acordo com o último relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a perspectiva para a lavoura do milho de primeira safra é boa. A previsão é de aumento de área semeada em relação à 2010/2011, em razão dos bons preços, que se mantiveram praticamente estáveis em plena colheita da safrinha. A Conab estima que a área semeada na primeira safra de milho deverá ficar entre 8,24 milhões e 8,48 milhões de hectares. Para o milho safrinha, a área semeada deverá ficar entre 5,93 milhões e 5,98 milhões de hectares. A produção total para 2011/12 está estimada entre 57,32 milhões e 58,98 milhões de toneladas, em comparação com 57,51 milhões toneladas da safra 2010/11. Os números fazem parte do primeiro levantamento de intenção de plantio para a safra 2011/2012 da Conab. Para a soja, o levantamento de intenção de plantio da safra 2011/12, indica uma área entre 24,66 e 25,04 milhões de hectares, representando um crescimento entre 2,0% a 3,5% em relação ao plantio da safra 2010/11. Apesar do crescimento, a estimativa para a produção em 2011/12 é de retração entre 4,2% e 2,7% na comparação com a produção de 2010/2011, que foi de 75,32 milhões de toneladas. Para a nova safra, estima-se uma produção entre 72,18 milhões e 73,29 milhões de toneladas de soja grão. A produção total de grãos está estimada entre 157,00 milhões e 160,58 milhões de toneladas, frente 162,95 milhões de toneladas da safra passada. Expectativas para o mercado internacional A fragilidade de preços para as commodities agrícolas no mercado internacional pode perdurar em curto prazo em 2011, com probabilidade de avançar sobre os primeiros meses de 2012. Apesar dos estoques em níveis baixos, a desconfiança e redução de demanda gerada pela crise vigente contrapõem os otimistas, pelo menos em curto prazo. Fica a expectativa de como as economias européias e norte-americanas se comportarão até o fim de ano e em 2012. Os cenários apresentados devem ser revistos para correção de estimativas. Vale também destacar que a trajetória de crescimento da China será determinante para a dinâmica dos preços. Afinal, o fator China não pode ser desconsiderado, principalmente pela sua importância no consumo de produtos agrícolas. A China é o maior importador mundial de soja e não dá sinais de que vai comprar menos. Por fim, se as medidas econômicas resultarem em sucesso, os fundamentos do mercado – estoques enxutos e demanda estimuladora – devem resultar num cenário positivo para as commodities agrícolas. Colaboraram: Alcides Torres - engenheiro agrônomo Hyberville Neto - médico veterinário Rafael Ribeiro - zootecnista * texto publicado na revista Agroanalysis, volume 31, novembro de 2011.
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