Muita especulação. Muita mesmo. Mercado vai subir? Vai cair?
Deixe-me dizer a minha opinião. A arroba não está barata. Estes R$107,00/@, à vista em São Paulo, livre de impostos (R$109,02 no indicador) é o melhor preço deste ano e é também o melhor preço que tivemos desde o final de novembro do ano passado. É um valor justo. Estes valores viabilizam a engorda de um boi, por exemplo.
Porém, ela está cara? Não. Não está. No mercado, caro leitor, os preços tendem a não dar bola para o “valor justo”. Eles sempre estão acima ou abaixo dele. Observe na figura seguinte. Ano passado ela também estava valendo um excelente preço, ao redor de 107 reais. O que ocorreu? No stress do pico de falta de boi ela continuou subindo, e chegou a valer 115 reais.
O que quero dizer com isto? Quero dizer que é nosso trabalho estar de olho no valor justo, e agir de acordo quando ele chega. Quando digo agir, digo no mercado físico, ok? Para quem tem boi. Como venho dizendo, não perca a chance de namorar o frigorífico e conseguir estes preços para as boiadas gordas que estão prontas hoje.
Se subir, mais? Você pode me perguntar. Ótimo! Acabaram-se os seus bois gordos? Aí sim, trave no mercado futuro as boiadas para os próximos meses, ou trave-as com o seu frigorífico de preferência, se quiser.
Ou compre um seguro para a safra, que cubra o seu custo de produção. Para mim essa é a melhor opção. Um seguro de 80 reais custará ao redor de 20 centavos por arroba... E um seguro de 90 reais custará ao redor de 1 real por arroba. Cobrir os custos de produção, esta é a ideia. O que vier acima do seguro você ganha. Abaixo, você não perde nada.
Bom, seguindo em frente, gostaria de colocar alguns estudos que utilizo quando olho para o indicador do boi.
O primeiro, acho que todo mundo sabe, é a arroba do bezerro. Considero a arroba do bezerro como o teto do boi. Atualmente a arroba do bezerro vale ao redor de 118 reais, enquanto a arroba do boi vale 107 reais. Observe abaixo.
Gostaria de chamar a atenção do leitor para o movimento distinto das duas arrobas. O bezerro parece uma mesa. Valeu, no mínimo, 110 reais e no máximo, 133 reais. Hoje ele oscila entre 115~125 reais, e parece que não está disposto a abrir mão deste patamar. O bezerro nos mostra uma projeção de mercado altista, enquanto o boi somente virou altista um mês atrás.
A arroba do boi veio bem mais fraca desde o ano anterior até meados de junho, quando começou a subir. A subida foi tímida até o final de setembro. Enquanto os preços não romperam os 100 reais, à vista, o mercado estava morno. Foi só romper este patamar, a arroba subiu forte desde então. Aí, como disse, virou altista.
Mas, repare uma coisa, por favor—100 reais foi o primeiro “teste” desta alta, certo? Os 105 reais foi o segundo. O boi, até agora, passou nos dois. O próximo teste é 115 reais. Pode não ser este ano. Ou pode?
O teto do boi é o bezerro por um motivo bem simples. Foi onde o boi chegou em praticamente em todos os anos desde o início do plano real, então não estou falando nenhuma coisa que não tenha sido testada no tempo. Não estou chutando e nem fazendo previsões. Basta pegar os preços de mercado e conferir.
Outra coisa interessante de olhar é a variação ano-a-ano dos preços do boi gordo, neste próximo gráfico. Ele mostra como a arroba do boi está para trás nesta história. Atualmente, a arroba do boi está 10% abaixo do que estava em relação ao ano passado. Repare que isso é ruim. Baixas ocorreram de fato em apenas três ocasiões no passado – 1996, 2005 e 2009 -, e em todas foi marcado um fundo do poço para a arroba.
Engraçado isto, né? O bezerro mostrando que a arroba, apesar de ter subido recentemente, não está cara. A variação ano-a-ano confirma que a arroba não só não está cara, como está valendo pouco perante a história. Números... História... Preços... Aonde essa novela vai acabar?
Deixe-me mostrar os gráficos finais.
Gosto demais de colocar estes dois gráficos. Eles mostram muito o que é, e o que foi a pecuária no Brasil.
O que quero mostrar é o seguinte - estamos novamente em um mercado de alta para a pecuária, alta geracional de preços. É claro que teremos os sobe-e-desce normais das safras e entressafras, porém, com o passar dos anos, os ganhos perante a inflação serão positivos, a meu ver, grande parte pela inserção de bilhões de pessoas na classe média.
As razões para isto, acho que todo mundo sabe, então não vou repetir aqui. Vamos direto para os efeitos práticos que estamos sentindo.
Pegue o bezerro. O bezerro voltou a ter seu preço na média histórica, caro leitor, isso é monstruosamente, imensamente importante, se me permite as palavras grandes, pois este pequeno animal demorou mais de vinte anos para chegar até aqui. Um bezerro vale, em média, nestes mais de 50 anos, 725 reais. Hoje um bezerro em SP vale R$750,00. O bezerro está em linha com o mercado em alta, em outras palavras.
O boi? O boi... Bom... Tenho que falar mesmo? Bom, ok, tudo bem... O boi não atingiu, ainda, pelo menos, seu objetivo histórico. Uma arroba média, pasmem, hoje valeria ao redor de 140 reais. Quanto vale a arroba hoje no mercado físico?
É loucura esta comparação? Não creio. O bezerro já chegou na sua média. O boi não. O bezerro é o início da pecuária. O boi o final. Dê tempo ao tempo.
Então, caro leitor, para concluir. Apesar de ter subido recentemente, a arroba do boi está longe de estar de fato, de verdade, “cara”. Por outro lado, como disse no início, ela está boa - remunera a coisa, porém não dá para escrever uma carta para a mamãe contando as boas novas.
Não fique muito animado com 107 reais, em outras palavras. Para 2011, pelo que vimos até agora, é um bom preço e já dá para trabalhar em cima disso. Já dá para namorar os frigoríficos. Como a gente tem que fazer as coisas dia após dia e tomar as decisões no presente, pegamos o que está ao nosso alcance. É por isso também que acho boas as alternativas de seguro para a safra de 2012.
Porém, olhando um pouco mais longe, a coisa ainda está bem aquém do que deveria. Se olharmos para os quatro gráficos que coloquei, a gente deveria estar altista, pois estes gráficos são o coração da atividade, o seu lado fundamental que, é necessário dizer, nem sempre condizem literalmente com o que a gente vê nos jornais ou com o que a gente escuta nos discursos do governo.
É isso.