• Quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Pico de sucesso


Terça-feira, 27 de dezembro de 2011 - 09h47


Os agricultores passaram um bom Natal. E agora se preparam, animados, porm receosos, para a passagem do ano. Acontece que, para a turma do campo, 2011 pode ter sido o melhor ano da histria agrcola recente do Pas. Deixar saudades. Uma pista apareceu, noutro dia, na divulgao, pelo IBGE, dos nmeros sobre o crescimento do PIB nacional relativos ao terceiro trimestre do ano. Enquanto a indstria e o comrcio recuaram, a agropecuria cresceu 3,2%, segurando o rojo da economia. No acumulado do ano, tudo indica um salto de 6% no PIB rural, envolvendo tanto o ramo animal (pecuria) quanto o ramo vegetal (agrcola). E, no interior principalmente, quando a roa vai bem, ela movimenta toda a cidade: o comrcio vende mais, o emprego se aquece, as pessoas ficam mais felizes. Esse o efeito multiplicador da safra de gros, quase 160 milhes de toneladas. Novo recorde. Na balana comercial, as exportaes do agronegcio tambm surpreendem. As vendas ao estrangeiro se situam num patamar 25% acima do ano passado. Mais importante, tais vendas externas geram, descontando o valor das importaes, crescentes supervits, dlares para pagar as contas das importaes industriais e as do comrcio. Merece cutucar: sem o capiau do interior, viveria pior o bacana da metrpole. At os gringos esto perplexos com a fora dos agricultores tupiniquins. Embora os norte-americanos continuem sendo os maiores exportadores mundiais de alimentos, o valor do supervit agrcola brasileiro ultrapassou em 65% a vantagem deles. Quer dizer, o Brasil est mais autossuficiente que o gigante do Norte em alimentos e matrias-primas agrcolas, abastecendo seu mercado interno sem precisar das importaes. exceo do trigo. Nos demais cereais, destacando-se soja e milho, responsveis por cerca de 80% da colheita total, este ano os produtores rurais fizeram barba e cabelo: grande produo com preos elevados. Coisa rara. Vale a pena destacar a cafeicultura. As exportaes de caf devem fechar o ano em US$8,4 bilhes, aumento de 48% nas receitas, em comparao com 2010. Fato curioso: com o mesmo volume embarcado. Ocorre que o consumo mundial de caf, incluindo o Brasil, continua crescendo, puxando os preos. Na Finlndia, incrvel, o consumo per capita chegou a 11,9 kg/ano, bem acima do brasileiro, que est em 4,8kg/ano. Sabia disso? Na floricultura e na fruticultura, os produtores ficaram satisfeitos com 2011. Qualquer supermercado hoje em dia vende flores e plantas ornamentais, mesmo com preos salgados ao consumidor. Frutas finas, que antes vinham de fora, agora, facilitadas pelo melhoramento gentico que as adaptou aos trpicos, amadurecem nas lavouras irrigadas do Nordeste ou nos pomares das montanhas ao Sul. Bonitas e doces. Por onde se analisa se percebe o xito das atividades agropecurias neste ano que finda. Na piscicultura, basta olhar a oferta de fil de tilpia, ou de sua prima mais chique, a vermelha Saint Peter, no comrcio de pescados. Ou, na carcinicultura, verificar as bandejas de camaro criado em cativeiro vendidas a preos mdicos, permitindo gente simples apreciar o deliciosos crustceo que antes somente os ricos manjavam, surrupiados do mar. Como a unanimidade sempre improvvel, os canavieiros andaram de marcha r em 2011. Nunca se viu um tiro no p sofrvel como o verificado na agenda do etanol. Se no fosse a falta de acar no mercado mundial, que adoou os preos, a crise teria sido maior, afetando principalmente os fornecedores autnomos de cana, espremidos entremeio s gigantescas empresas que se instalaram no setor sucroalcooleiro. Essa animao extraordinria na agricultura em 2011 se deve a vrias causas. Na verdade, ela culmina um ciclo trienal de sucesso na produo e, mais importante, na renda do produtor rural, causado principalmente pelo aquecimento dos preos internacionais das commodities. O choque de demanda, puxado pela urbanizao da China, coincidiu com problemas climticos na oferta mundial de gros e carnes, elevando os patamares de preos. Nem a valorizao do real ante o dlar, e tampouco as tremendas deficincias na logstica (estradas esburacadas, ferrovias onerosas, portos vagarosos), impediu boa margem de rentabilidade na agropecuria nacional. Caram os estoques globais de alimentos. Segundo Andr Pessoa, excelente economista agrcola, os nveis atuais dos principais gros - soja, milho e trigo - representam somente 20% da necessidade de consumo no ano seguinte, aperto registrado apenas na dcada de 1970, antes da chamada Revoluo Verde. Por isso continuar certa tendncia altista de preos. Mas os tempos de crise na economia mundial andam tirando o sono no s dos agricultores, mas de qualquer empresrio ou trabalhador, no campo e na cidade. Enormes so as incertezas para 2012. Nada indica, por exemplo, que os chineses mantero os crescentes volumes adquiridos de soja. Na Europa, obviamente, os mercados exigentes estaro bem mais fechados. Os crditos internacionais recuaram. Por a vai. O ano novo est chegando. A agricultura brasileira, com certeza, continuar nele seguindo sua trajetria vitoriosa, coroada em 2011 com um pico de sucesso. A demanda mundial por alimentos continuar a exigir terras e homens aptos, tecnologia e qualidade, coragem e labuta, requisitos de produo que a zona rural oferece no Brasil. Um dia, pois a esperana nunca morre, a sociedade inteira descobrir esta vantagem, a modernidade da roa. E passar a tratar o agricultor nacional com o respeito que, afora amargarem pelo passado, merecem os construtores do futuro. Feliz ano-novo!
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos