O leite é composto por 100.000 tipos de moléculas diferentes, o que lhe confere um alto grau de complexidade, pois cada uma destas moléculas apresenta uma função específica, propiciando nutrientes ou proteção imunológica para o neonato. Contudo, sob o aspecto alimentício para os humanos, o leite assume papel importante na dieta, devido ao alto valor biológico de seus nutrientes (proteínas, lipídeos, glicídios, minerais e vitaminas), além de permitir grande variedade de processamentos industriais de diversos produtos e participar da formulação de outros tantos na alimentação humana.
Um litro de leite fornece em média 700kcal de energia, além de 100% das exigências diárias de cálcio, fósforo e potássio; 37% da exigência de vitamina A; 33% da exigência de vitamina B1; 106% da exigência de vitamina B2; 16% da exigência de vitamina B6 e 129% da exigência de vitamina B12 de uma pessoa adulta.
Considerando a variação da composição do leite, a legislação vigente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) determina valores mínimos de seus componentes, considerando-se leite normal, o produto que apresente:
- teor de gordura: mínimo de 3,0%;
- lactose: mínimo de 4,3%;
- extrato seco total (soma dos percentuais de gordura, proteínas, lactose e sais minerais): mínimo de 11,5%;
- extrato seco desengordurado (extrato seco total menos o teor de gordura): mínimo de 8,5%;
- proteína: mínimo de 2,9g por 100ml.
Para atingir os níveis mencionados acima e aumentar os mesmos para que os produtores obtenham maiores vantagens sobre a remuneração pela qualidade nutricional do leite, que varia entre as indústrias do setor, deve-se promover a adequada nutrição da vaca leiteira, pois esta afeta significativamente a produção e a proporção dos componentes do leite, sendo que através da dieta a glândula mamária é suprida com os componentes nutricionais do sangue para síntese do produto.
Além disso, vários outros aspectos como o fator racial, o estágio da lactação, a temperatura ambiental e as condições de estresse do animal, a perda excessiva de condição corporal, a estação do ano, a contagem de células somáticas, a mastite, a saúde geral da vaca, a manifestação de cio, a frequência e a técnica de ordenha, bem como o avanço genético no sentido de maior volume de produção na lactação, exercem um maior ou menor efeito sobre a composição do leite.
O manejo nutricional adequado pode aumentar a economia de produção e propiciar um rebanho mais saudável.
Estratégias de alimentação que otimizam a função do rúmen resultam em maior produção de leite e dos seus componentes.
A adoção de sistemas de alimentação para aumentar a produção de leite com máximo teor de gordura e de proteína é essencial para se atingir esses objetivos.
PRÁTICAS DE ALIMENTAÇÃO E MANEJO
Deste modo, os técnicos e produtores devem estar bem informados sobre as principais práticas de alimentação e de manejo que podem maximizar a produção de leite corrigido para sólidos totais, que são as seguintes:
- controle de mastite com um programa efetivo de manejo.
- uso de testes eficientes para análise de forragem para a utilização de programas de balanceamento de rações.
- maximizar o consumo de energia proveniente de carboidratos, enquanto se estabelece o atendimento do requerimento mínimo de fibra. O conteúdo mínimo de fibra nas rações de vacas no início de lactação devem ser 18% a 20% de fibra em detergente ácido (FDA), e de 27% a 30% de fibra em detergente neutro (FDN). Cerca de 75% do FDN deve ser proveniente da forragem. Esse procedimento assume tamanho de partícula da forragem adequado para garantir 9 a 11 horas de mastigação e ruminação.
- rações no início de lactação devem conter 35% a 40% de carboidratos não fibrosos (CNF), a fim de fornecer carboidratos disponíveis para estimular síntese de proteína microbiana.
- as rações devem ser balanceadas considerando ambos, proteína total e as frações protéicas.
Orientações para o início da lactação são: 17% a 18% de proteína na ração. Cerca de 60% a 65% do total da proteína deveria ser de fonte degradável no rúmen (PDR), e 35% a 40% de proteína não degradável (PND), enquanto 30% a 35% refere-se a proteína solúvel de alta degradação ruminal (PSR).
- recomenda-se o uso de misturas de fontes de proteína na formulação de rações. Tal procedimento minimizará o não atendimento das exigências em aminoácidos.
- considerar os cuidados na adição de gordura, pois tal procedimento pode diminuir os teores de proteína do leite.
Contudo, pode-se obter aumento na produção de leite e decrescer o balanço negativo de energia. As respostas na produção de leite e condição corporal são normalmente mais importantes em termos econômicos do que o potencial decréscimo no conteúdo de proteína do leite.
- desenvolver estratégias de manejo para maximizar o consumo de matéria seca. Tal fato é de especial importância no início da lactação, permitindo que a vaca minimize as perdas de condição corporal observada após a parição.
- avaliar o consumo de matéria seca do rebanho e, dessa forma, estar atento as seguintes questões.
Quanto de forragem e de grãos as vacas estão realmente consumindo. Os nutrientes consumidos estão suprindo o requerimento das vacas?
Na tabela está um sumário das práticas de alimentação que influenciam a composição do leite. A alimentação correta das vacas em lactação a despeito da complexidade é a maneira de produzir leite com máximo conteúdo de gordura e de proteína.
A implantação de sistemas de pagamento por qualidade, com base nos resultados das análises de gordura, proteína, lactose, e/ou de sólidos totais, e da contagem de células somáticas, possibilitará ao país se enquadrar nos padrões internacionais de qualidade, necessários à manutenção e conquista de oportunidades de mercado.
Diante do exposto, seria de grande importância que a adoção do pagamento por sólidos do leite seja utilizada para recompensar aqueles que produzem leite de qualidade a partir de vacas saudáveis e produtivas e melhores com o passar das gerações, e que não seja apenas uma ferramenta para penalizar aqueles que não atingem critérios industriais mínimos e que penalizam a eficiência de transporte de leite pela indústria.
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