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Scot Consultoria

O engenheiro agrônomo e o agricultor


Segunda-feira, 2 de janeiro de 2012 - 16h48

É professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.


Em dezembro recebi uma emocionante homenagem, vinda da tradicional Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Ribeirão Preto, a AEAARP, que há mais de 60 anos congrega os profissionais da região. Eleito o “Engenheiro Agrônomo do ano de 2011”, faço parte agora desta galeria de profissionais, desde o primeiro homenageado, em 1979. O objetivo deste texto é transcrever o rápido discurso feito na cerimônia de entrega dos prêmios ao engenheiro, ao arquiteto e finalmente, ao agrônomo escolhido e dizer a quem dediquei este prematura homenagem na minha carreira. Do engenheiro agrônomo clássico da produção, tenho muito pouca coisa ainda restante, desde que deixei a sempre saudosa Luiz de Queiroz (ESALQ-USP) em 1991, e fui para os lados da administração e economia do agro. Ainda lembro meu temor quando a Dona Eliza, avó da minha esposa, ao descobrir que um dos inúmeros novos netos que entraram na família era agrônomo, me chamava para avaliar as doenças que acometiam suas frutíferas, nos encontros dominicais na sua chácara... E como combatê-las... Que decepção, que não tenho vergonha de contar. Mas voltando ao discurso, além das tradicionais homenagens aos familiares, meu prêmio foi integralmente dedicado ao agricultor brasileiro. Este cidadão que nos coloca na primeira divisão mundial, responsável pelo pouco crescimento que nossa economia teve em 2011 e o feroz aliado no combate da inflação, pois inunda nossos mercados com alimentos bons, gerando ainda excedentes que são exportados. Em 2011 estes excedentes chegaram a mais de US$90 bilhões, advindos da exportação de diversos produtos, desde açúcar, suco de laranja, papel e celulose, fumo, carnes, algodão, milho, café, enfim, uma pauta muito diversificada de produtos e de mercados, pois nossos produtos estão sendo exportados para um grande número de países, notadamente asiáticos, que para nossa sorte, crescem a taxas impressionantes e não tem e não terão capacidade de produzir para alimentar cada vez mais gente, mais rica, mais urbana e demandante. Subtraindo-se os US$15 bilhões que foram importados pelo agro brasileiro, chega-se a um resultado de US$75 bilhões de saldo. Um incrível volume de recursos que permitiu importarmos notebooks, tablets, carros, vinhos, roupas e realizarmos viagens ao exterior. Pagamos por esta farra de importações, basicamente, com o dinheiro trazido ao Brasil pelos agricultores. Em 2011, este recurso não foi facilmente conquistado. Agricultores lidam com coisas vivas, que são dependentes de chuvas, que às vezes faltam ou vêm em excesso, têm suas produções atacadas por pragas e doenças e custos de produção preocupantemente crescentes. Fora isto, sofrem com a arcaica legislação trabalhista, que não foi desenhada para as especificidades do setor, tributos crescentes para sustentar um Estado cada vez mais agigantado, loteado e aparelhado, custos de capital recordes, além de uma condição logística medieval para exportarem seus produtos. Estes heróis contam ainda com uma crescente violência no campo, com assaltos seguidos nas propriedades e dificuldades das mais diversas. Passou um ano do novo Governo e absolutamente nada melhorou. Andamos de lado. Não sei se temos outro caso no mundo onde existiu uma sequência de escândalos como a que vimos no Brasil de 2011, um verdadeiro “show de horrores”. Mesmo com estes desestímulos, os agricultores trouxeram estes resultados incríveis para a sociedade brasileira, e merecem nossa admiração. Que o nosso agricultor possa repetir o resultado em 2012, contando com mais apoio e respeito da sociedade, e que medidas estruturantes sejam tomadas pelo Governo, em ações que permitam melhorar a capacidade de geração de renda. O engenheiro agrônomo do ano de 2011 dedicou ao agricultor brasileiro o prêmio recebido. Terminei o discurso lembrando ao engenheiro civil e ao arquiteto de 2011, que foi o dinheiro trazido pelo agricultor que movimentou as obras de engenharia no Brasil e consequentemente os escritórios de arquitetura. Devemos agradecer ao homem do campo, o gerador do caixa do Brasil.
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