Por José L. Carvalho
“Achou o quê?” perguntou o pato.
“Achou isso” replicou o rato muito irritado,
“naturalmente você sabe o que isso significa.”
“Eu sei muito bem o que isso significa, quando eu acho
alguma coisa”, disse o Pato, “em geral é uma rã ou um verme.
Mas a questão é: o que o arcebispo achou?”
Alice no país das maravilhas
Lewis Carroll, 1865
PIB do Brasil ultrapassa o do Reino Unido e país se torna 6ª economia do mundo
O Brasil conquistará o posto de sexta maior economia do mundo, ultrapassando o Reino Unido, de acordo com pesquisa publicada pelos principais jornais britânicos na segunda-feira (13/1).
Ao comentar as diferenças sociais, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que o país pode demorar entre dez e 20 anos para fazer com que o cidadão tenha um padrão de vida europeu.
Em geral, os jornalistas brasileiros definem PIB como sendo a soma de todas as riquezas produzidas no país durante o ano. Errado. O PIB é o que o estoque de riqueza produz durante um determinado período de tempo, mas somente pelas transações legalmente registradas. A riqueza de uma sociedade está em seu capital que é qualquer bem capaz de gerar um fluxo de renda ou de serviço. O capital pode ser físico (terras, construções, máquinas, equipamentos, veículos, etc.), financeiro e humano. A população de um país, isto é, seu capital humano, é sua maior riqueza.
O Ministro Mantega está correto ao chamar a atenção para a diferença entre o padrão de vida do cidadão inglês e o do pacato cidadão brasileiro. Embora o PIB não meça bem-estar, essa é uma medida comumente usada na avaliação do desempenho das economias de diferentes sociedades.
Entretanto, precisamos saber o que isso, PIB, significa. Sabemos que não é a riqueza, mas sim fruto dela. Não pode ser a soma de tudo que é produzido, pois o trigo usado no pão estaria sendo contado duas vezes. Assim, PIB é o valor da produção adicionado a cada etapa produtiva. Pode, sob outro ponto de vista, ser obtido pela renda gerada pelo processo produtivo, isto é, pela soma de todos os rendimentos, do trabalho, de juros, de lucros e de aluguéis. É ainda possível considerar o PIB sob o ponto de vista da despesa dos compradores finais.
Ainda assim, a informação que isso nos fornece é bastante limitada, a despeito de uma metodologia comum usada por todos os países. Mais difícil ainda são comparações entre países, uma vez que os valores estão em unidades monetárias diferentes. Desse modo, valores precisam ser expressos na mesma unidade monetária. Por isso mesmo, comparações internacionais são feitas com base em taxas de variação do PIB. No caso específico, o real, por estar super valorizado em relação ao dólar americano, torna a medida do PIB brasileiro, nessa moeda, maior do que na realidade ele é.
Dois exemplos simples dramatizam a fragilidade da medida PIB. Como muitos produtos e serviços oferecidos pelos governos não são diretamente pagos pelo beneficiário, não é possível, nesses casos, calcular o valor adicionado pelo governo. A convenção é adotar como valor adicionado os gastos com pessoal no provimento desses bens e serviços. Isso implica que quanto menos produtivo for o funcionário público, um maior número de funcionários será necessário para o provimento desses bens e serviços e maior o gasto com pessoal e, consequentemente, maior a contribuição do setor público para o PIB.
Entretanto, os governos distorcem o funcionamento dos mercados livres por meio de impostos e regulamentações. No caso brasileiro, seguramente as distorções introduzidas pelos governos têm um efeito negativo sobre o PIB superior ao positivo gerado pelo inchaço do funcionalismo. Em termos de bem-estar, a ação dos governos no Brasil tem sido ainda mais perversa, pois têm restringido as liberdades do pacato cidadão, o que lhe tolhe a criatividade e a possibilidade acumular mais riqueza.
Ainda está viva em nossa memória a destruição provocada pelos desastres naturais que castigaram o Japão em 2011. A perda de riqueza foi grande. Entretanto, o processo de reconstrução fez com que o crescimento anualizado do PIB do Japão de julho a setembro, daquele mesmo ano, atingisse a marca de 6%, cerca de duas vezes mais do que o crescimento registrado em 2010.
É preciso cuidado no uso do PIB para, assim procedendo, não perder o foco da questão.
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