Considerando o ambiente de incertezas e as previsões menos otimistas quanto ao desempenho econômico brasileiro, a redução na taxa básica de juros promovida pelo Banco Central, reduzindo de 11% para 10,5% ao ano, ficou de bom tamanho.
Mesmos os mais céticos quanto à inflação para este ano estão fazendo coro com o governo aprovando a redução.
A queda de meio ponto percentual não pode ser considerada a solução para potencializar o crescimento da economia este ano, contudo o mais importante neste momento é a sinalização futura em relação à política monetária.
Na era da moeda, o Real, a política monetária deu o tom do controle da economia. Juros nas alturas, contenção do crédito, compulsório elevado, são exemplos de política monetária restritiva, cujo resultado final foi ter conseguido manter a inflação sob controle, mas com um elevado preço no que se refere a obter um patamar mais elevado de crescimento. Evidentemente que a falta de condições estruturais que permitisse um crescimento duradouro e sustentado também forçou o governo a engessar em parte o setor privado, isso sem contar o inchaço do setor público, que ampliou demasiadamente seus gastos.
O atual governo sinaliza com outra perspectiva. Pelo menos no discurso indica que haverá mudança na forma de conduzir o controle econômico. A redução dos gastos públicos e aumento nos investimentos são dois sinais importantes para reduzir a dependência do controle econômico da política monetária.
É evidente que, entre o discurso, a intenção e a prática, há uma enorme distância. É preciso imprimir o senso de austeridade no controle dos gastos, introduzindo o controle qualitativo do destino dos recursos públicos, para depois criar condições, via política fiscal mais austera, para um afrouxamento da política monetária.
O setor privado brasileiro espera com muita ansiedade este momento. É como se um grande animal, saudável, estivesse preso, e esperasse o momento para sair da jaula e correr solto na floresta fazendo o que mais gosta, livre.
O que está posto é que o modelo atual não vai nesta direção. Na dá mais para aceitar que a economia brasileira pratique o que foi consagrado no mercado como o voo da galinha. Todos sabemos que galinha na voa, no máximo consegue alguns impulsos, mas insuficientes para deslanchar em seu voo.
Se há algum momento mais favorável para reduzir a dependência da política monetária, penso que é este, afinal, é em época de crise que os sábios identificam as oportunidades.
O Copom andou bem reduzindo os juros básicos, mas pode fazer muito mais pela economia nacional.