Imagem. Aqui reside, certamente, o maior desafio da agropecuária brasileira. Nos países desenvolvidos, a sociedade valoriza o campo. No Brasil, ainda o trata com desdém. Isso precisa mudar.
Essa tarefa cabe, inicialmente, aos próprios agricultores. No mundo da informação, já ensinava o glorioso Chacrinha, quem não se comunica se estrumbica. Apartar-se é um defeito comum do ruralismo.
As lideranças agrícolas nem sempre conseguem destacar, para o conjunto da sociedade, a importância de sua labuta. Continuam a falar para o umbigo, discursar “para nós mesmos”. Há uma barreira de comunicação, difícil de ser rompida, entre o campo e a cidade, onde impera a mídia.
O CAMPO NA MÍDIA
A situação está melhorando. Veículos de comunicação de massa lançam produtos destinados ao campo. O Canal Rural surgiu em 1997 e, embora tenha fechado seu sinal, mantém boa audiência na região sul.
Depois chegou o Canal do Boi. Mais focado no pecuarista e interessado nos leilões de gado, estabeleceu link com a Bolsa de Mercadorias e de Futuros e popularizou o mercado a termo. Ambos os canais de TV, embora dirigidos ao público segmentado, contam com simpatizantes urbanos.
Facilita essa disseminação a antena parabólica. Presente nas fazendas longínquas, o equipamento é disseminado na periferia urbana. Estima-se que 10 milhões de lares a utilizam. O saudosismo das famílias e, certamente, a chatice e a baixo nível da televisão brasileira, empurram telespectadores do asfalto para o meio telúrico.
Está chegando uma grande novidade: vem aí o “Terra Viva”, canal de agronegócios ligado à Rede Bandeirantes. Além de cobrir leilões, eventos e feiras da Agrishow, pretende valorizar a informação e ressaltar as virtudes do meio rural. Vai, assim, formar opinião na defesa do setor agropecuário.
Esse movimento da mídia nacional não ocorre por acaso. Espelha um reconhecimento da força econômica dos agronegócios, que afinal têm sustentado o crescimento da economia brasileira nos últimos anos.
Por esse motivo a revista Veja lançou, já por duas vezes, edições especiais sobre a agricultura e suas cadeias produtivas. A revista Exame, tradicionalmente dirigida ao empresariado urbano-industrial, seguiu no mesmo caminho. Por sua vez, a revista IstoÉ Dinheiro cria um formato específico para o meio rural. Nota dez.
NOVO FILÃO
Claramente, os empresários da comunicação investem em novo filão de mercado, de olho nos leitores e, óbvio, em seus patrocinadores. Após décadas esquecida, entregue à própria sorte, a agricultura parece estar sendo redescoberta pela sociedade. Venerado não é o ruralismo, propriamente dito, mas sim o mundo integrado dos negócios rurais, porteira adentro, mercado afora.
Se tal ocorre, se a sociedade e a mídia nacional miram o campo, isso se deve à revolução tecnológica e produtiva que transformou a velha oligarquia em modernos empresários rurais.
PROBLEMAS
Nem tudo, todavia, são flores. O preconceito e o desconhecimento permeiam ainda entre formadores de opinião, jornalistas e políticos. Facilmente se observa o preconceito urbanóide na suposta questão do trabalho rural escravo. A causa humanitária contra a servidão disfarçada serve de trampolim para a língua ferina, como se no campo ainda dominasse a escravatura. É o fim da picada!
A deturpação brota da cultura. A urbanização se processou de forma acelerada, venerando a indústria nascente, restando ao campo a imagem do atraso. Como se, para trás, restasse apenas o passado. Em certo sentido, a idéia correspondia à realidade. Até a década de 70, a economia agrária caducava.
Mas a política confundiu as idéias. O acirramento da luta do MST, desde 1985, envolveu a esquerda e encantou o senso comum. Em meados de 90, a famosa novela “o rei do gado”, transmitida pela rede Globo, arrasou a imagem da agropecuária.Não era para menos. A mocinha sem-terra, linda-meiga, enfrentava o bandido, coronel-malfeitor. A boiada ficou mal-afamada.
A transformação da roça, rumo à modernidade, já operava forte desde a década de 70. Todavia, as mazelas da globalização e a formação da sociedade pós-industrial distraíram as pessoas nos tormentos do cotidiano, cerrando sua visão sobre as mudanças no campo.
RENOVAÇÃO
O movimento favorável da mídia exige uma tarefa inadiável das lideranças rurais: apostar na renovação, tanto das pessoas e como dos métodos de atuação.
Os jovens conhecem a linguagem de seu tempo. Carecem ser estimulados a tomar as rédeas do processo de valorização do campo.
Nos sindicatos, nas cooperativas, nas entidades, fazendas, está na hora de substituir a velha guarda pela moçada. Ninguém agüenta mais a arcaica choradeira ruralista, aquela mania de reclamar de tudo, do governo principalmente. Líderes que dominam a cena há décadas fariam muito bem em se aposentar, investindo em novos valores, preparando os futuros dirigentes agropecuários.
Aí sim, com gente pró-ativa, empreendedora, comunicativa, com nova linguagem, somente assim muda definitivamente a imagem do campo. Para melhor.
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