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Scot Consultoria

Era uma vez... Mercosul


Quarta-feira, 1 de junho de 2005 - 20h07

É médico veterinário.


  • Vamos começar com uma estória, fruto da imaginação, mas que, me parece, se ajusta perfeitamente como uma metáfora para a consolidação do Mercosul.
    ERA UMA VEZ
  • Era uma vez...um rapaz raquítico, muito feio e em função do seu aspecto físico, extremamente tímido. Por tudo isso, tinha enormes dificuldades para se relacionar com as meninas. Namoradas? Nem pensar! Sentia-se rejeitado e, por consequência, frustrado.
  • Um certo dia, por essas coisas do destino, encontrou a milenar lâmpada de Aladim. Como acontece nas fábulas infantis, ao esfregar a lâmpada libertou o gênio que prontamente se dispôs a atender os seus pedidos, mas com uma ressalva – nos tempos atuais, por determinação superior, ficara estabelecido que para cada quatro desejos solicitados pelo detentor da lâmpada e atendidos pelo gênio, seria imposto um defeito ao solicitante – uma espécie de contrapartida.
  • O rapaz, ansioso, concluiu que a proporção entre quatro vantagens e uma desvantagem até que era bem razoável e prontamente apresentou seus desejos - desenvolver um corpo atlético, com músculos bem delineados, aspecto másculo e um rosto bonito de tal forma que sua presença provocaria suspiros na platéia feminina; adquirir uma cultura sólida e uma inteligência ágil, de modo a poder discorrer com desenvoltura sobre os temas mais importantes do momento, o que certamente impressionaria as mulheres; desenvolver a auto-estima e tornar-se uma pessoa extremamente simpática e comunicativa; tornar-se financeiramente rico de modo a propiciar viagens em locais idílicos para suas futuras namoradas.
  • Atendidos os pedidos, o gênio comunicou o defeito que lhe seria atribuído como contrapartida – o rapaz sofreria de uma impotência sexual grave e irreversível. Conclusão – um único defeito pode eliminar os benefícios de uma séria de vantagens.
    MERCOSUL
  • Brincadeiras à parte, a estruturação do bloco econômico Mercosul está encontrando sérias dificuldades em função de situações semelhantes à exposta acima. A natureza brindou esta região do planeta com vantagens comparativas imensuráveis em relação a outras regiões no que se refere à capacidade de produzir alimentos ao longo do ano em grandes quantidades e com baixos custos. Vejamos algumas dessas vantagens comparativas: - Dispomos ainda de alguns milhões de hectares de terra a serem incorporados no processo produtivo da agropecuária. Isto nos possibilita prever um crescimento horizontal acentuado na área de produção primária. Esta possibilidade é inimaginável na Europa, onde as fronteiras agrícolas há muito esgotaram seus limites. - O crescimento vertical da produção, via aumento da produtividade através da incorporação de tecnologia, é outra possibilidade latente na medida em que, ressalvando algumas culturas já bem tecnificadas, grande parte das nossas explorações agrícolas se caracteriza pela baixa eficiência produtiva. - Considerando que os países que estão mais ao sul da América Latina, e aqui se inclui a região sul do Brasil, foram privilegiados com um clima sub-tropical que permite a exploração agrícola ao longo dos doze meses do ano, é forçoso reconhecer que a natureza foi extremamente dadivosa com a população e com a economia dessa região. Afinal podemos produzir grãos no verão e no inverno, bem como pastagens para alimentar os rebanhos! Isto significa que, na medida em que podemos utilizar a terra e os equipamentos de forma mais intensiva ao longo do ano, os nossos custos fixos se tornam muito menores quando comparados aos de outras regiões do planeta. Mas... como a estória do rapaz feio, recebemos a contrapartida....
  • Sofremos de uma deficiência intelecto-cultural crônica que limita sobremaneira o nosso campo de visão. O mundo está olhando com avidez para a América Latina, prevendo que aqui está o futuro celeiro da humanidade. Enquanto, as grandes corporações multinacionais da área de alimentos já instaladas aqui, juntamente com outras que estão chegando, rapidamente se ajustam para atender a essa nova e promissora demanda, nós latino-americanos, na nossa imensa insensatez, preferimos ficar acirrando disputas entre países vizinhos, alimentando rivalidades idiotas e, ao que parece, não conseguiremos consolidar o Mercosul como um importante bloco econômico.
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