Nos últimos meses o Pensa – Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo coordenou um estudo que foi chamado “Tomografia da Cadeia do Leite de São Paulo”. O estudo foi idealizado pela Câmara Setorial do Leite de São Paulo, pela Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo e pela Codeagro (Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios). A Scot Consultoria participou como parceira do Pensa no desenvolvimento do estudo inicial e irá participar da segunda fase do projeto, com início no segundo semestre de 2006.
PRIMEIRA FASE
Na primeira fase foram levantadas, e integradas, informações de toda a cadeia de lácteos do Brasil, com ênfase no Estado de São Paulo. Foram reunidas informações do mercado internacional, mercado interno, tendências, índices de competitividade e, toda e qualquer informação que fosse relevante para o estabelecimento de uma estratégia de médio e longo prazo para a cadeia do leite.
O estudo identificou que em 2004 (números atualizados pelo IGP-DI para dezembro de 2005), o agronegócio lácteo brasileiro movimentou R$66,21 bilhões, o que o coloca como o maior agronegócio isolado do Brasil. Vicente Nogueira Netto, engenheiro agrônomo, disse certa vez que “toda vez que alguém fala de leite há necessidade de colocar números grandes, que evidenciam a importância da cadeia. Talvez seja complexo de inferioridade.”
Brincadeiras à parte, o fato é que as perspectivas de crescimento se abrem para a pecuária leiteira nacional, enquanto o Estado de São Paulo está ficando para trás.
São Paulo ocupou lugar de destaque quanto ao volume de leite produzido. Segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, até 1998, o Estado ocupava a segunda posição no ranking de produção de leite, atrás apenas de Minas Gerais.
Em 1999, os Estados de Goiás e do Rio Grande do Sul ultrapassaram o Estado de São Paulo na produção leiteira.
Em 2001 foi a vez do Paraná superar a produção paulista. Atualmente São Paulo ocupa o quinto lugar desse ranking, seguido por Santa Catarina que, por ano, produz apenas 270 milhões de litros a menos. Em 2005, a captação de leite nos estabelecimentos paulistas fiscalizados reduziram-se em 4,56%; em Santa Catarina, no mesmo período, a captação aumentou 19,67%. Persistindo essa relação, Santa Catarina terá ultrapassado São Paulo em cerca de 70 a 80 milhões de litros já em 2005.
A produção de Santa Catarina tende a ultrapassar a produção paulista, rebaixando São Paulo para o sexto lugar.
É natural que os agentes da cadeia leiteira paulista se preocupem com o processo e reajam. Fica mais evidente essa preocupação sabendo-se que São Paulo consome 32,4% do leite nacional, e produz apenas 7,4%.
Para reagir, é preciso informação imparcial e entender todas as variáveis. Na primeira fase do estudo, em que foram levantadas informações gerais, houve uma polêmica em torno do índice de competitividade das bacias leiteiras do Estado de São Paulo, que considerou as bacias de Campinas, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto entre as mais competitivas.
Argumentou-se na ocasião, que essas são as bacias que mais perdem importância leiteira. De fato estão perdendo importância justamente por serem as regiões paulistas de maior competitividade em produção agropecuária. É natural que a pecuária leiteira sofra maior concorrência com outras culturas nestas regiões, principalmente a da cana-de-açúcar.
Para estabelecer o índice de competitividade, o critério adotado privilegiou apenas variáveis estruturais, produtivas, genéticas, etc. Foram consideradas apenas variáveis técnicas e não econômicas. Por isso, regiões de alta competitividade para o leite, o serão também para outras culturas. Isso é uma constatação técnica.
Resta agora definir ações para que cada região e cada produtor com o seu respectivo nível tecnológico possam adotar medidas para se adaptar ao mercado e às tendências regionais. São justamente essas medidas o foco da segunda fase do projeto.
Trata-se de um redesenho da cadeia produtiva do leite no Estado de São Paulo; uma proposta de ação. Mas, como sempre acontece, já há quem diga que é perda de tempo, que São Paulo não tem futuro na atividade leiteira...
Pode ser verdade, e mesmo que seja, ainda assim é preciso uma estratégia de ações para dotar toda uma estrutura para uma nova realidade. Independente de qual seja o futuro, ter informações e uma estratégia de ação é fundamental.
O estudo de São Paulo, evidentemente, acabará adaptado para os demais Estados produtores de leite do País. Ótimo! Dessa forma o setor vai lentamente se acostumando a trabalhar com planejamento e com base em informações consistentes. Só assim o Brasil ocupará lugar de destaque no mercado mundial.