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Scot Consultoria

Funcionários! quanto se pode pagar?


Terça-feira, 29 de maio de 2007 - 14h10

Engenheiro Agrônomo


Incontestável dificuldade na produção agropecuária, a relação com os funcionários é um problema que se agrava ano a ano. E a dificuldade é antiga. Não há quem não tenha ouvido falar no meio rural que “o negócio é fácil, o difícil é lidar com gente”. Além da necessidade de treinamento e motivação, tema exaustivamente explorado nos últimos anos, há a própria questão do custo dos funcionários. O PRINCÍPIO A lei trabalhista no Brasil remonta a realidade vivida na primeira metade do século XX, quando a industrialização e o progresso proporcionavam grandes mudanças nas relações de trabalho. Era um mundo em mudanças. O capitalismo vivia a força dos sindicatos lutando por relações mais justas no trabalho. Em algumas partes do mundo, como a antiga União Soviética, os regimes socialistas eram aplicados na prática criando, no mundo todo, uma legião de fãs e incentivadores. Era a oportunidade de ver realizada a utopia intelectual: um mundo de igualdades para todos. Doce utopia!! É nesta época que se inicia a legislação trabalhista no Brasil, sob o comando de Getúlio Vargas. SALÁRIOS X CUSTOS Porém, o tempo passou e as coisas não mudaram. A realidade daquele período não deveria ser extrapolada para os dias de hoje. No entanto, tem sido assim com as relações trabalhistas. O paternalismo, se é que se pode dizer assim, custa muito às empresas. E, indiretamente, também custa aos funcionários contratados. Fazendo uma breve revisão em análises econômicas, encontra-se custos de encargos trabalhistas variando entre 75% a 110% do salário pago nos meios rurais. Em outras palavras, se um funcionário for contratado por R$760,00/mês (dois salários mínimos), o custo mensal será de R$1.330,00 a R$1.580,00 para a empresa, dependendo da região, critério e atividade. São diversos encargos que acabam encarecendo o processo de contratação. O funcionário custa muito para o produtor e recebe pouco sob sua própria ótica. Ambos estão certos, mas nos últimos anos a corda está pendendo para o lado dos funcionários. AUMENTO DO SALÁRIO Desde que foi criado e instituído, no final da década de 1930, o salário mínimo perdeu valores reais até meados da década de 90. Foram cerca de 50 anos de perda dos valores no salário mínimo. Até meados da década de 90, o valor real do salário mínimo havia recuado cerca de 70% desde sua criação, quando corrigido pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna). A partir de meados da década de 90, por ocasião do início do plano Real, o salário passou a recuperar valor. Usando o mesmo índice (IGP-DI), o salário mínimo valorizou cerca de 54% de 1994 a 2007. Ótimo do ponto de vista social e mercadológico: melhor qualidade de vida, maior poder de compra. No entanto, o custo para as empresas tem se tornado insuportável, especialmente para quem atua na exigente produção de commodities. De 1994 a 2007, o valor do leite recuou 37%, atualizando os preços pelo IGP-DI. Preços do boi gordo e bezerro recuaram 39,5% e 33,3%, respectivamente, adotando os mesmos critérios para o mesmo período. Evidentemente a relação de troca entre produtos vendidos e salários pagos pelos pecuaristas piorou nos últimos doze anos. Na prática, essa constatação reforça a necessidade de ganho de escala. Para manter o mesmo número de funcionários na fazenda, é preciso produzir mais. Definir quanto se pode pagar de salário dependerá de cada caso. Há necessidade de se verificar a escala de produção, disponibilidade de serviços, competição com outras culturas e até mesmo a força do sindicato na região. ANTES E AGORA Há dez anos atrás uma boa empresa leiteira trabalhava com a soma do salário e encargos dos funcionários compondo cerca de 14% a 18% dos custos operacionais totais. Com a valorização dos salários nos últimos anos, a participação do componente mão-de-obra nos custos de produção se alterou. Recente estimativa da Scot Consultoria, com base em estudo realizado pelo projeto Gesis - 2010 (Gestão Estratégica para o Sistema Agroindustrial do Leite – 2010), coordenado pelo PENSA/USP (Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial), concluiu que a participação média dos funcionários nos custos de produção está por volta de 20% a 24% do custo operacional de produção do leite. Portanto, em dez anos houve aumento de cerca de seis pontos porcentuais na participação da mão-de-obra dos funcionários em fazendas leiteiras. Para chegar a essa conclusão foram entrevistados cerca de 230 produtores em São Paulo, durante janeiro e março de 2007. Em média, cada funcionário envolvido na atividade leiteira rendia 210 litros de leite por dia. O cálculo envolve além de ordenhadores, inseminadores e operadores de dieta, os tratoristas, serviços gerais, escritório e outros funcionários que se envolvem com a produção de leite. Inclui também a mão-de-obra familiar. Apenas o valor do administrador, quando existe, é excluído do cálculo. Quando a administração é familiar, e a pessoa também se envolve nas operações, é preciso ratear o tempo. ESTABELECENDO INDICADORES É interessante criar indicadores para estabelecer metas de produtividade. Sendo assim, considerou-se duas situações. Na primeira foi considerado um salário médio de R$550,00 (1,5 salário mínimo) por funcionário, com incidência de encargos de 75% sobre o salário. Na segunda situação, estimou-se dois salário mínimos, em média, valor em torno de R$760,00, já considerando a vigência do novo valor. Manteve-se os 75% de incidência de encargos. Para calcular o salário médio é simples. Basta somar o total de salários e encargos pagos no ano, preferencialmente, e dividir pelo número de funcionários que trabalham na atividade. Quanto maior o salário e a incidência de encargos, pior será a situação simulada e analisada na tabela 1. Pela média dos produtores pesquisados, a situação começa a ficar confortável quando o rendimento ultrapassa as marcas de 300 a 400 litros de leite produzidos ao dia para cada funcionário envolvido na atividade, dependendo do salário médio que é pago por funcionário. ANÁLISE PRÁTICA Evidentemente que se trata de apenas um indicador que não pode ser analisado de forma isolada. Caso contrário, produtores com menos de 300 litros de leite por dia seriam inviáveis, pois trabalhariam com 100 a 150 litros de leite por dia por pessoa envolvida. No entanto, não é bem assim que acontece. No caso da pequena escala, a participação da mão-de-obra na composição final do custo de produção tende a ser maior que os 20% a 24%. Pode ultrapassar os 30%. Nestes casos, o produtor precisa ser mais eficiente em outros componentes dos custos de produção, como por exemplo, a redução de custos fixos ou indiretos. Em outras palavras, as unidades de menor eficiência em litros de leite por pessoa envolvida dependem mais do esforço manual para reduzir custos fixos. Por exemplo, o corte e picagem da forragem pode ser manual, com o apoio de equipamentos estacionários acionados por energia elétrica ou por tomada de potência do trator. Quanto menos se imobilizar capital em máquinas e equipamentos, melhor. Outra saída para a pequena escala de produção por pessoa envolvida é a diversificação da atividade, tema que tem sido bastante debatido. Assim, há o rateio do tempo do serviço e outros bens de produção entre as atividades conduzidas na propriedade. AS DIFICULDADES Considerar o volume diário de produção leiteira por pessoa envolvida pode ser um bom parâmetro para estabelecer metas. Ao final, a análise reforça a necessidade de ganhar escala de produção por volume de área ocupada. Em termos de decisão de investimentos, o parâmetro eficiência por funcionário deve ser sempre levado em conta. O que se ganha no rendimento quando se investe em determinado equipamento ou maquinário? Vale a pena no resultado final? Finalmente, as comparações apresentadas devem ser usadas para uma reflexão do ponto de vista do custo de oportunidade. Ih!!!! De novo o custo de oportunidade... De fato, em regiões com avanço de outras atividades agrícolas, ou mesmo com ofertas de empregos na agroindústria, a pecuária leiteira compete com os salários pagos nas demais atividades. O resultado é que, para se conseguir um bom funcionário, o salário tem que subir. Inclusive deve ser superior aos pagos regionalmente por outras atividades. É evidente! Salário por salário, um funcionário mais qualificado, confiável, irá preferir trabalhar na agricultura, por exemplo, ou na severa rotina de uma fazenda leiteira? Trata-se de uma questão essencial no momento de se planejar investimentos e metas de médio a longo prazo.
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