Palestra para um público seleto, formado por técnicos e produtores.
Cidade: Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul.
Em meio à apresentação, vem uma daquelas perguntas: Compensa terceirizar a criação de bezerras leiteiras por R$60,00/mês até a parição?
Como diria, com galhardia, o grande mestre Celso Boin da “Luiz de Queiroz”: É preciso fazer contas!
AO LÁPIS!
São casos que precisam ser analisados. Dificilmente existe uma resposta de imediato a uma questão dessas, a menos que seja o foco do que está sendo apresentando.
Enfim, são questões que levam os técnicos a pensar. E é o choque das diversas opiniões que leva à melhor solução.
Para analisar a viabilidade de terceirização da criação dos animais, é preciso saber o custo de produzir uma novilha pronta para o parto.
Evidentemente, cada empresa possui um custo diferente de criação das fêmeas jovens. Na prática, as eficiências, ineficiências, técnicas de manejo e gerenciamento de rotina tendem a alterar, ora favorecendo, ora desfavorecendo, o custo de produção em relação a outras empresas produtoras de leite.
CRITÉRIOS ADOTADOS
Sendo assim, estabeleceu-se o seguinte critério para se chegar ao custo de produção dos animais jovens, do nascimento até o momento da parição.
Considerou-se o custo do sêmen, já levando em conta a eficiência média do inseminador e porcentagem de machos que nascem.
O rebanho considerado foi o holandês de alta produção, embora os custos com girolando, jersey e outras raças aptas para produção leiteira tendam a ser semelhantes.
Custos operacionais e de funcionários foram adaptados de situações reais de empresas que trabalham com rebanhos de 100 a 150 cabeças, no total.
Os custos com forragens, medicamentos, concentrados, exames, etc. foram calculados a partir de casos práticos e de recomendações técnicas, acadêmicas ou de consultorias.
Desconsiderou-se a mortalidade no cálculo dos custos de produção. E os custos da inseminação da novilha irão compor o custo do próximo animal, a nascer. Portanto, não entram.
Nas despesas operacionais entram os custos diretos e as depreciações, calculados para cada animal. Dependendo da escala, o custo diário por cabeça aumenta ou diminui.
Enfim, como pode ser constatado na tabela 1, o custo de produção de uma novilha, do nascimento até a parição, acaba saindo por volta de R$2,84 mil.
Muitas vezes, o custo se esconde na propriedade, pois dificilmente o produtor tem o hábito de atribuir devidamente os recursos entre as categorias do rebanho. Com isso, gera-se a impressão de que produzir novilhas dentro da empresa tem um custo inferior ao real.
De acordo com os cálculos, se os animais parirem com 26 meses, o custo mensal de produção ficará em torno de R$109,20, embora grande parcela destes custos seja de difícil mensuração, por exigir muito critério para atribuí-los corretamente.
COMPENSA OU NÃO
Com base no raciocínio desenvolvido, evidentemente que compensa terceirizar a produção de fêmeas jovens. Observe, na figura 1, a diferença entre os custos dos animais produzidos na própria empresa e os custos dos mesmos terceirizados aos preços de R$60,00/cabeça/mês, conforme argüido em palestra realizada pela Scot Consultoria.
Para o produtor, dono do rebanho, o ganho virá da redução nos custos em manter atenção, recursos, tempo e área para produzir animais jovens.
Manterá o foco de sua propriedade na produção de leite. Com isso, será capaz de aumentar a produção na área disponível (escala) e caso tenha bons índices zootécnicos, o seu rebanho presente será composto apenas de vacas em lactação e solteiras – vacas secas no período pré-parto. Mais de 80% do seu rebanho estará em produção.
Há ganhos na produção por pessoa empregada e ganhos significativos nos custos de produção com a redução de lotes, rações e manejos a serem administrados na propriedade.
Inclusive acaba por facilitar a rotina dos funcionários que poderão ser melhor treinados para as funções de alimentar e ordenhar.
Os mesmos ganhos valem para unidades familiares, onde não há funcionários contratados.
DE ONDE SAI A MÁGICA?
A dúvida que fica é seguinte: como o parceiro conseguirá criar o animal com a mesma qualidade cobrando cerca de R$1,2 mil a abaixo do custo de produção? Não há riscos do parceiro negligenciar a criação dos animais piorando a qualidade do rebanho?
A resposta, novamente, vem do foco na produção e no ganho em escala. Os mesmos ganhos que o produtor de leite obtém mantendo o foco na atividade de produzir leite, o parceiro que terceiriza o serviço terá na criação dos animais jovens.
O empresário, que criará os animais até a idade de parição, administrará a sua atividade como recria e engorda.
O custo de produção do animal, quando comparado à empresa de atividade completa, é bem inferior pela viabilidade de ganhar escala e também de se dedicar exclusivamente a esta atividade.
Como o peso vivo médio dos animais da propriedade ficará em torno dos 200 kg a 250 kg, a capacidade de ganho em lotação também é significativamente maior, reduzindo ainda mais os custos operacionais.
PARA EFEITO COMPARATIVO
Uma atividade de pecuária de corte para recria e engorda, de alta produtividade, chega a custar cerca de R$280,00 por ano por cabeça.
Evidentemente a criação de novilhas leiteiras tende a exigir bem mais em termos de custos. Supondo que o custo anual, por cabeça, seja de R$520,00, quase o dobro da pecuária de corte, o resultado do parceiro que terceiriza a criação de animais jovens será o exposto na tabela 2.
Observe que, em escala, o empresário teria um lucro de R$1,6 mil por hectare por ano, caso tenha 8 animais por hectare, que na prática significa uma lotação de 3,6 unidades animais (1 unidade = 450 kg de peso vivo) por hectare.
O que se especializa na criação dos animais também manteria uma receita mensal, uma das vantagens da produção leiteira.
PREMISSAS
Evidentemente que nem tudo são flores. Para que a conta “feche”, o empresário que terceiriza o serviço precisa trabalhar com escala.
Sendo assim, ou é um pequeno produtor terceirizando a recria de um grande, ou o mesmo produtor tem que ter vários parceiros pequenos.
A seriedade também é ponto fundamental nas parcerias de terceirização. É comum casos de insucesso por falta de cumprimento de acordos, e geralmente isso ocorre da parte do que está sendo contratado para terceirizar o serviço.
Enfim, tais práticas são tendências do mercado e favorecem ambos os lados. É tão favorável que, voltando à tabela1, mesmo que o proprietário terceirizasse a recria pelo mesmo valor de seu custo de produção, ainda sairia ganhando pelo aumento de escala na produção de leite dentro de sua propriedade.