As unidades produtivas de leite são geralmente pequenas em área, mesmo que ainda se refiram a elas como fazendas.
Pesquisa realizada pela Scot Consultoria, no início de 2007, identificou o tamanho médio de propriedades leiteiras em torno de 140 hectares, dos quais cerca de 55 hectares eram destinados à produção de leite.
No universo de 243 produtores, a média do rebanho foi de 166 cabeças, sendo que, em média, havia 68 vacas em lactação.
A produção diária ficou em torno de 1.186 litros, evidenciando que se trata de um público diferenciado dentro da realidade brasileira. A pesquisa foi feita para o Estado de São Paulo, apesar de que alguns produtores de Minas Gerais e Goiás também responderam.
A produtividade ficou em torno 9,3 mil litros por hectare por ano. Para o cálculo de produtividade, desconsidera-se eventuais áreas para produção de grãos, mesmo que sejam utilizados na nutrição de vacas de leite.
No geral, havia um funcionário empregado na atividade para cada 208 litros de leite por dia.
Os rebanhos predominantes foram o holandês e o girolando, juntos presentes em mais de 87% das empresas.
Apesar da elevada produção média, apenas 26,3% dos produtores produziam mais de mil litros de leite por dia. A grande maioria – cerca de 60% - produzia entre 100 e 1.000 litros de leite ao dia.
MECANIZAÇÃO
Esse preâmbulo tem como objetivo situar o leitor com relação às características das empresas, para efeito de comparação com a sua própria realidade.
Em média, nas empresas que possuíam tratores, era utilizado 1,8 trator para a atividade de produção leiteira. Diversos produtores responderam que o trator era utilizado apenas metade, um terço ou dois terços do tempo, por exemplo, na atividade. O consumo de diesel nas propriedades foi em torno de 614 litros mensais.
Sendo assim, considerando um consumo de 8 litros por hora-máquina, pode-se estimar que cada trator é utilizado em 1,4 hora por dia. Portanto, estima-se que os tratores sejam usados cerca de 500 horas por ano nas empresas.
CUSTOS DA HORA TRABALHADA
Economicamente, o uso de 500 horas anuais é insuficiente para diluir os custos fixos e indiretos do maquinário.
Os custos fixos e indiretos do trator envolvem depreciações, seguros, alojamento, manutenção, etc. Como usa pouco o maquinário, tais itens acabam pesando mais nos custos.
Os custos diretos, que se relacionam com o volume de utilização são o diesel, os lubrificantes, a manutenção de rodados, etc. Eles permanecem proporcionais à utilização do trator, dando a impressão de economia.
Ainda assim, pelos custos difíceis de visualizar – fixos e indiretos – o valor da hora trabalhada é maior quando se usa menos. Observe, na tabela 1, a relação de custos horários entre faixas de tratores e volume anual de uso.
O próprio salário do tratorista poderia contribuir com o aumento do custo indireto ou fixo.
Um homem deve trabalhar cerca de 2.000 a 2.100 horas por ano, descontando férias, feriados e fins de semana. Incluindo o tempo de manutenção, reparos, regulagens, etc., para ter um funcionário que trabalhe apenas com o trator, a máquina deveria trabalhar, no mínimo, cerca de 1.500 horas por ano.
Caso contrário, o tempo do ...... tratorista deverá ser rateado com outras atividades na empresa, o que geralmente acontece na prática.
CONSEQÜÊNCIA
Reforçando o conceito, dificilmente é perceptível na prática o aumento de custos que ocorre, conforme apresentado na tabela 1.
No dia-a-dia, na verdade, o produtor estará economizando em diesel, lubrificantes, rodados, etc. Se tiver um excelente programa de manutenção, o trator estará bem conservado, mesmo com o passar dos anos.
Porém, a conseqüência prática deste aumento de custos, comum nas propriedades rurais, é o sucateamento do maquinário.
Com o passar do tempo, o produtor fica sem condições de substituir o trator por outro igual ou equivalente e, gradualmente, os custos, que antes eram imperceptíveis, passam a se transformar em custos desembolsáveis.
Em outras palavras, aumenta consideravelmente o custo das manutenções e o tempo de horas paradas em oficina, o que causará prejuízos operacionais indiretos.
PLANEJAMENTO
A única forma de evitar o processo é planejar o dimensionamento e uso dos maquinários.
Na tabela 2 há o detalhamento do que acontece em uma empresa em quatro situações diferentes de horas de uso dos tratores. Diferente da tabela 1, em que está exposta a análise padrão divulgada pela Scot Consultoria, partiu-se das 500 horas anuais, que foi a quantidade estimada de uso nas empresas leiteiras.
Duas características nesta análise prática também se diferenciam dos dados apresentados na tabela 1.
Uma delas é a variação nos anos depreciados. Definiu-se que o trator seria depreciado em 10 mil horas de serviços. Por isso que a depreciação vai de 20 anos até 5 anos. Conseqüentemente o valor da depreciação anual, no custo da hora máquina, aumenta à medida que se utiliza mais o trator.
Com 2 mil horas de uso por ano, o trator será substituído em cinco anos, enquanto que com 500 horas anuais, a substituição prevista seria em 20 anos.
A outra diferença é a oscilação no salário do operador, de acordo com o volume de horas trabalhadas por ano. Considerou-se que quando o trator trabalha menos, parte do tempo do operador se destina a outras atividades.
O trator utilizado na análise é o Massey Ferguson 275 4x4, um dos modelos mais freqüentes nas propriedades brasileiras.
Observe também, na figura 1, a participação dos itens de custos na composição da hora máquina. A depreciação aumenta pelo motivo comentado anteriormente.
No entanto, veja que a participação dos salários se mantém.
Solucionar esta questão parece simples, mas não é. É preciso muito planejamento e muita criatividade.
Às vezes, a empresa demanda um trator, ou o segundo trator, mesmo sem que haja volume de serviço suficiente para ocupar ambos integralmente. Neste caso, grosso modo, ruim com o trator, pior sem ele.
Neste momento, em que o volume de produção não é suficiente, o planejamento de serviços, terceirização de maquinários e diversificação na empresa passam a ser alternativas. São de difícil aplicabilidade prática, mas não deixam de ser opções de solução.
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