Depois de um ano ruim em 2006, o mercado do leite em 2007 definitivamente vai ficar marcado como um ano de recuperação de preços e de início de uma nova fase: a de investimentos.
Desde o segundo semestre do ano passado o setor tem assistido a aquisições e grandes investimentos por parte das indústrias de laticínios. O resultado tem sido uma maior procura pela aquisição de matéria-prima e preços firmes durante o período de safra. Entre janeiro e abril, o preço médio do leite pago ao produtor reagiu em média 12,2%. Foi a maior reação observada para esse período nos últimos seis anos.
POTENCIAL
O interesse dos investidores no mercado de leite se deve ao fato de que o setor tem muito a ser explorado no país. Estamos entre os maiores produtores mundiais de leite, porém nossos índices zootécnicos são muito baixos, longe de alcançar o potencial existente. Existe espaço para a produção aumentar. E muito.
O consumo de leite no Brasil é baixo mas, com o aumento de renda da população que vem ocorrendo, a expectativa é de crescimento da demanda. Esse fato também tem sido observado em nível mundial. Com a população crescendo em níveis acima da produção de leite, a procura por lácteos tem aumentado.
Aproveitando essa demanda crescente e os problemas vividos pelos principais exportadores (Austrália e Nova Zelândia), o Brasil vem exportando lácteos como nunca, saindo da posição de importador – tendo registrado déficits anuais superiores a US$350 milhões em 2000, por exemplo - para, em apenas três meses (janeiro a março de 2008), ter faturado mais de US$40 milhões com os embarques.
O saldo é pequeno considerando o potencial que o setor apresenta, no entanto é fantástico se for analisada a evolução ocorrida nos últimos anos.
OS INVESTIMENTOS
Vários foram os investimentos observados nos últimos meses: a Perdigão, dona da Batávia, comprou a Eleva (antiga Elege) e, mais recentemente, adquiriu a mineira Cotochés; o Frigorífico Bertin entrou no ramo de lácteos, adquirindo a Vigor; a GP Investimentos comprou o laticínio Morrinhos e a Parmalat está em vias de concluir a aquisição da marca Poços de Caldas, bem como o licenciamento para o uso da marca Paulista, da Danone.
Com esses movimentos, a classificação das maiores empresas de laticínios mudou já em 2007, e as empresas têm batalhado, em 2008, por melhores posições.
De acordo com a classificação da Leite Brasil, por captação, em 2006, as maiores empresas eram a DPA/Nestlé, seguida da Itambé e, na terceira posição, a Eleva (tabela 1).
Já em 2007, várias mudanças ocorreram, como pode ser observado no tabela 2.
Veja que o total captado pelas 15 maiores empresas aumentou 18,2% em 2007, quando comparado a 2006. É uma variação muito maior que o crescimento na produção de leite do Brasil no período.
Destaque para a Eleva, que passou a ocupar o segundo lugar, atrás da Nestlé.
Considerando que a Eleva foi adquirida pela Perdigão que, por sua vez, já é dona da Batávia e da Cotochés, para 2008 a “briga” pela primeira colocação será mais acirrada.
Sem entrar no mérito de quem será a maior empresa de laticínio do Brasil, o fato é que novas fusões devem acontecer.
O setor está em crescimento e chama a atenção de quem quer investir.
MAS PARA O PRODUTOR...
Apesar do capital que vem sendo injetado na indústria, 2008 pode não ser um ano tão favorável, em termos de rentabilidade, para o produtor.
A elevação dos custos de produção tem sido “a pedrinha no sapato” do produtor.
A alimentação das vacas, por exemplo - responsável pela maior parcela dos custos– está mais cara esse ano.
Enquanto o atual preço do leite está cerca de 54% mais alto comparado a abril de 2006 – ano dos piores preços do leite – a tonelada de milho reagiu 117% no mesmo período. Ou seja, o poder de compra do produtor diminuiu.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os investimentos que vem ocorrendo devem ser vistos com bons olhos, uma vez que geram empregos e renda. Sob a ótica dos produtores, o acirramento da disputa pelo leite favorece a valorização do produto.
Ainda assim, não é possível descuidar da gestão do negócio. Os preços estão em recuperação, mas os custos também estão em alta. Atenção especial deve ser dada ao mercado de insumos.
Investimentos em nutrição, sanidade e genética tendem a promover resultados técnicos positivos, ou seja, levam a aumento de produtividade. Mas é preciso muito critério e planejamento para adotar a tecnologia correta, no momento correto, a fim de alcançar a melhor relação benefício-custo. É aí que está a diferença.