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Scot Consultoria

A questão das cotas de produção de leite na Europa


Segunda-feira, 31 de agosto de 2009 - 15h37

Zootecnista, formado pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Câmpus de Ilha Solteira-SP, mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela UNESP, Câmpus de Jaboticabal-SP. É analista e consultor de mercado da Scot Consultoria. Coordena as divisões de pecuária de leite, grãos e avaliação e perícia. Editor-chefe do Relatório do Mercado de Leite, publicação da Scot Consultoria. Atuação nas áreas de análises, estabelecimento de cenários, estratégias de mercado, realização de projeções de preços, oferta, demanda, análises setoriais e pesquisa de opinião e imagem. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral.


O mercado internacional de lácteos viveu dois momentos distintos nos últimos tempos. Até meados de 2008, houve um aumento considerável na demanda mundial por leite e derivados, principalmente entre os países asiáticos. Diante desse mercado aquecido, os preços dos principais produtos batiam recordes na Europa, principal produtor mundial. No Brasil, as exportações atingiram patamares nunca vistos. Em 2007, o país se beneficiou da seca e conseqüente queda da produção na Nova Zelândia e Austrália, dois grandes exportadores de lácteos, para entrar no mercado internacional. Com a crise econômica mundial, no entanto, a situação mudou drasticamente. A demanda caiu e os preços dos produtos lácteos recuaram consideravelmente. Em outubro de 2007 o leite em pó atingiu os maiores valores da história, US$5,5 mil/tonelada. De julho de 2008 a fevereiro deste ano as cotações caíram 52%. Atualmente a tonelada do leite em pó é negociada por volta de US$2,5mil/tonelada, na Europa. Países como a Venezuela (principal compradora dos lácteos brasileiros em 2008) e a Rússia diminuíram o ritmo das compras. A China, que até então vinha importando bastante da Europa, também parou de comprar. O PROBLEMA NA EUROPA Em maio de 2008, os países-membros da União Europeía concordaram em aumentar os limites para a produção de leite em 1% ao ano de 2009 a 2013/2014. A partir de 2015 as cotas de produção seriam suprimidas. O problema é que a menor demanda mundial vem provocando forte queda dos preços dos lácteos e o produtor europeu cada vez recebe menos pelo leite. Para se ter uma idéia, o preço do leite pago ao produtor caiu, em média, 30% nos últimos doze meses e, em muitos casos, os atuais valores não cobrem os custos de produção. No Brasil foi verificado situação semelhante. A menor demanda por parte do mercado internacional fez com que aumentasse a oferta de leite no mercado doméstico, tirando a sustentação dos preços. Este cenário baixista, somado à crise que vive o setor leiteiro na Europa, tem provocado uma série de protestos em diversos países. Os produtores são contra o plano da União Européia de pôr fim ao sistema de cotas, fato que aumentaria a oferta de lácteos no bloco. O aumento da produção intensificaria a queda dos preços, pois o ritmo do consumo não deve acompanhar o incremento da oferta. Por outro lado, na Itália, Dinamarca e Holanda os produtores e a indústria são a favor do aumento da produção. Inclusive, em 2008, a Itália e a Holanda entre outros países foram multadas por violarem a cota estipulada. Hoje, 70% da produção de leite na União Européia está concentrada em seis países: Alemanha, França, Reino Unido, Holanda, Itália e Polônia. PRÓS E CONTRAS Algumas considerações devem ser feitas acerca do assunto: A eliminação das quotas leiteiras na União Européia geraria, em um primeiro momento, um aumento da produção de leite, o que contribuiria para uma queda do preço ao produtor; O aumento da produção poderia representar uma oportunidade de crescimento para a indústria; O fim das cotas tornaria o preço do leite volátil. O menor preço ao produtor induziria a uma queda dos preços dos produtos lácteos e, conseqüentemente, um aumento do consumo; A questão é que esse aumento de consumo na União Européia seria menos expressivo, visto que a procura por produtos lácteos no bloco é relativamente inelástica. Por fim, a comissão européia se mantém firme na posição de manter as cotas crescentes até 2015 e depois suspendê-las. O governo do bloco se recusa a reduzir as cotas de produção para os países membros. Enquanto isso, foi anunciada uma série de medidas para apoiar a indústria de laticínios, tais como: a antecipação de 70% da ajuda direta aos produtores para o custeio da atividade frente aos baixos preços; empréstimos extras; intervenções por meio de compras do excedente de produção e, etc. A crise da pecuária de leite na Europa parece estar apenas começando e a divergência de opiniões deve contribuir para mais discussões nos próximos meses.
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