Em 2008, a partir de junho, a indústria derrubou os preços ao produtor alegando excesso de oferta e que seus estoques estavam altos.
Mas a partir de janeiro desse ano, em pleno período onde o consumo de leite diminui em função das férias escolares, misteriosamente parece que os estoques sumiram e começaram expressivas importações de leite em pó da Argentina e do Uruguai.
No primeiro semestre de 2009 as importações liquidas de leite em pó (descontada as exportações) chegaram a 28,6 milhões de toneladas, equivalente a uma importação de 229 milhões de litros de leite.
No segundo semestre de 2009 novamente se fala em excesso de oferta e, não havendo substancial queda no consumo, significaria excesso de produção, que poderia ser explicada pela abundância de chuvas e conseqüente aumentando da produção de leite a pasto.
Mas é preciso lembrar que em muitas regiões a chuva inundou pastos e em outras produziu muito barro, fato que favorece o desenvolvimento de mastite, que é um fator limitante para a produção de leite.
Assim, poderia num país com as dimensões do Brasil estar havendo aumento de produção em algumas regiões e redução em outras.
Mas vamos supor que no balanço geral o aumento de produção tenha sido significativo.
“O que houve em 2009? Produção insuficiente para atender a demanda ou oportunismo e abuso de poder econômico de parte da indústria e do varejo?”
Então é de estranhar que as importações de leite em pó tenham se mantido elevadas no segundo semestre de 2009, sendo que de julho a novembro já acumulam 22,4 milhões de toneladas (muito próximo do que se importou no primeiro semestre).
Dessa forma, vamos fechar 2009 com uma importação de leite em pó equivalente a meio bilhão de litros.
O que houve em 2009? Produção insuficiente para atender a demanda ou oportunismo e abuso de poder econômico de parte da indústria e do varejo?
Importações nesse nível ou maiores ocorrerão em 2010?
É preciso que o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) investigue o que está acontecendo no mercado de leite nacional em termos de produção, consumo e importações.
É preciso que a Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara cumpra o que disse após audiência pública que promoveu, e investigue a correlação entre os preços dos lácteos ao consumidor e o preço pago ao produtor, e se não está havendo abuso de poder econômico.
Se estas investigações não forem feitas com presteza, e mais, os resultados dessas investigações não forem discutidos com transparência com toda a cadeia produtiva, corremos o risco de o Brasil voltar a ser um grande importador de leite como fomos por muitos anos.