Economista, especialista em engenharia econômica, mestre em comunicação com a dissertação “jornalismo econômico” e doutorando em economia.
A política monetária, notadamente a taxa de juros tem sido utilizada como forma de forçar a economia a operar em nível que permita controlar os preços.
Sem investir nas causas da falta de oferta de produtos e serviços, ou seja, na infraestrutura necessária para garantir sustentação ao crescimento do mercado, e ainda com gastança pública além do aceitável, a taxa de juros elevada passou a ser o instrumento mais utilizado.
Essa forma de monitorar a economia, que vem sendo praticada anos a fio, tem seu preço. O endividamento público se eleva, os investidores adiam seus projetos e a economia não deslancha. Perde o lado real da economia.
Nada mais forte foi feito nestes últimos anos. Houve somente reprodução do modelo com receio de que, entre outras coisas, se perdesse o controle sobre a inflação.
Com isso banqueiros, especuladores, fundos de pensão, e tantos outros setores do lado monetário da economia, se valeram desta "necessária" prática de juros altos para alavancarem seus negócios, com elevadas rentabilidades.
Sempre que alguém mais audacioso sinalizava com juros menores vinha um batalhão de agentes econômicos alardeando que seria perigoso, que o controle de preços teria que estar acima de tudo e de todos, enfim, não queriam mudar o status quo dos juros.
O momento presente da economia nacional não é muito diferente desses períodos anteriores. O controle da inflação continua sendo prioridade, não estamos preparados para sustentar o crescimento, mas mesmo assim estamos começando a quebrar o paradigma dos juros altos.
Os juros básicos chegaram a 9% ao ano, nos retirando da incômoda primeira posição em termos de juros reais (agora é a Rússia) e os bancos públicos estão forçando os bancos privados a se mexer.
A prévia da inflação aponta para 5,25% no acumulado de doze meses. Nada exagerado para quem opera com meta de 4,5%. É certo que os juros caíram agora, mas não há nada no horizonte que indique disparada nos preços, pelo contrário, os estoques de produtos estão elevados e se as empresas quiserem vender terão que derrubar os preços.
Neste cenário o que efetivamente pode acontecer é que descobriremos que é possível controlar a economia com juros menores. E isso não é novidade alguma, pois já é realidade em outros países com características semelhantes ao Brasil e que conseguem manter os preços comportados com juros menores. Neste contexto muda prioridade: investir na oferta de produtos e serviços e não somente segurar a demanda.
Evidentemente que os especuladores de plantão, aqueles com vida fácil, não desejarão que os juros caiam. Ganham muito, com baixo risco e, mexer nesta zona de conforto contraria muitos interesses.
Sinceramente já passou da hora de praticarmos juros honestos. Vejam que nem falei de juros baixos, mas honestos. Não é possível aceitar passivamente que certas modalidades de crédito batam os 250% ao ano. Não é possível aceitar que empresas e empresários exponham-se ao risco com empréstimos para alavancar seus negócios com taxas batendo 40% a 50% ao ano.
É preciso ter coragem para enfrentar estas resistências e colocar o país em um caminho de normalidade econômica.
A torcida é para que a equipe econômica e a presidente da República não se rendam as pressões e mantenham este firme propósito de monitorar a economia nacional com juros decentes.
O que vem ocorrendo não é o melhor dos mundos, mas já é um grande avanço se comparado ao nosso passado.
Juros honestos já.
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