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Silagem de milho x cana-de-açúcar: qual a melhor opção?


Sexta-feira, 4 de maio de 2012 - 00h48

Engenheiro agrônomo, doutor em produção animal e pesquisador científico/APTA Colina-SP.


Em qualquer sistema de produção animal o planejamento da alimentação, nos seus aspectos qualitativos e quantitativos deve ser prioridade.  

Na produção de bovinos leiteiros, o planejamento forrageiro deve ser feito considerando a distribuição estacional da forragem e a demanda no período, que depende do tamanho do rebanho.  

A partir dessas informações as áreas de produção de forragem são determinadas visando o pleno atendimento das exigências nutricionais do rebanho nos seus aspectos quantitativos e qualitativos.  

Como forma de reduzir o efeito da estacionalidade da produção de forrageiras tropicais, vem crescendo o interesse por sistemas de produção que usem forragens conservadas e/ou cana-de-açúcar "in natura".  

Evidentemente o sistema a ser adotado dependerá das características edafo-climáticas predominante na região, bem como da logística de produção de grãos e volumosos na propriedade.  

Embora o sistema mais econômico e prático de fornecer forragem aos animais seja permitir que o mesmo colha em pastejo, invariavelmente, em sistemas intensivos, não há como abrir mão do uso de forragens conservadas e/ou da cana-de-açúcar "in natura". Dessa forma, se obtém segurança na disponibilidade de volumosos, independente de variações climáticas inesperadas.  

Principalmente em relação ao setor leiteiro, e especialmente em sistemas de alta produção, a demanda por forragens conservadas é alta e, na maioria das vezes, indispensável.  

A produção de leite no Brasil vem crescendo linearmente nos últimos anos.  

O setor leiteiro nacional tem mostrado grande crescimento com capacidade de competir em mercado externo, com países tradicionalmente exportadores de produtos lácteos.  

Tradicionalmente o material mais utilizado para ensilagem é a planta de milho, devido sua composição bromatológica preencher os requisitos para confecção de uma boa silagem como: teor de matéria seca (MS) entre 30% a 35%, e no mínimo de 3% de carboidratos solúveis na matéria original, baixo poder tampão e por proporcionar uma boa fermentação microbiana.  

Apesar da silagem de milho ser suficientemente conhecida, ainda convive-se com conceitos distorcidos que são aplicados na escolha dos cultivares, aos tratos culturais, e durante a ensilagem, onde a qualidade do produto final não é priorizada.  

Diante desse cenário passa a ser imprescindível orientações que levem o produtor de leite a manejar com eficiência a produção de forragem na propriedade, em especial a produção de silagem de milho por se tratar de uma tecnologia que exige investimentos elevados e está sujeita a resultados insatisfatórios.  

Dentre as forrageiras tropicais, a cana-de-açúcar destaca-se principalmente por sua elevada produtividade (80 t a 120 t de matéria verde/ha) e boa qualidade na época seca do ano, contrastando com as demais forrageiras tropicais.  

Além destes, os principais pontos que justificam a utilização da cana-de-açúcar na alimentação animal são: 

- simplicidade operacional para manutenção;  

- condução da cultura e facilidade de aquisição de mudas;  

- pico da produção associado ao fato do melhor valor nutritivo coincidir com o período de escassez de forragens verdes nos pastos;  

- a manutenção do valor nutritivo por longo espaço de tempo após atingir a sua maturidade (até seis meses);  

- o desenvolvimento de tecnologia para o seu cultivo e os trabalhos de melhoramento genético intenso e constante devido à produção de açúcar e álcool; 

- é facilmente utilizada por pequenas e médias propriedades, pois dispensa altos investimentos com máquinas e implementos agrícolas para manutenção e condução da cultura;  

- apresenta baixo custo por unidade de MS produzida;  

- tradicional entre produtores de leite.  

Como principais desvantagens da utilização da cana-de-açúcar podem-se destacar: baixo teor de proteína e digestibilidade e da maioria dos minerais, principalmente fósforo e enxofre, necessitando de suplementação.  

A ideia da utilização da cana como volumoso não é recente, desde 1893 já existem relatos do aproveitamento na alimentação de ruminantes.  

Desde o final da década de 60, tanto produtores e técnicos consideravam este volumoso de qualidade inferior e que seu uso seria restrito a animais de baixo potencial produtivo, no caso de vacas leiteiras, aquelas com produção de até 10 kg de leite por dia.  

Atualmente, trabalhos de pesquisa e experiências práticas mostram que a cana-de-açúcar pode e deve ser utilizada para animais de média e alta produção.  

Entretanto, o fornecimento de cana-de-açúcar como alimento exclusivo para animais de elevada exigência nutricional, como vacas em lactação, tem causado redução no consumo e na produção de leite, sendo assim necessária a adequação dos níveis de proteína, energia e de macro microelementos minerais da dieta conforme a demanda do animal.  

Hoje, a competência adquirida em formulações de dietas contendo cana-de-açúcar, a adoção de práticas de manejo e o lançamento de variedades mais apropriadas à alimentação animal demonstram a possibilidade de bons desempenhos, a baixo custo com o uso da cana na alimentação de bovinos leiteiros.  

Na prática a principal limitação da cana-de-açúcar é a redução de consumo, ocasionada principalmente pela baixa digestibilidade da fibra, uma vez que seu teor médio em FDN (fibra em detergente neutro) é menor que o da silagem de milho (47 versus 60).  

No caso da cana-de-açúcar, a saída para sua utilização pode ser a redução de seu uso na dieta e o aumento da participação de concentrado.  

Estas mudanças podem proporcionar maior aporte de matéria orgânica digestível, o que levaria a um aumento da concentração de energia, diminuição da concentração de fibra de baixa digestibilidade e, consequentemente, ao maior consumo de matéria seca para atender às exigências energéticas do animal.  

Por outro lado, o excesso de concentrado na dieta pode provocar diversos distúrbios metabólicos, como consequência do rápido abaixamento do pH ruminal, que vão desde acidoses subclínicas até casos mais severos, levando à morte, principalmente porque a cana-de-açúcar apresenta alto teor de carboidratos prontamente fermentáveis.  

Outro fator importantíssimo, como o custo do concentrado geralmente é alto, elevadas proporções na dieta podem não ser economicamente viáveis.  

Assim, em virtude do grande potencial da cana-de-açúcar e da possibilidade de melhoria na sua utilização, foram realizados diversos trabalhos de pesquisa comparando a cana com a silagem de milho, como por exemplo:  

Avaliou-se a substituição da silagem de milho por até 100% de cana-de-açúcar, em dietas para vacas leiteiras da raça Holandesa, puras e mestiças, em lactação, com potencial de produção de 5.000 a 7.000 kg de leite por lactação (Magalhães et al., 2004).  

Os tratamentos consistiram de quatro níveis de substituição de silagem de milho por cana-de-açúcar: 0; 33,3; 66,6 e 100%.  

As produções de leite foram 24,17; 23,28; 22,10 e 20,36 kg/dia e as produções de leite corrigidas para 3,5% de gordura foram 27,00; 24,98; 24,36 e 21,41 kg/dia para os níveis 0; 33,3; 66,6 e 100% de cana-de-açúcar no volumoso, respectivamente.  

Não houve alteração na composição do leite.  

Os consumos das dietas, com base na MS, foram de 177,90; 169,42; 165,69 e 156,80g/kg0,75, com o aumento dos níveis de cana-de-açúcar, ou seja, houve redução linear.  

Observou-se diminuição dos custos de alimentação: 4,79; 4,33; 4,00 e 3,58R$/dia; nas receitas: 8,32; 7,60; 6,55 e 5,63R$/dia, e consequentemente, nos lucros: 3,53; 3,27; 2,55 e 2,05R$/dia, para os níveis de 0; 33,3; 66,6 e 100% de substituição, respectivamente.  

Apesar disto, a substituição de 33,3% de silagem de milho por cana-de-açúcar foi técnica e economicamente viável, o que não ocorreu para os níveis de 66,6 e 100% de substituição.  

Diante do exposto, para o desenvolvimento sustentável de sistemas de produção de leite, os produtores e os técnicos devem ter conhecimento da tecnologia a ser utilizada e dos custos de produção e esta deve ser a base para as avaliações de qual forrageira vai ser empregada e, mesmo qual será a técnica para a sua conservação, na expectativa de que se tenha maior retorno financeiro na atividade leiteira.  

No entanto, o conhecimento dos custos reais, ou mesmo uma estimativa aproximada, do volumoso produzido parecem não ser comum entre pecuaristas e nem mesmo dos técnicos da área.


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