Zootecnista pela USP – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA).
O Brasil é o quarto produtor mundial de carne suína, superado apenas pela China, União Europeia e Estados Unidos. A projeção de produção este ano é de 3,3 milhões de toneladas, aumento de 3,1% em relação a 2011.
Em 2010, segundo dados da Pesquisa Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possuía 38,9 milhões de cabeças, o maior rebanho suíno desde 2000. Um acréscimo de 2,9% em relação a 2009 e de 23,1% em relação a 2000.
A região Sul detém os maiores rebanhos de suínos do Brasil. Santa Catarina está na liderança, com 7,8 milhões de cabeças, 20,5% do rebanho nacional. Observe a tabela 1.
Neste ano, a suinocultura brasileira está enfrentando uma das piores crises, fazendo com que alguns produtores saiam da atividade e colocado cidades em estado de emergência. Até o início deste mês, dez cidades catarinenses decretaram estado de emergência, refletindo a importância da atividade para a geração de renda e emprego nessas localidades.
No Brasil, segundo a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS) e da Embrapa, a suinocultura é responsável por cerca de 591 mil empregos, diretos e indiretos.
A crise da suinocultura ficou aparente há um ano, com os embargos russo e argentino, o que não deixou alternativa para os produtores além de disponibilizar o produto no mercado interno, aumentando a oferta. O aumento dos custos de produção, em função principalmente da alimentação, entretanto, é considerada a maior causa da crise. O custo de produção subiu e, a remuneração do produtor caiu. Em junho, segundo levantamento da Scot Consultoria, se registrou o menor preço pago pela arroba do suíno nos últimos dez anos. Figura 1.
O preço caiu em cascata. Caiu na granja e no atacado. No mercado atacadista a queda em junho também foi a maior em dez anos. A cotação do quilo da carne de suíno afundou para R$3,34, valor 56,4% menor em relação a março de 1997, maior valor de venda no atacado.
Segundo a ABIPECS, a média nacional de participação da alimentação no custo de produção é de 58%. Santa Catarina possui a maior média estadual, cuja participação é de 67%. No estado a margem de lucro do produtor está negativa desde janeiro. O custo de produção da carne suína vem aumentando nos últimos anos.
A mão de obra ficou mais cara, assim como as despesas com energia, logística e, principalmente, do farelo de soja, base da alimentação dos suínos. Em junho, na praça de São Paulo a tonelada do farelo de soja ficou cotada, em média, em R$1.043,00. Em relação ao mesmo mês do ano passado, o suinocultor está pagando 63,4% mais pelo alimento.
Esta pressão vem da valorização da soja e da boa demanda interna e externa por farelo. A figura 2 mostra a evolução de preços dos farelos de soja nos últimos doze meses.
Com o embargo russo, principal comprador da carne suína brasileira, em vigor desde julho de 2011 e sem previsão para acabar, as exportações de carne in natura declinaram 19,4% nos últimos 12 meses. Figura 3.
Em julho de 2011, mês subsequente ao embargo, a queda na exportação foi de 34,6%. Considerando somente os russos, as exportações de carne suína caíram 52,9% entre 2010 e 2011.
Essa depressão das vendas colaborou a crise pela qual passa a suinocultura, cujo prejuízo estimado ultrapassa R$1,0 bilhão e afeta diversos estados produtores.
Em julho, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento anunciou a prorrogação das dívidas de custeio para vencer, e as já vencidas em 2012, para janeiro de 2013. Anunciou também uma linha especial de crédito de R$200 milhões, com taxa de juros de 5,5% ao ano, destinados a produtores de suínos, agroindústrias, cooperativas e varejistas, medida esta paliativa frente ao tamanho do prejuízo registrado e das dificuldades que o suinocultor enfrenta.
O horizonte não é favorável, visto que o mercado possui oferta excedente de carne suína e o consumo tem se mostrado incapaz de absorver esse excedente. Para complicar, o custo de produção não mostra sinais de redução.
Com esse conjunto de informações o cenário para a suinocultura é desanimador e somente uma revolução no consumo interno de carne suína resolveria esse problema de forma definitiva. A solução através da exportação tem-se mostrado inconstante.
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