Através do Cash Cow, um programa para análise de desempenho reprodutivo desenvolvido Universidade de Queensland (UQ) na Austrália, é possível fazer uma avaliação preliminar sobre os fatores significativos que reduzem a porcentagem de vacas prenhes nos quatro meses pós-parto, os quais são:
• Época das parições: vacas paridas fora de época (abril-junho) tiveram um menor retorno de prenhez após quatro meses pós parto do que aquelas paridas a partir de outubro.
Em relação à época das parições é interessante que se faça uma programação para que as matrizes tenham os bezerros na época da seca, pois suplementá-lo é mais barato do que suplementar a vaca. No caso da Austrália as parições ocorrem a partir de outubro. No Brasil a estação de monta começa em outubro, e as parições iniciam-se em junho. O programa de parições no Brasil baseia-se na escolha de preservar as matrizes da amamentação na estação seca do ano, com o objetivo de diminuir os gastos com suplementação. Além disso, em relação aos bezerros, na época seca há a diminuição de doenças, como por exemplo, a infestação por carrapatos e bicheira, entre outras.
A Austrália adota diferentes tipos de produção e consequentemente, a suplementação, de acordo principalmente com o mercado a que se destina a carne. Como exemplo, as exportações direcionadas ao mercado japonês visa uma carne com teor maior de gordura, logo os animais receberão uma dieta diferenciada, mais energética.
• Deficiência de fósforo na estação chuvosa: vacas com evidência de baixo fósforo na dieta (determinado a partir de níveis fecais do elemento) durante a estação chuvosa são menos propensas a emprenharem do que aquelas com níveis adequados de fósforo.
Dentre as deficiências minerais que podem afetar bovinos, sob pastejo, a de fósforo é a mais generalizada e a de maior importância econômica, em virtude dos grandes prejuízos que causa aos rebanhos, como por exemplo, o atraso na maturidade sexual, inibição da evidência de cio e do elevado custo de suplementação.
• Desempenho reprodutivo: vacas de primeira gestação possuem habilidade materna reduzida em relação às de segunda gestação.
A habilidade materna está relacionada com a produção de leite e com o cuidado da mãe com a cria. Assim, a seleção das matrizes para a estação de monta deve identificar essas qualidades para o melhoramento do rebanho.
• Escore de Condição Corporal (ECC) na última prenhez: vacas com ECC baixo possuem menos chances de emprenharem do que vacas com ECC adequado.
O ECC tem sido utilizado como eficiente método auxiliar de manejo para rebanho de leite e corte, permitindo uma avaliação da disponibilidade de reservas energéticas do animal. O ECC de cada animal é obtido com base na observação visual e/ou palpação de determinadas áreas do corpo (costelas, região dorsal e caudal, anca, inserção da cauda, entre outros), no qual são avaliados subjetivamente os depósitos de gordura subcutâneo e massa muscular.
A equipe do programa Cash Cow da Universidade de Queensland (UQ), completou a primeira fase das análises multivariadas do projeto.
A análise reconheceu que diferentes fatores influenciam coletivamente no desempenho das fêmeas e que os produtores precisam saber a magnitude de cada fator. Isto permitirá a escolha de decisões mais eficazes. Os resultados ainda são preliminares.
Os dados do Cash Cow mostraram que as quatro regiões do norte da Austrália (Downs, Brigalow, Southern Forest and Northern Forest) experimentaram algumas perdas de bezerros entre o diagnóstico de gestação e desmame. Alguns dos fatores de aumento das perdas de bezerros foram:
- Época das parições: vacas paridas fora da época adequada (abril-junho) tiveram maiores perdas;
- Baixa proteína e consumo de energia no terço final de gestação: vacas consumindo pasto com menos de 0.125 PB: DMS (razão de teor de proteína bruta para digestibilidade da matéria seca).
Abordagem de melhores práticas para gerenciamento de rebanhos de matrizes
Enquanto as recomendações do projeto Cash Cow não podem ser aplicadas em larga escala, os achados preliminares apontam para uma série de práticas de gerenciamento de rebanhos que podem ser usadas no norte da Austrália:
- Diagnóstico de prenhez, para organizar a época das parições.
Um programa reprodutivo organizado, com estação de monta definida possibilita a homogeneização do rebanho, diminuição dos gastos com manejo e diminuição das perdas em relação a parições fora de época.
- Avaliação das pastagens na época chuvosa, usando testes de mensuração de níveis de fósforo fecal para determinar status desse mineral nas fêmeas.
- Implementação de um programa de reposição de novilhas, e descarte de fêmeas que não emprenhem após três meses da estação de monta.
A cria concentra os maiores custos dentro do sistema de produção de bovinos. Dessa forma, avaliando os índices reprodutivos do rebanho, como por exemplo, o intervalo entre partos e o número de parições, é possível diminuir os gastos com animais que não estão dando retorno através do descarte de matrizes.
- Avaliar o escore de condição corporal de todas as vacas antes do início da estação de monta, tendo em vista que o ideal seria escore acima de três, no parto.
- Manejo adequado de desmame, para evitar estresse nutricional das fêmeas.
Vacas prenhes devem apresentar um bom aporte nutricional (proteína e energia) no terço final de gestação, sendo este um bom motivo para se gerenciar as vacas paridas fora de época em um grupo separado.
Técnicas que minimizem as perdas e aumentem a eficiência reprodutiva de um rebanho são fundamentais para que haja sucesso no sistema de cria. Sendo assim, a interligação do conhecimento sobre genética, manejo, nutrição e sanidade são peças chave nesse jogo.
Fonte: MLA. 6 de agosto de 2012.
Traduzido, adaptado e comentado por Pamela Alves, zootecnista e consultora da Scot Consultoria. Colaborou Priscila Rocha, analista júnior da Scot Consultoria.
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