Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.
Por uma tradição iniciada com o embaixador Oswaldo Aranha, que proferiu o discurso de abertura da 1ª Sessão Especial da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil, desde 1947, tem sido o primeiro país a falar neste importante evento. Já há algum tempo, tem feito também parte da tradição que o presidente da República Federativa do Brasil seja o primeiro orador.
O privilégio desse benefício permite ao Brasil apresentar sua perspectiva quanto à situação internacional e, de alguma forma, contribuir para a agenda dos principais assuntos mundiais.
Em 25 de setembro de 2012, pela segunda vez, a presidente Dilma Rousseff teve o privilégio e honra desse discurso de abertura. Uma ocasião histórica. No entanto, uma oportunidade perdida para fazer história pelo equívoco da nossa leitura da agenda mundial.
Inicialmente, a presidente Rousseff apresentou sua administração ao mundo, enfatizando os ganhos relativos à entrada, no mercado consumidor, de uma grande parte da população, resultante das políticas sociais implementadas nos governos anteriores. A partir dessa perspectiva, tratou da questão econômica, ressaltando, particularmente, as medidas de expansão monetária, anunciadas pelos Estados Unidos, União Europeia e Japão, que, em sua opinião, serão responsáveis por provocar uma avalanche cambial nos mercados, prejudicando, em particular, os países emergentes, que verão aumentar o valor de suas moedas, com a respectiva perda de competitividade.
Sob este argumento, estariam justificadas as medidas protecionistas adotadas pelo Brasil, recentemente, no sentido de preparar o país para esse influxo maior de moeda estrangeira e controlar a valorização do real. O argumento até faz sentido. Mas é equivocada estratégia.
O que tem impedido a competitividade maior do Brasil não é a avalanche de moeda estrangeira, porém as dívidas históricas acumuladas pelo país e jamais efetivamente resolvidas pela administração Rousseff, como a infraestrutura, a questão do enorme déficit educacional existente, o Custo Brasil e uma tendência a aumentar, ainda mais, os enormes tentáculos do Estado Brasileiro que, aos poucos, sufoca ainda mais o nosso incipiente capitalismo. Pior ainda, ao selecionar segmentos discricionariamente, sob o manto de proteção da indústria nacional, a administração Rousseff cria ganhadores e perdedores, tornando o nosso capitalismo cada vez mais cartorial. Será protegido quem tiver melhor articulação junto ao governo federal.
Além disso - tenho a impressão - a ONU não é o melhor fórum para este tipo de discussão, que é muito mais apropriada no Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.
Em outro momento, a presidente Rousseff evidenciou uma alteração na postura brasileira quanto à Síria, ao condenar a violência e o drama humanitário daquele país. No entanto, para um país que pretende ser membro permanente do Conselho de Segurança, nada propôs, a não ser a não utilização de uma solução militar. Esqueceu-se a presidente de que esse diálogo interminável tem ceifado milhares de vidas, o que é uma vergonha para a comunidade internacional. O mundo quer agir na Síria. A fase de diálogo já terminou.
O discurso presidencial também foi equivocado ao repudiar a situação na Síria, sob um regime ditatorial, e querer incluir, ao final, Cuba no contexto das nações democráticas. Mais incongruente e inconsistente não poderia ter sido a mensagem emitida pelo governo brasileiro. Ao repudiar a Síria e elogiar Cuba, tem-se a impressão de que o Brasil admite a ditadura, desde que sejam "déspotas supostamente esclarecidos".
Por fim, a presidente Rousseff tratou da questão da Primavera Árabe e das medidas adotadas pelo Brasil no sentido de combater a islamofobia. A ideia até pode ser considerada correta, desde que tal combate não implique necessariamente no sacrifício da liberdade de expressão. Aliás, esta parece ter sido sacrificada pela decisão equivocada da Justiça do Estado de São Paulo proibindo a exibição do trailer do filme "Inocência dos Muçulmanos", sob a suposta "discriminação de preconceito de religião". É interessante como rapidamente, no Brasil, sacrificamos conquistas históricas sem a devida reflexão sobre suas consequências futuras.
Sim, Dilma fez história como mulher e presidente. Agora, precisa fazer história como estadista. Para tanto, precisa tomar as medidas corretas no sentido de tornar o país mais competitivo e, principalmente, construir uma base sólida para a devida inserção do Brasil no Conselho de Segurança. Agora, para tanto, há muita lição de casa a fazer. A mais importante delas, no entanto, é saber ler a agenda mundial, adotar posturas consistentes e propor coisas efetivas.
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