Médico Veterinário pela UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, mestrando em Administração de Organizações na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP). Consultor de mercado. Coordenador da divisão de couro e sebo. Coordenador da divisão de consultoria a revendas agropecuárias. Coordenador da divisão de reprodução animal. Editor chefe do informativo Boi & Companhia.
Quando os preços do boi gordo e da reposição estão em baixa, a vacada deixa de ser vista como meio de produção de bezerros e passa a ser encarada como um ativo de alta liquidez, que pode facilmente ser transformado em receita. É o que ocorre nas fases de baixa do ciclo pecuário.
Este abate aumentado de fêmeas acaba alimentando a oferta e a pressão de baixa, o que pressiona ainda mais a rentabilidade da cria. Em determinado momento, o efetivo de fêmeas recua a ponto de faltarem bezerros no mercado, o que gera valorização. Esta alta melhora os resultados econômicos e o ânimo do criador, que retém matrizes, para aumentar a produção. As variações de oferta geram os ciclos de preços.
Os ciclos não têm duração fixa, mas oscilam ao redor de dez anos, considerando o período de alta e de baixa dos preços. Normalmente há um ou dois anos de relativa estabilidade entre as fases de alta e baixa.
O vale de preços do último ciclo ocorreu em 2006. Em junho daquele ano a arroba do boi gordo em São Paulo atingiu o menor valor da série de preços iniciada em janeiro de 1970, R$48,85/@, a prazo, em valores nominais. Deflacionando este valor pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna, da Fundação Getúlio Vargas), teríamos uma arroba cotada em R$72,70, em moeda de hoje.
O ciclo atual
Pode-se considerar que o ciclo atual começou no vale de preços em 2006. Entre 2006 e 2008 o preço médio do boi gordo em São Paulo subiu 34,8%. Foi o início da fase de alta. Paralelamente a isto, ocorria a retenção de fêmeas, o que colaborou com a diminuição da oferta de carne e deu firmeza às cotações.
Em 2009 as economias sentiram os efeitos da crise econômica global iniciada no final de 2008. Isto gerou retração de consumo de carne e o mercado afrouxou. Entre 2008 e 2009 houve retração de 7,3% nas cotações, em valores deflacionados.
Em 2010, com a demanda em recuperação e a oferta ainda afetada pelo incremento do abate de fêmeas entre 2003 e 2006, houve alta. O preço médio foi 5,4% maior que em 2009. Em novembro de 2010 a arroba atingiu o maior valor nominal da história, R$115,00/@, a prazo, em São Paulo.
O aumento na participação de fêmeas nos abates é um indicativo de que se está na fase de baixa do ciclo pecuário, com desinvestimento por parte do criador e aumento do descarte de matrizes, acima do patamar usual da propriedade.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as fêmeas compuseram 40,2% dos abates inspecionados em 2011, ante 36,1% em 2010. Foi o primeiro ano de crescimento neste indicador desde 2006, quando as fêmeas participaram em 43,4% dos abates formais.
A figura 1 mostra os preços médios anuais da arroba do boi gordo, deflacionados, e a evolução da participação de fêmeas nos abates. Foram usados os abates de janeiro a setembro para comparação com os dados disponíveis para 2012.
Segundo o IBGE, o rebanho bovino no início de 2012 era de 212,8 milhões de cabeças, ante 209,5 milhões no início de 2011, crescimento de 1,6%.
Este aumento da oferta de animais terminados e de reposição tem pressionado as cotações e a rentabilidade do pecuarista. Com isto, mais vacas têm sido abatidas. De janeiro a setembro de 2012 as fêmeas compuseram 43,3% do total, ante 41,4% no mesmo período do ano passado.
Em valores absolutos, os abates formais de fêmeas passaram de 8,86 milhões de janeiro a setembro de 2011 para 9,91 milhões este ano, aumento de 11,7%. No mesmo intervalo os abates de machos aumentaram de 12,57 milhões para 12,99 milhões, acréscimo de 3,3%.
Estamos na fase de baixa de preços do ciclo pecuário. O preço médio em 2012 (até 16 de dezembro) está 9,4% menor que em 2011, em valores corrigidos pelo IGP-DI. Nos próximos anos o mercado deve continuar ofertado, o que tende a manter as cotações pressionadas e oscilando abaixo da inflação.
Oportunidade de investimento
A fase de baixa de preços é o melhor momento para investir na pecuária, ou de ampliação de rebanho via compra. A questão é que na fase de baixa normalmente o pecuarista está descapitalizado.
É mais provável que a fase de baixa seja uma oportunidade de entrada na atividade do que propriamente um momento de expansão da mesma. Veja a figura 2.
A linha azul demonstra a relação entre o preço de venda do boi gordo e o valor do bezerro de ano comprado dezoito meses antes, em R$/@, deflacionados pelo IGP-DI. Foi considerado o intervalo de dezoito meses entre a compra do bezerro e o abate, aos trinta meses.
A área verde demonstra as cotações do boi gordo, deflacionadas. A linha vermelha é a referência de quando os preços das arrobas se igualam. Ou seja, quando a linha azul toca a linha vermelha, o pecuarista vendeu os bois gordos aferindo lucro apenas com as arrobas engordadas. A arroba do bezerro equivalia à do boi gordo.
Quando a linha azul está acima da vermelha, houve lucro também com a valorização das arrobas da reposição. Se a linha azul estiver abaixo da vermelha, o resultado da engorda precisa compensar as arrobas compradas, pois estas perderam valor.
Em julho de 2008 a relação foi a mais favorável ao invernista, que comprou os bezerros no início de 2007, quando o mercado começava a recuperação, após o vale de preços em 2006. Nesta estimativa, o recriador ganhou 34,7% com as arrobas de bezerro compradas.
Considerações finais
O mercado deve se manter ofertado nos próximos anos, o que tende a gerar cotações pressionadas, afetando negativamente a rentabilidade.
A fase de baixa exige uma atenção ainda maior aos custos e dimensionamento de investimentos. Também é o momento de olhar para a atividade de maneira estratégica. Pode ser uma boa oportunidade de entrada na pecuária, seja por meio da aquisição de futuras matrizes (bezerras e novilhas) ou bezerros.
No caso de bezerras e novilhas para reprodução, a tendência é que seja mais fácil acertar um momento propício de compra, uma vez que estas permanecem vários anos no rebanho e há mais chance de produzirem com o mercado em alta. Já para a aquisição de animais para recria, a janela de oportunidade de ganho com a alta é mais limitada, se restringindo ao período da engorda.
A oferta maior de animais de reposição nos próximos anos deve gerar preços interessantes para a aquisição de fêmeas para composição ou ampliação do rebanho.
*Publicado na revista AG guia do criador número 12.
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