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Leite como negócio da China


Quarta-feira, 23 de janeiro de 2013 - 15h40

Zootecnista pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Ilha Solteira. Mestre em Administração de Organizações Agroindustriais pela Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus de Jaboticabal. Consultor e analista da Scot Consultoria. Coordena as divisões de pecuária de leite, grãos, insumos, avaliação e perícia. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral. Editor-chefe da Carta Leite, da Carta Grãos e do Relatório do Mercado de Leite, publicações da Scot Consultoria.


A crescente demanda por produtos lácteos na China tem aumentado os investimentos e a aplicação de tecnologia neste setor no país.

A China é o quarto produtor mundial de leite. Está atrás da União Europeia,  Índia e dos Estados Unidos.

De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção chinesa saltou de 9,19 bilhões de litros de leite em 2000 para 33,70 bilhões de litros estimados em 2012. Um crescimento expressivo, de 266,7% em doze anos.

Neste mesmo período a produção brasileira cresceu 44,1% (figura 1). 

A expansão da produção foi estimulada pelo incremento da demanda interna, que por sua vez é resultado de uma politica de incentivo ao consumo no país que começou em 2000, e da melhoria da renda da população chinesa.

De 2000 para cá, a demanda chinesa de lácteos cresceu a uma taxa média de 12,3% ao ano. Somente em 2008 e 2009, diante da crise mundial, o consumo de leite caiu, a exemplo do cenário de queda na demanda de maneira geral.

Apesar do incremento na produção, a China ainda depende das importações para suprir a demanda interna. O principal produto importado é o leite em pó.

De 2000 a 2008 a China importou, em média, 66 mil toneladas do produto por ano. Porém, a média dos últimos quatros anos alcançou 288 mil toneladas. O produto vem principalmente da Europa e da Oceania.

Em 2011, o leite em pó importado representou 22,2% do consumido no país (USDA).

Cabe também destacar que nos últimos anos a China foi responsável pelo equilíbrio do mercado internacional de lácteos. Foi o país que mais importou leite em pó, sendo um dos responsáveis pela elevação dos preços do produto no mercado internacional.

Com 1,3 bilhão de consumidores e uma população que, a cada ano, aumenta a sua capacidade de consumo, os chineses deverão permanecer como grandes compradores de lácteos no mercado internacional, principalmente se considerarmos a baixa capacidade de resposta dos sistemas de produção do país.

O consumo per capita de leite está ao redor de 25 litros por ano. Este volume está bem abaixo do recomendado , por exemplo, pelo Ministério da Saúde do Brasil, que indica um consumo 200 litros por habitante por ano.

Ou seja, muito trabalho será preciso, se a China quiser reduzir a dependência das importações de produtos lácteos.

Importando tecnologia

A expansão da produção de leite na China foi sustentada mais pelo crescimento do rebanho leiteiro e menos pelo incremento da produtividade.

Uma característica do setor no país é que a indústria tem grande peso na cadeia produtiva, pois incorpora uma fatia importante da produção do setor primário. São poucas as cooperativas e uma parcela das grandes unidades produtoras de leite pertence às indústrias ou laticínios.

A produção de leite chinesa é oriunda de aproximadamente 3,0 milhões de produtores, a maioria pequenos produtores e propriedades com pequena escala de produção. O rebanho chinês está estimado em pouco mais de 12 milhões de vacas ordenhadas ao ano, segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação)

Nos últimos anos, a China foi o país que mais importou vacas de leite no mundo, provenientes principalmente da Nova Zelândia, Europa e mais recentemente do Uruguai. O objetivo foi buscar uma genética mais adequada e adaptada e que permita ganhos em produtividade.

Os chineses se interessam por trabalhos em melhoramento genético dos bovinos leiteiros brasileiros, principalmente com relação ao Girolando.

Além da genética tropical, os chineses também buscam soluções para o tratamento dos resíduos da atividade leiteira, o controle da mastite e alternativas de produção de alimentos volumosos, para diminuir a necessidade de concentrados na dieta e reduzir custos.

Faz parte dos planos do governo chinês subsidiar a distribuição de sêmen e embriões, melhorar a qualidade de vida dos produtores, demonstrar novas tecnologias e incentivar sua adoção e medidas de proteção ao meio-ambiente.

A China planeja quase que dobrar sua produção de leite, passando para mais de 64 milhões de litros até 2020. Este crescimento faz parte de um plano de longo prazo do Ministério da Agricultura chinês.

Mesmo com um crescimento inacreditável na última década, segundo estudos da FAO, a China terá sérios problemas de água e solo para conseguir atingir esse volume de produção nos próximos anos.

Ou seja, em médio e longo prazo, há oportunidades para o Brasil no mercado internacional de lácteos, principalmente considerando que as produções na Europa e Oceania, maiores exportadores, estão praticamente em seus níveis máximos, seja em função da falta de espaço físico para expansão da atividade ou por causa da elevada produtividade.

O Brasil precisa fazer sua parte em termos de qualidade do produto e preços para competir neste mercado.

Investimentos no setor leiteiro

O crescimento do mercado chinês tem despertado o interesse de gigantes do setor lácteos.

A Nestlé investirá cerca de US$ 396 milhões em um centro de produção de leite no nordeste da China. Um acordo com o governo chinês prevê que a empresa suíça construa dentro de cinco anos o maior centro de operação de suprimento de leite do país.

Aos poucos a indústria de laticínios vem recuperando a confiança dos consumidores, após uma série de escândalos envolvendo leite contaminado com substâncias tóxicas.

Considerações finais

Os chineses estão buscando terras em outros países para a produção de alimentos, inclusive leite.

No caso da soja, por exemplo, essa procura acontece em países próximos, na Ásia, como na Rússia, e pode ser reflexo dos problemas que a China enfrenta para aumentar a produção e produtividade.

Assim como no caso da soja, essa é uma estratégia para o país diminuir a dependência do mercado internacional no que diz respeito a lácteos.

Este artigo foi publicado na edição de janeiro de 2013 da revista Balde Branco, ano 49, número 579. 


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