Cientista Econômico pela ESALQ/USP.
Os produtores e laticínios do Uruguai esperam um aumento dos preços dos lácteos no mercado internacional nos próximos meses. A previsão é que no pior dos cenários, os valores se manteriam no nível atual.
Os preços dos últimos leilões de lácteos da Neozelandesa Fonterra, que servem como parâmetros para o mercado mundial, seguem em alta.
No último leilão (5/3), o preço médio, considerando todos os produtos lácteos negociados, subiu10,4% fechando em US$4.216,00 por tonelada. Foi a sexta alta consecutiva.
Leite em pó integral- o produto lácteo que o Uruguai mais exporta foi o que registrou a maior alta, de 18,0% em relação ao leilão anterior. O preço médio ficou em US$4.298,00 por tonelada.
Em 5 de junho de 2012, a média de preços dos produtos lácteos foi de US$2.899,00 por tonelada, enquanto, a tonelada de leite em pó integral foi negociada, em média, por US$2.763,00.
Ou seja, os preços atuais estão 45,4% e 55,5%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado.
As altas significativas nos últimos leilões são fundamentadas na preocupação do mercado internacional perante a menor oferta de leite da Oceania. Na Nova Zelândia, algumas regiões sofrem com a seca, que diminuiu a produção entre 15% e 20% em fevereiro.
Outro ponto é a oferta de leite limitada no hemisfério Norte, mesmo em plena safra. A sensação é que o mundo tem uma oferta limitada e uma demanda em ascensão", afirmou o presidente da Cámara Uruguaya de Productores de Leche (CUPL),Horacio Leániz.
O sindicalista destacou que estes aumentos não são considerados momentâneos. Exceto em situações pontuais de leves baixas, a alta dos preços dos lácteos se dá desde agosto de 2012.
O vice-presidente da Conaprole, Wilson Cabrera concordou que a alta no último leilão da Fonterra é um sinal de bons preços internacionais, além disto, é um indicador de que as cotações dos mesmos seguirão subindo.
"Acreditamos que os preços leite em pó integral,em virtude da demanda firme e da oferta restrita, deverão, em pouco tempo, se estabilizar em US$4.000 por tonelada, o que não é visto há vários anos", afirmou o vice-presidente.
Leániz disse que futuramente existirão preços ainda maiores, devido à relação citada entre oferta e demanda.
Estes valores, por sua vez, são um piso de comercialização para o Uruguai. Ainda que, tanto por acordos comerciais, quanto pela situação de ofertante em que se enquadra, o país negocia valores superiores aos acordados neste leilão.
"O Uruguai exporta a maioria de seus derivados lácteos para mercados que tem preferência tarifária, o que resulta em preços de 15% a 20% maiores do que a maioria dos mercados internacionais", explicou.
Em 2012, os cinco principais destinos das exportações uruguaias de leite em pó integral são países da América do Sul e da América Central.
O Brasil, maior importador de leite em pó do Uruguai, gerou cerca de US$122,919 milhões em receita para os uruguaios em 2012. Este total garantiu 56,0% de toda a receita gerada pelas exportações de leite em pó no ano passado.
Venezuela e Cuba, embora com participações menores nas importações, 19,1% e 12,8% respectivamente, também respondem por boa parte da receita gerada pelas exportações do derivado lácteo uruguaio.Em 2012, a Venezuela comercializou com o país US$41,967 milhões em leite em pó integral. Cuba gastou US$28,134 milhões.
Completam a lista dos cinco maiores importadoresa Colômbia e o México, com 3,2% e 2,6%, que corresponde a US$6,964 milhões e US$5,731 milhões, respectivamente (figura 2).
O presidente da CUPL informou que, mesmo em países que não possuem estas tarifas, são verificados preços maiores aos da média mundial.
Isto se dá porque estes mercados, como o de países situados na costa Oeste da África,compram pontualmente e necessitam do produto com urgência. Aliado a isto, outros concorrentes, caso da Nova Zelândia, apresentam valores de fretes mais caros para estes locais quando comparados ao Uruguai.
Cabrera disse que, embora seja importante a alta do preço deles (Fonterra), a Conaprole não toma como referência os preços definido nos leilões, por que a maioria dos produtos comercializados pela Fonterra visa mercados que não possuem nenhuma tarifa.
Neste sentido, informou que estão próximos a fechar uma operação na qual serão exportadas 40 mil toneladas de leite em pó integral para a Venezuela, a preços que, embora não foram definidos, são muito bons.
Fonte: El País. Por Pablo Besón. 23 de fevereiro de 2013.
Traduzido, adaptado e comentado por Augusto Maia, graduando em Ciências Econômicas ESALQ/USP, em treinamento pela Scot Consultoria.
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