Engenheira agrônoma, formada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Ilha Solteira e graduanda em Direito pelo Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP. É engenheira de avaliações de imóveis rurais pela Scot Consultoria desde 2012. Realiza laudos para garantias bancárias, valor de mercado, divisão de bens, indenização para desapropriação, cálculo de passivo ambiental, comprovação de produtividade e acompanhamento em processos judiciais. Além disso, acompanha serviços de georreferenciamento, Cadastro Ambiental Rural e projetos ambientais, prestados por parceiros da Scot Consultoria.
A água é vida e alimento, mas ainda há muito desperdício.
Em razão da grande preocupação com o mau uso dos recursos hídricos a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu 2013 como o "Ano Internacional para a Cooperação pela Água".
Em todo o mundo, um terço da comida é perdida ou desperdiçada. São 1,3 bilhão de toneladas de alimentos jogados fora todos os anos, levando a um incalculável desperdício de água, energia e investimentos. Isso trás reflexos, tanto para a terra quanto para o ser humano.
Assim como a demanda, as preocupações com o desperdício de recursos são crescentes. As perdas mundiais de alimentos somam mais de um quarto da água utilizada para irrigação. A comida desperdiçada na América do Norte poderia alimentar todos os famintos do mundo mais de três vezes.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) os países desenvolvidos desperdiçam quase 300 milhões de toneladas de comida por ano, quantidade equivalente à produção de alimentos da África Subsaariana e suficiente para alimentar 870 milhões de pessoas, que sofrem de desnutrição crônica no mundo.
A demanda por alimentos cresce anualmente com velocidade significativa. Embora as projeções do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostrem que até 2050 a população mundial deverá crescer 22,2% e atingir 9 bilhões de pessoas, ainda é possível reverter esse quadro lamentável, modificando padrões de produção, e hábitos deconsumo.
Se um litro de leite é jogado fora, de fatoé muito mais do que apenas um litro. Um litro de leite equivale a mil litros de água necessários para as vacas crescerem e se alimentarem.
A empresa de consultoria norte-americana Mckinsey, calcula que seja desperdiçado anualmente 252 bilhões de dólares. Esse valor é praticamente o dobro da soma gasta em ajuda governamental para o desenvolvimento.
O desperdício é um problema mundial, que afeta tanto a indústria quanto os consumidores. Qualquer que seja o país, uma quantidade da produção é perdida com a falta de armazénsadequados, comercialização precária e transportes insuficientes.
De acordo com o relatório Global Food; Waste not, Want not, da instituição britânica Mechanical Engineers, anualmente são gastos 3,8 trilhões de metros cúbicos de água em todo o mundo, dos quais 70,0% são destinados para a agricultura.
Ainda de acordo com instituição, são consumidos 550 bilhões de metros cúbicos de água para a produção de alimentos que vão diretamente para o lixo.
Como exemplo de nação com armazenamento e transporte insuficientes e decadentes pode-se citar o Brasil. A produção de grãos deverá ser de 180,40 milhões de toneladas em 2013 (Conab),volume 11,3% maior que o da safra 2011/2012, mais um recorde. No entanto, a capacidade estática de armazenamento brasileira é de 137,33 milhões de toneladas.
Para agravar o quadro as estradas, na sua maioria, estão em péssimas condições de tráfego e, muitas vezes, sem qualquer manutenção. A malha ferroviária está obsoleta por onde circulam lentos trens cargueiros.
Em uma escala global, a sub nutrição é menor do que o grande consumo de alimentos e isso trás implicações na demanda, bem como na saúde pública.
Nos países em desenvolvimento, a infraestrutura agrícola e de transporte deve ser melhorada para aumentar o acesso aos mercados. Isso vai beneficiar agropecuaristas e consumidores.
Da mesma maneira que a população mundial compartilha os recursos hídricos como fonte de vida, também irão compartilhar a escassez. Os recursos hídricos são limitados e dificilmente conseguirão manter a crescente população.
A pressão sobre esses recursos é grave. O cenário piora ainda mais com as previsões das mudanças climáticasem nível mundial.
A agricultura contribui significativamente para o efeito estufa e estima-se que 10,0% do aquecimento global é resultado de todos os resíduos alimentícios.
Dados do relatório climático divulgado em fevereiro deste ano pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que os aumentos do dióxido de carbono na atmosfera, das temperaturas e a alteração na precipitação devem interferir na produtividade das colheitas, afetando o tempo de desenvolvimento e amadurecimento das culturas.
Isso pode se tornar um problema para a segurança alimentar, levando-se em consideração o aumento anual da população e a crescente demanda por alimento. O documento ainda destacou que os investimentos anuais norte-americanos na agricultura terão que subir para US$11 bilhões anuais, apenas para o controle de plantas invasoras.
Se o desperdício de alimentos fosse reduzido pela metade, o mesmo efeito poderia ser verificado sobre o aquecimento global. Seria como retirar metade dos carros das estradas.
Para o cultivo de alimentos utiliza-se muita energia, mas é preciso parte dessa energia para processar alimentos pré-cozidos e refrigerados.
Como consequência, o desperdício de recursos é ainda pior quando se joga fora embalagens ou alimentos já cozidos.
No entanto, o pior de tudo é o desperdício de carne. Para se obter um quilograma de carne gasta-se dez vezes mais água que a mesma quantidade de cereal em grão. A maior parte desta água é destinada para a produção de alimento animal que,pela alta demanda,necessita cada vez mais de água e terra.
Para produzir um hambúrguer, por exemplo, usa-se 2,4 mil litros de água. Para cada hambúrguer é consumida a mesma quantidade de água contida em 16 banheiras cheias.
Dos todos os países participantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 80% das terras agrícolas são destinadas para alimentação animal. Se as tendências atuais continuarem, a demanda por carne deve dobrar até 2050.
Fazem parte da OCDE os países mais industrializados e alguns emergentes. No total são 14 países: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, Coreia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Israel, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia, Suíça e Turquia.
Apesar do Brasil não fazer parte, pode participar de Comitês da Organização, pois faz parte do programa de enhance dengagement (engajamento ampliado).
Até chegar à mesa do consumidor, a cadeia de fornecimento de alimentos utiliza muita água. Antes de produzir mais é necessário, primeiro, verificar a eficiência desses processos.
Reduziras perdas de alimentos e resíduos sobre a crescente demanda porcarnes significaria mais alimento para aqueles que se encontram em condições de subnutrição.
É possível um mundo com água abundante, manutenção da fertilidade do solo e produção de energia. Muitas vitórias estão ao nosso alcance, sem precisar sacrificar nada.
Fonte: vídeo Taste the Waste of Water.
Traduzido, adaptado e comentado por Paola Jurca Grígolli, pesquisadora júnior da Scot Consultoria.
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