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Scot Consultoria

O gargalo da armazenagem


Sexta-feira, 15 de março de 2013 - 18h15

Zootecnista pela UENF – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.


Há 18 anos surgia o Plano Real e com ele um novo Brasil. Aos poucos o país foi se reestruturando economicamente e, em apenas um ano a inflação que era de 916,46% em 1994 foi derrubada para 22,40%, dados do Banco Central.

Sem o aumento extraordinário dos preços, causado pela inflação, o poder de compra do brasileiro ficou maior. Além disso, a abertura comercial colocou, aos poucos, o Brasil no contexto internacional. Com isso os produtos brasileiros passaram a ser mais competitivos no mercado mundial.

Neste cenário, a produção agropecuária, em especial a de grãos, assumiu grande importância. A expectativa é de que o setor continue crescendo.

A produção de grãos no Brasil aumenta a uma velocidade espantosa, culminando em safras recordes que sustentam a crescente demanda nacional e internacional. Apesar disso, a infraestrutura e a logística parecem ter andado na contramão do desenvolvimento.

E vem mais um recorde por aí...

Para a safra 2012/13, caso as expectativas iniciais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) se confirmem (relatório de acompanhamento de safra de fevereiro/13), o Brasil deverá colher uma safra de grãos da ordem de 185,8 milhões de toneladas, com uma área plantada de 52,98 milhões de hectares.

Deste total, 159,4 milhões de toneladas ou 86,1% são referentes a milho e soja.

E a capacidade de armazenagem, como anda no Brasil? Segundo informações disponibilizadas pela Conab, a capacidade estática de armazenagem do Brasil é de 137,33 milhões de toneladas.

Algumas regiões do Brasil mostram um quadro crítico em seus sistemas de armazenagem.

É o caso do Mato Grosso e do Paraná, os maiores produtores de soja e milho do país, e que enfrentam uma situação complicada com a colheita.

Durante a safra é notável o congestionamento nas estradas e, sobretudo, nos pátios de recepção. É comum o "armazenamento" ao ar livre por falta de espaço nos silos.

Considerando a safra 2012/2013 de milho (duas safras) e soja nesses dois estados a produção estimada é de 41,0 milhões de toneladas no Mato Grosso e 33,2 milhões de toneladas no Paraná.

No entanto, a capacidade estática para a armazenagem de grãos nesses estados é de 28,5 milhões de toneladas e 27,3 milhões de toneladas, respectivamente. Veja um resumo na tabela 1. 

Para amenizar tal situação podemos ponderar que parte da colheita é escoada rapidamente. No entanto, é preciso considerar que só parte dos armazéns é destinada à recepção de grãos. Boa parte fica distante e serve exclusivamente indústrias e portos.

Soma-se a isso o fato de a concentração de barracões não corresponder ao volume produzido em cada região. Transportar grãos para regiões mais distantes de portos, por exemplo, só encarece a produção.

Custos de armazenagem

Segundo pesquisa realizada pela Scot Consultoria em Mato Grosso, o custo de armazenagem para a safra 2012/13 deverá ser maior.

Agentes consultados apontaram que o aumento médio poderá ser de 30,0% a 50,0%.

Isto vem ocorrendo em função de alguns fatores, como maior produção na atual safra, o próprio aumento do preço dos grãos e a entrega do produto mais molhado aos armazéns nesta safra, o que tem aumentado o custo de secagem.

No estado, o preço médio de armazenagem de grãos obtido na pesquisa foi de R$1,50/saca até dois meses de armazenamento. Este preço inclui a recepção, limpeza, secagem e armazenagem. Após 60 dias, o custo de armazenagem é de R$0,20/saca ao mês.

Portanto, considerando apenas a armazenagem, tal custo é de, no mínimo (por dois meses), R$1,50/saca, o que representa 7,1% do preço atual do milho em Rondonópolis, cuja cotação está em de R$21,00/saca.

Se considerarmos na conta um tempo maior de armazenagem e o frete, com as más condições de transporte e perdas no processo, a coisa fica pior.

Considerações finais

Nos últimos anos a falta de armazéns tem sido um dos grandes problemas para o agronegócio brasileiro e faz parte do chamado "Custo Brasil".

É preciso um olhar crítico e atento por parte dos agentes públicos e privados para que se garanta uma maneira eficiente de acondicionar a produção de grãos.

O Brasil quer ser o celeiro do mundo, mas sem planejamento não há como garantir a regularidade do abastecimento interno e manter a competitividade do produto no mercado externo. 

Colaborou, Rafael Ribeiro de Lima Filho, Paola Jurca Grígolli e Alcides de Moura Torres Junior


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