Engenheira agrônoma, formada pela Universidade Estadual Paulista - UNESP, Câmpus de Ilha Solteira-SP e formanda em Direito pela Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP. É engenheira de avaliações de imóveis rurais pela Scot Consultoria desde 2012. Profissional associada à Scot Consultoria, realiza laudos para garantias bancárias, valor de mercado, divisão de bens, indenização para desapropriação, cálculo de passivo ambiental, comprovação de produtividade e acompanhamento em processos judiciais. Também, acompanha serviços de georreferenciamento, Cadastro Ambiental Rural e projetos ambientais.
Quando os agricultores europeus chegaram à América do Norte, as cercas eram uma manifestação física de crença na propriedade privada e do uso adequado da terra, que continua a moldar o modo de vida americano, suas aspirações econômicas e até mesmo a sua forma de governo.
A população dos Estados Unidos contém grande diversificação de culturas em sua origem. A grande maioria dos imigrantes veio da Alemanha (15,2%), Irlanda (10,8%), Inglaterra (8,7%) e Escandinávia (5,6%). A entrada desses povos ocorreu entre o final do século XIX e meados do século XX.
Os hispânicos e asiáticos são grupos que ainda estão em processo de migração. Hoje a população hispânica constitui 13,4% dos americanos. Já os asiáticos compõem 4,2% da população do país, com a intensificação da imigração a partir de 1960 até os dias atuais.
Hoje, as cercas são o retrato do que é visto através da paisagem nacional e conseguiu, formando uma grande, distribuída e, muitas vezes, inquestionável rede que define a "terra dos livres".
Na década de 1870, os Estados Unidos enfrentaram a "crise da cerca". Os colonos, motivados pela oferta limitada de madeira barata, se aventuraram e partiram da costa para as vastas pastagens das grandes Planícies.
Com a invenção do arame farpado em 1874, os colonos se instalaram nas pradarias, transformando a ecologia local tão drasticamente quanto o início das indústrias de milho e gado nas pastagens recém-fechadas.
Em Las Cruces, Novo México, Venue reuniu-se com Dean M. Anderson, um cientista do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), cuja pesquisa sobre cerca virtual prometia uma transformação radical. Porém, desta vez, removendo quilômetro a quilômetro o arame farpado de toda a paisagem.
O caso das cercas virtuais parece ser uma inovação tecnológica relativamente simples. Através do uso de GPS de livre alcance, as vacas podem ser colocadas dentro de limites virtuais através de dispositivos alocados nas orelhas do animal.
As cercas virtuais de Anderson não é nada menos que a realidade aumentada para o gado, uma Nova Estética bovina: a criação de um novo estrato de informações perceptivas que podem redirecionar, em tempo real para os homens, o movimento do gado através de áreas remotas.
Se reunindo vacas a cavalo deu origem às narrativas de cowboy do Ocidente, poderíamos nos perguntar neste contexto, o que as novas mitologias do satélite-habilitado de Anderson poderia dar origem?
Nicola Twilley: Porque você faria uma cerca virtual em vez de uma física? Afinal, não é o papel da cerca construir um limite real, determinado pelo homem, com efeitos físicos?
Dean M. Anderson: Em termos práticos: quando se trata de gerenciamento de animais, toda cerca convencional que eu construí, no ano seguinte estava no lugar errado.
Eu sempre digo em minhas palestras: "Não saia daqui e venda seu estoque de aço, porque ainda vamos precisar de cerca convencional em aeroportos, rodovias, ferrovias e assim por diante." Quando se fala em cerca virtual, você está falando sobre como modificar o comportamento animal.
Então eu sempre pergunto à plateia: "Levante a mão, quem é previsível 100% do tempo?".
Com o comportamento animal é a mesma coisa, ele não é previsível o tempo todo. Quando você percebe que a cerca virtual está atuando na modificação do comportamento do animal, então você também percebe que existem limites que, por razões de segurança ou de saúde, não podem ser violados em hipótese alguma. Eu sempre começo com esse aviso.
Agora, voltando a sua pergunta: em nível mundial, a distribuição de animais continua a ser um desafio, quer se trate de elefantes na África ou vacas Hereford em Las Cruces, Novo México.
Você deve ter visto isso, mas você não deve ter reconhecido exatamente o que você estava olhando. Por exemplo, se você observar um local com água potável, você vai ver que a área em torno desse ponto é mais marrom e desprovida de vegetação, enquanto que, a certa distância dessa água, pode haver plantas que nunca tenham sido usados como alimento e se mantém intactas.
Então você se depara com a utilização desuniforme da paisagem. Os locais mais utilizados (solo exposto) são mais vulneráveis à erosão do vento e da água e podem nos levar a outros tipos de desafios, principalmente para aqueles que querem ser ecologicamente corretos no modo de pensar e nas ações de manejo.
Nos últimos anos, temos usado mais de sessenta e oito estratégias diferentes para tentar interferir na distribuição animais. Estes incluem: utilização de cerca, desenvolvimento de bebedouros naturais em local diferente, distribuição de suplementação em local diferente, em horário diferente e sob sombra artificial. Assim, os animais se moveriam para essas localizações.
Todas essas estratégias possuem determinadas condições e alguns deles funcionam melhor quando eles são usados de forma simultânea. Porém uma coisa que elas, basicamente, não permitem é a gestão em tempo real. Este é um grande desafio.
Você pode ver que, com cerca convencional, as vacas deslocam-se mais para o perímetro ocidental do terreno, quando a chuva acorre ao longo da outra parte. Em duas semanas, onde a chuva caiu, nota-se uma rebrota, com alta qualidade nutricional. No entanto, se você tem os animais em uma pastagem com árvores, é necessário ajudar os animais a se moverem para outros locais a fim de conseguir uma boa rebrota.
Em muitos casos, como administrador, você sabe o que fazer para otimizar a utilização dessas áreas, mas por questões de economia e tempo isso não acontece. O que significa que suas vacas estão no lugar errado. Isso é perder em vez de ganhar.
O problema é que essas plantas atingirão seu pico de qualidade nutricional sem serem utilizadas como alimentação. Eu não estou dizendo que a produção de sementes não é importante, mas basicamente, se parte dessa área é para suporte dos animais, então você não está otimizando o que tem disponível.
Meu conceito de cerca virtual foi, basicamente, ter aquele perímetro em torno da propriedade, quer se trate de arame farpado, pedra, madeira, ou seja lá o que for. Mas, internamente, você não tem cercas. A programação dos polígonos "eletrônicos" é baseada no calendário padrão de chuvas, no crescimento padrão da erva daninhas, espécies ameaçadas de extinção, e quaisquer que sejam as outras variáveis que afetem as decisões de sua gestão. Então você pode usar o polígono virtual também para incluir ou excluir os animais de áreas que você deseja gerenciar com mais precisão.
Funciona como aqueles jogos de ligar os pontos em livros para crianças, através de coordenadas que você conecta para construir uma cerca. E você pode mover o polígono que os animais estão para a nova área.
Tem-se basicamente gestão em tempo real, o que não é algo possível hoje na pecuária, mesmo com todas as tecnologias que temos. Se você tomar esse conceito de gestão e usa-lo juntamente com as sessenta e oito técnicas que existem, você poderá ver o benefício.
Twilley: A outra coisa que eu achava curiosa, que eu peguei de suas publicações, é a ideia de que, talvez, você não possa estar fora da área para mover os polígonos. Ao invés disso, não daria para utilizar o sensoriamento remoto?
Anderson: Eu vejo essa pesquisa como acessório complementar para as cercas virtuais. No entanto, e isso é muito importante, todas essas tecnologias são potencialmente boas, mas nas mãos de alguém que é basicamente preguiçoso ou mesmo alguém que não entenda a interface planta-animal, poderia criar enormes problemas.
Se você não tem as pessoas que sabem a diferença entre superlotação e sublotação, então é melhor eu mudar meu sobrenome, porque eu não quero ser associado ao treinamento de náufragos.
Se você está sentado em seu escritório em Washington D.C. e programa as vacas para mudarem de área em seu rancho em Montana sem ter ninguém para monitorar o que está acontecendo, você poderia literalmente destruir suas pastagens.
Sabemos que a eletrônica é infalível. Sabemos também que as imagens de satélite precisam ser feitas por alguém no chão que pode dizer: "Uau, temos um problema aqui, porque o que os dados electrónicos estão dizendo que não corresponde ao que eu estou vendo".
Isto é o que mais me assusta sobre esta metodologia. Se as pessoas dissociarem o melhor computador que temos neste momento, que é o nosso cérebro, com experiência suficiente para saber como otimizar essa ferramenta maravilhosa, então poderá ocorrer um desastre em potencial.
Twilley: Uma das coisas que eu estava imaginando quando eu olhei para o seu trabalho foi como nós nos tornamos uma sociedade cada vez mais urbana, talvez os agricultores possam ainda gerir a terra por controle remoto, a partir de suas novas casas na cidade.
Anderson: Eles podem, mas apenas se tiverem alguém no local com conhecimento e experiência na propriedade rural para olhar e dizer: "Os dados dizem que este número de vacas deve estar nesta área durante este determinado número de dias". Do contrário não.
Você precisa dessa flexibilidade, e você sempre precisará do terreno verdadeiro. A única maneira de obter melhores resultados, em minha opinião, é ter alguém treinado nos fundamentos das ciências de livre alcance e animal, para saber quando os números são bons e quando são ruins. A eletrônica simplesmente fornece números.
Agora, você está certo, estamos ficando mais inteligentes no desenvolvimento de tecnologias que podem interpretar esses números. Meus colegas de pesquisa para cercas virtuais estão basicamente tentando modelar o que um animal faz, de modo que eles podem realmente prever para onde o animal vai se mover antes que ele o faça.
A ciência de livre alcance é mais uma arte que uma ciência. Eu acho que é ótimo termos essas tecnologias e devemos usá-las. Porém, não devemos colocar nosso cérebro em uma caixa e dizer: "OK. Nós não precisamos mais disso." Os conhecimentos e julgamentos humanos ainda são essenciais para fazer uma metodologia ser positiva em vez de negativa.
Manaugh: Como você se relaciona com a vaca, a fim de estimular o comportamento que você quer?
Anderson: Minha carreira toda foi focada basicamente em tentar adotar o comportamento natural dos animais para cumprir metas de gestão da forma mais eficiente e eficaz. Posso garantir que com um som que seja desconhecido e desagradável para nós três dentro dessa sala, sairemos da sala o mais rapidamente possível.
O que eu estou fazendo é inato no mundo animal. Se você estimular um animal com algo desconhecido, pelo menos inicialmente, a reação é se afastar. Se o evento é acompanhado por uma experiência desagradável no final, os animais irão tentar evitar esse final se eles tiverem a oportunidade. Este é o princípio que tem permitido ao USDA receber a patente sobre esta metodologia.
Quando estes tipos de sistemas foram construídos para o treinamento de cachorros ou para a contenção desse animal no passado, eles simplesmente recebiam um choque, ou às vezes um som e depois um choque. O estímulo recebido pelo animal não foi graduado de acordo com a proximidade ou com a sua personalidade.
Em nosso sistema, construímos um cinturão virtual, onde à medida que o animal se aproxima da linha limite, ele sente um incomodo inócuo, quase como um sussurro. Se ainda sim o animal persistir o som captado passa a ser de um avião na decolagem em plena aceleração.
Nós não queremos estressar o animal. Então vamos acabar, seja na distância ou tempo, ou ambos, chegando a um ponto em que, se esse animal decide que quer realmente o que está além daqui, ele não vai se irritar a ponto de enlouquecer. Temos embutido maneiras seguras de que, se o animal não responder adequadamente, não faremos nada que possa causar problemas negativos de bem-estar aos animais.
A chave é, se você pode fazer o trabalho com um martelo, não use uma marreta. Isso faz parte do bem-estar animal, o que é absolutamente primordial no desenvolvido das cercas virtuais. Não há necessidade de estimular um animal além do que ele precisa, eu posso te dizer isso quando coloco monitores de frequência cardíaca em vacas com meus dispositivos DVF TM.
Não podemos dizer que o uso das cercas virtuais serve para todos os animais da face da terra. Você pode aumentar gradualmente o número de animais em seu rebanho que se adaptem bem a gestão das cercas virtuais através do abate, da venda ou da troca desses animais.
Mas a grande maioria dos animais vai reagir a estas irritações, em algum grau. Tem outra coisa: todos nós sabemos que tudo o que fazemos com os animais, estamos ensinando-lhes algo. É nossa escolha sobre o que queremos que eles aprendam.
Claro que eu não tenho dados de uma população para que eu possa falar, mas os animais com que trabalhei, e a literatura apoia esses resultados, as vacas são, de fato mais inteligentes do que os seres humanos em uma série de situações. Se eu te contar a história da primeira cerca virtual que construí, eu acho que você vai entender por que eu digo isso.
Eu tinha uma vaca cruzada Hereford/Angus e ela respondia aos sinais exatamente do jeito que eu queria. Porém ela descobriu, em menos de cinco tentativas, que, se ela se mantivesse a mais de 25 pés de distância de mim, eu poderia apertar um botão que nada iria acontecer. Eu a segui por todo o perímetro, mas ela mantinha essa distância mínima até o fim do processo.
O que é interessante é que se você tiver a capacidade de construir um polígono, pode abranger um tipo de solo, uma situação de vegetação, uma planta venenosa, ou o que seja, muito melhor do que construir uma cerca convencional.
Twilley: Isso levanta outra questão: Qual o custo efetivo das cercas virtuais?
Anderson: Depende. Vou te dar um exemplo para mostrar o que eu quero dizer. Em março de 2012, por quatro quilômetros de cerca de arame farpado com quatro fios, usando postes em T ( de aço em forma da letra T), o valor era de US$63 mil. Agora, se fosse ao lado de uma estrada, a mesma cerca teria um custo de US$163 mil. É por isso que me chamaram.
Em 20 anos a partir de agora, ou em algum momento deste século, pelo menos, em vez de estimular os animais com sons externos ou elétricos, acho que os animais serão estimulados em nível neural. Nesse ponto, as cercas virtuais podem ter 100,0% do controle eficaz.
Isso já foi feito com roedores. A ideia era que esses animais poderiam ser equipados com uma câmera ou outros sensores e enviados para as áreas de terremotos, incêndios ou onde havia questões ambientais que os seres humanos não deveriam ser expostos. É claro que, mesmo que a razão tenha sido científica, fere o conceito de bem-estar animal. O que se fazer com um vazamento de radiação? Você envia roedores para essa área? Com isso você pode entender as questões morais e éticas que precisam ser trabalhadas.
Manaugh: Você acha que esse tipo de cerca virtual teria algum impacto sobre as práticas da propriedade rural? Por exemplo, eu poderia imaginar fazendeiros resistentes ao uso dessas cercas com essa capacidade de controlar e conter os seus rebanhos com tanta precisão. As cercas virtuais poderiam mudar a forma como a terra é controlada ou arrendada, entre diferentes grupos de pessoas?
Anderson: Se você fosse para Boot Heel no Novo México poderia encontrar exatamente isso: fazendeiros estão reunindo áreas para formar um banco de capim para seu uso comum. Qualquer coisa que eu posso fazer na minha profissão para incentivar a flexibilidade, eu acho que estou fazendo certo. Nunca fez sentido, ao meu modo de ver, usarmos ferramentas estáticas para gerir recursos dinâmicos.
Agora, existem algumas coisas adicionais interessantes que você aprende com este sistema. Por exemplo, acredite ou não, os animais têm lateralidade.
Você vai querer dar uma olhada nos dados, é claro, mas, basicamente, os animais não são diferentes de nós. Há animais que têm uma preferência de virar à direita e outros à esquerda.
Se eu sei que sou destro, então, para ir para a esquerda, eu posso precisar de um maior estimulo do meu lado direito do que eu teria se você estivesse tentando ir para a direita através de um estímulo no meu lado esquerdo. Isso acontece por contra dos meus instintos naturais.
Com a tecnologia de computador que temos hoje, tudo o que fazemos pode ser armazenado na memória, assim você pode saber mais sobre cada animal, e modificar seu estímulo nesse sentido.
Twilley: Voltando a algo que você disse anteriormente sobre a memória animal. Estou curioso para saber como a dinâmica da cerca virtual afeta a forma como as vacas percebem a paisagem.
Anderson: A questão seria saber se a cerca virtual está sobre ou perto de uma pedra especial, ou um poste de telefone, ou de um riacho e eles tiveram a estimulação elétrica antes. Eles podem correlacionar marcos visuais com a cerca virtual? Com base em alguns dados não publicados que eu coletei, a resposta é sim.
Na verdade, para dar algum contexto, tem havido estudos publicados mostrando que, para um certo número de dias após a remoção de uma cerca eléctrica, o gado ainda assim não atravessa a linha onde estava a cerca.
Então, isso poderia ser um problema para o uso das cercas virtuais, mas não vi isso ainda, e não acho que verei. Parte da razão é que as vacas querem comer, por isso, se o polígono que contém os animais é programado para se mover em direção à boa forragem, as vacas vão seguir.
Twilley: Você acredita que estejamos perdendo algumas das outras maneiras que a cerca virtual tem no modo de gerir o gado ou a terra?
Anderson: Ideias que sabemos que são boas, mas que agora demandam demasiado trabalho, vão se tornar razoáveis. O que tem estado na moda há algum tempo, e ainda está em certos lugares, é a lotação rotacionada.
Nesta situação você divide a terra em piquetes pequenos, deixando os animais em qualquer um por apenas algumas horas ou dias. É uma ótima ideia, em determinadas situações, mas acho que é muito trabalho para construir e manter todas as cercas.
Com o piquete virtual você pode simplesmente programar o polígono para mover espacialmente e temporalmente sobre a paisagem. A forma do piquete virtual pode ser dinâmica no tempo e no espaço. A movimentação pode ser mais lenta, onde há forragem abundante e acelerada onde a forragem é limitada. Dessa forma você tem um sistema totalmente dinâmico e flexível.
Como qualquer pessoa que maneja os animais, eu tenho uma música que eu uso. É uma música suave que diz: "Vamos querida, vamos. Vamos. Vamos. Vamos lá, meninas. Vamos".
Essa é a maneira que eu falo com elas, se eu quero que elas se movam.
Um dia desses eu estava reunindo minhas vacas a pé e coloquei um gravador de voz ligado no meu bolso. Mais tarde, transferimos os sons do meu dispositivo para a DVF TM. Então, quando quis reunir os animais a DVF TM tocou minha "música". Em vez de uma irritação negativa, este foi um estimulo positivo, que funcionou. As vacas se moveram para o curral que deveriam ir, sem mim.
Eu acho que esse tipo de coisa também aponta para uma mudança de paradigma na forma como gerimos o gado. Claro, eu posso mudar meus animais no meio da noite, mas por que fazer isso? Por que não tentar manejar as vacas no tempo delas, ao invés de nossas próprias necessidades egoístas.
Twilley: É um feedback onde você está interpretando o comportamento do animal via satélite, mas você também está coletando dados. Você pode ver onde elas estão indo e mudar sua forma de manejar de acordo com isso.
Anderson: Com certeza. Você está combinando necessidades e possibilidades.
Manaugh: Para fazer isso funcionar, todo animal deve estar equipado?
Anderson: Esta é uma pergunta muito válida, mas as respostas dependem da situação específica que está sendo abordada. Fazendeiros estão me ligando e pedindo um dispositivo comercial que possam colocar em seus animais, porque eles estão sendo roubados. Com o preço do gado atualmente, roubo não é uma coisa do século XIX. Ele está acontecendo enquanto conversamos.
Se esse é o seu desafio, então você vai precisar de algum tipo de equipamento electrônico em todos os animais para a contabilidade absoluta. Para mim, o desafio é como gerenciar uma grande área extensiva da forma que não podemos fazer hoje, e eu não acho que necessariamente precisamos equipar todos os animais para as cercas virtuais serem eficazes.
Em vez disso, se você tem uma centena de vacas, você precisa se perguntar: qual dessas vacas você deve colocar o equipamento? Você olha para os líderes do grupo.
O que é interessante é que há vacas que preferem pastar em cima de colinas. Há outras que preferem áreas mais baixas, como mata ciliar. Um colega meu da Universidade do Novo México, diz que essa preferencia espacial de forrageamento, aparentemente, tem herdabilidade.
Então, é possível que você possa selecionar os animais específicos para seu tipo de área. Parece lógico supor que você poderia criar animais de alta tecnologia sob medida para sua propriedade.
Twilley: Nada disso está disponível comercialmente ainda, certo?
Anderson: Verdade. No entanto, há uma empresa que está interessada em nossa patente e eles estão tentando fazer alguma coisa fora da terra.
Estou tentando fornecer para essa empresa toda informação que possuo, por que não estou legalmente autorizado a participar no desenvolvimento de seu produto como um empregado federal.
Manaugh: Quais são alguns dos obstáculos para a disponibilidade comercial?
Anderson: O desafio imediato que eu vejo está em responder como utilizar a energia desses eletrônicos na circulação dos animais por períodos de tempo prolongados. Nós tentamos energia solar, e tem potencial. Eu acho que uma das coisas mais interessantes, porém, é a energia cinética.
Existem empresas que trabalham com uma tecnologia que será utilizada no carregamento de celulares pela simples ação de tira-lo da sua bolsa ou do bolso. O exército tem mecanismos com essa finalidade nas mochilas para os soldados, que recarregam equipamentos de comunicação electrónica quando os soldados estão caminhando.
Eu não acho que a economia garanta o desenvolvimento do animal com qualquer uma dessas tecnologias de energia independente, mas eu acho que nós podemos aproveitar o que está sendo desenvolvido em outras indústrias mais lucrativas e depois simplesmente adaptar para as nossas necessidades.
Quando eu desenvolvi o conceito de DVF TM, projetei para ser um dispositivo plug-and-pray. Assim, se alguém desenvolver um componente melhor, eu jogarei minhas coisas fora e usarei os deles, rezando para que ele tenha melhor desempenho.
Manaugh: Você já olhou em baterias microbianas?
Anderson: Isso é uma sugestão interessante que eu não verifiquei. No entanto, tenho muitas informações sobre a captação de energia cinética. Se você assistir a uma vaca, suas orelhas estão sempre em movimento. Se conseguirmos capturar qualquer um destes movimentos.
A outra coisa que precisamos é de demanda do mercado. Em 2007, fui convidado pelo Reino Unido para discutir sobre a cerca virtual - as pessoas em Londres são mais interessadas nessa metodologia do que qualquer outro que eu tenha falado no mundo.
A Inglaterra tem uma tradição histórica com terras em comum, que é basicamente abrir "espaço verde" que rodeia a cidade e que foi originalmente usada para pastagem por pessoas que tinham uma ou duas ovelhas ou vacas.
Hoje em dia, é mais usado para recreação, basicamente. O problema é que eles precisam da pecuária novamente nessas áreas para utilizar a vegetação corretamente e não ameaçar as espécies lenhosas.
No entanto, nenhum dos usuários atuais quer cerca convencional, pois as porteiras teriam que ser abertas e fechadas para conter os animais. Então, eles estavam interessados em cerca virtual como uma maneira de obter a ecologia utilizada pelos animais domésticos de volta, em uma área que precisa ser compartilhada com os cavaleiros de pônei e cachorros que não fecham essas porteiras.
É uma pergunta interessante. Eu perdi algumas noites de sono, me perguntando: "Por que a ideia não foi abraçada?" Eu acho que se trata estritamente da economia.
Eu não sei, neste momento, quanto a configuração custaria. Em minha opinião, existem maneiras de implementar isso imediatamente e de forma viável. Pode-se ter um grande salto tecnológico, através do envio de informação em determinados pontos que os animais viriam com periodicidade confiável, à água ou ao suplemento mineral, por exemplo. Isso não é em tempo real, mas é quase.
Twilley: O que os agricultores acham deste sistema?
Anderson: O que eu ouvi de alguns fazendeiros é: "Eu já tenho cercas e funcionam muito bem. Por que eu preciso desta nova tecnologia, ainda não comprovada?".
Por outro lado, os produtores de leite com salas de ordenha automáticas, pensam que as cercas virtuais seriam apropriadas para a operação, por uma questão de conveniência em vez de economia.
Eu acho que os ambientalistas poderiam ser muito beneficiados em levar isso a frente. Pegue uma situação onde você tem uma espécie de aves ameaçadas em extinção e que usam o leito de um córrego para reprodução.
Nas condições atuais, o pecuarista não pode cercar um grande corredor ao longo de um riacho apenas durante esse período. Esse é um lugar onde a cerca virtual é uma ferramenta que nos permite fazer o melhor manejo ecológico da maneira mais econômica.
Porém, o mais importante é que não se pode falar em gestão na agricultura do século XXI utilizando ferramentas econômicas, sociais e biológicas da época dos nossos avós.
Algumas pessoas disseram: "Bem, eu acho que você está apenas à frente de seu tempo com essas coisas." Eu não acredito nisso. Em 2005, Gallagher, um dos construtores líderes mundiais de cercas elétricas, me convidou para falar sobre cerca virtual. Durante a conversa, eles me disseram que acreditam que, até o meio deste século, a cerca virtual será a cerca mais usada pelos fazendeiros.
Nenhum de nós vai ao balcão de comida, esperando que esteja vazio. Quando você está com o estômago cheio, as coisas que talvez devessem ser olhadas em uma janela de vinte anos, muitas vezes não aparecem de forma clara.
Enquanto as cercas de arame farpado não estão completamente enferrujadas e a legislação ambiental não se tornar obrigatória, então por que gastar dinheiro? Essa é a natureza humana. Você só faz o que tem que fazer e não muito mais.
Em minha opinião, o ponto é que existe uma série de fatores sociológicos e econômicos para esta metodologia de controle animal ser implementada no mercado.
E aqui está outra ideia: eu acho que deveria haver um imposto sobre todos os dispositivos de cerca virtual que forem vendidos ou a cada contrato de arrendamento que é assinado no mundo desenvolvido. O imposto poderia ajudar os países em desenvolvimento a gerenciar seu gado utilizando essa metodologia, porque é onde temos de ser melhores administradores e onde nós, como em todo mundo, nos beneficiaríamos em transformar alguns dos trabalhos manuais de hoje em trabalho cognitivo.
Talvez com esta tecnologia, alguns agricultores do terceiro mundo poderiam colocar um telhado melhor em suas casas ou enviar seus filhos para a escola, porque eles não iriam precisar dessa mão-de-obra na propriedade.
É divertido por um tempo estar fora em um cavalo vendo as vacas. Eu amo isso, é por isso que eu estou nesta profissão. Ainda assim, eu não sou um sociólogo, mas você poderia tirar um pouco desse trabalho usado na gestão do gado e transferir para coisas que poderiam melhorar o bem-estar e a educação do ser humano.
É do nosso interesse, também. Se não se tem o gerenciamento ideal da pecuária, criam-se áreas de sacrifício ecológico, onde o solo é perdido quando as chuvas ou com o vento.
Eu sempre digo que a cerca virtual vai ser algo que provocará uma mudança de paradigma na forma de pensar. Essa é a oportunidade real!
Fonte: http://www.theatlantic.com/technology/archive/2013/02/the-land-of-the-free-how-virtual-fences-will-transform-rural-america/272957/
Traduzido e adaptado por Paola Jurca Grígolli, pesquisadora júnior da Scot Consultoria.
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