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Scot Consultoria

Soluções que mudarão a visão sobre a pecuária


Segunda-feira, 6 de maio de 2013 - 12h55

Engenheira agrônoma, formada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Ilha Solteira e graduanda em Direito pelo Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP. É engenheira de avaliações de imóveis rurais pela Scot Consultoria desde 2012. Realiza laudos para garantias bancárias, valor de mercado, divisão de bens, indenização para desapropriação, cálculo de passivo ambiental, comprovação de produtividade e acompanhamento em processos judiciais. Além disso, acompanha serviços de georreferenciamento, Cadastro Ambiental Rural e projetos ambientais, prestados por parceiros da Scot Consultoria.




* Reprodução permitida desde que citada a fonte.

 

Uma tempestade está caindo sobre nós. Esta tempestade está construindo uma realidade severa e cruel. Somos confrontados com essa realidade agarrados pela crença de que com a tecnologia nossos problemas podem ser resolvidos. Isso é compreensível.

Essa tempestade é resultado do aumento da população mundial. Aos poucos as paisagens do mundo estão se tornando desertos e, claro, ocorrendo mudanças climáticas.

A desertificação é uma palavra chique para a terra que está se transformando em deserto e isso só acontece quando criamos áreas de baixa resistência. As temperaturas mais elevadas no mundo estão concentradas nas áreas em processo de desertificação.

No dia 15 de abril de 2013 teve início a 2ª Conferência Científica sobre desertificação em Bonn na Alemanha. Desde então a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas (UNCCD) recebeu relatórios de 168 países que enfrentam os efeitos da desertificação.

Em meados de 1990, as Organizações das Nações Unidas (ONU) indicavam 110 países sob risco de desertificação.

A boa notícia é que há mais esperança do que você pode imaginar. Há regiões nas quais a umidade é garantida o ano todo, o que torna mais difícil deixar essa terra nua. Não importa o que se faça a natureza irá cobri-las rapidamente. No entanto, temos ambientes onde há poucos meses de chuva seguido por longo período de seca, que é onde se verifica a desertificação.

Felizmente, há a tecnologia espacial, e quando a utilizamos é possível verificar com mais clareza essas diferenças. Na figura 1 o que está em verde, em geral, não está em processo de desertificação e o que está em marrom sim, e essas áreas representam 2/3 do globo.

No deserto de Tihamah, no oeste na península da Arábia, por exemplo, chove 25 milímetros por dia. Pensando em termos de tambores de água, sendo cada um com 200 litros, chove 1.250 tambores por hectare por dia.

No dia seguinte, a terra está completamente seca. Para onde foi toda esta água? Parte dela é perdida por enxurrada, mas a maior parte que vai para o solo é simplesmente evaporada. Exatamente o que ocorre em seu jardim, se você deixar o solo descoberto.

A água e o carbono estão ligados à matéria orgânica do solo, quando o solo é danificado o carbono é perdido e volta para a atmosfera. O que se pensa erroneamente é que a desertificação ocorre somente em zonas áridas e semi-áridas do mundo.

Em áreas com gramíneas altas, em épocas de alta pluviosidade, não há consequências. Porém se olharmos mais para baixo é possível encontrar a maior parte do solo descoberta e com uma crosta de alga. Isso permite maior escoamento e evaporação da água. Esse é o câncer da desertificação, que não reconhecemos até sua forma final.

Sabemos que a desertificação é causada por animais, principalmente bovinos, ovinos e caprinos, através do pastejo excessivo, o que expõe o solo.

Os ambientes em desertificação em qualquer lugar do mundo são como na África, onde eu cresci. E eu amava a vida selvagem, então eu cresci odiando a pecuária por causa dos danos que estavam causando e, em seguida, a minha formação universitária, como ecologista, reforçou minhas crenças.

Há muitos anos tínhamos certeza de que a terra era plana. Estávamos errados e estamos errados novamente. Diante disso, quero convidá-los agora para participar de minha jornada na reeducação e na descoberta.

Quando eu era um biólogo na África, eu estava envolvido no estudo de Parques Nacionais. Isso foi em 1950, quando proibimos caçadores e tocadores de tambores tribais. Os removemos para proteger os animais.

Entretanto, a terra continuou a deteriorar-se, então a suspeita era de que tínhamos muitos elefantes. Uma pesquisa foi realizada e provei que havia mesmo muitos elefantes e recomendei a redução destes animais a um nível suportável pelo solo.

Essa foi uma decisão terrível para mim e, francamente, uma dinamite política. O governo formou uma equipe de peritos para avaliar a minha pesquisa. Eles a fizeram e concordaram comigo e nos anos seguintes matamos quarenta mil elefantes para tentar sanar o dano. O problema é que a situação piorou.

Esse foi o mais triste e maior erro da minha vida e levarei isso comigo até minha morte. Isso me fez absolutamente determinado a dedicar minha vida para encontrar soluções.

Quando cheguei aos Estados Unidos tive um choque ao encontrar Parques Nacionais em processo de desertificação tão graves quanto qualquer lugar na África e não havia gado nestas áreas há mais de 70 anos.

Encontrei muitos cientistas norte-americanos sem explicação para isso, exceto que essas eram regiões naturalmente áridas.

Então, procurei em todas as bases de pesquisa do oeste dos Estados Unidos informações que dissessem que a retirada dos rebanhos travava a desertificação, mas eu achei o contrário.

Como é possível uma área de pastagem que em 1961 estava verde, alta e saudável e em 2002 estar em avançado estágio de desertificação? Os cientistas que foram pesquisados denominavam isso de "processo desconhecido".

Claramente nunca entendemos as causas da desertificação, que já eliminou muitas civilizações e agora é uma ameaça global.

Façamos uma experiência, pegue um metro quadrado de solo e eu garanto que ao amanhecer estará mais frio e ao meio-dia mais quente. Esse mesmo pedaço de terra coberto com resíduo vegetal terá seu micro clima alterado, mantendo as propriedades do solo.

No entanto, nós simplesmente não entendemos que isso começou há 10 mil anos e que tem se acelerado ultimamente. O que nos faltava entender era que nestas áreas com estação húmida o solo e a vegetação se desenvolviam juntamente com os animais em pastejo. Estes animais atraíram ferozes predadores.

A principal defesa dos animais contra esses predadores era se manterem em manadas, que quanto maiores, mais seguro estariam os indivíduos.

As grandes manadas defecam e urinam sobre sua comida e, por isso, precisam continuar se mudando e esse movimento impedia o pastoreio excessivo das plantas, enquanto que o pisoteio periódico assegurava boa cobertura ao solo.

Analisando a sazonalidade, as mudanças ocorreram nos longos períodos de seca. Todo o pasto sobre o solo tem que se decompor biologicamente antes da próxima estação chuvosa, se isso não acontecer tanto a pastagem quanto o solo começam a morrer.

Se não há decomposição, inicia-se um processo de oxidação, que é muito lento e sufoca as gramíneas, levando a uma mudança na vegetação lenhosa e solo desprotegido através da perda de carbono.

Para evitar isso, tradicionalmente temos usado fogo, mas o fogo também deixa o solo nu causando perdas de carbono. Pior do que apenas queimar um hectare de pasto, são os danos causados pela emissão de poluentes. Anualmente são queimados na África mais de 1 bilhão de hectares de pradarias, e quase ninguém fala sobre isso.

Como cientistas, justificamos a queimada pela remoção do material morto, o que permite o crescimento de novas plantas. Porém, estamos falando da maior parte das áreas do mundo, o que podemos fazer para conseguir um solo saudável? Não podemos reduzir o número de animais, sem causar a desertificação e mudança climática. Não podemos queimar sem causar desertificação e mudança climática. O que vamos fazer?

Há apenas uma opção, algo impensável para cientistas como eu, que é a pecuária. Através de um grande grupo de animais, juntos e em movimento, pode-se simular a natureza. Não há outra alternativa para a humanidade.

Então fizemos o seguinte, na tentativa de "copiar" a natureza, soltamos um grupo de bovinos sobre uma área de pastagem alta. Após algum tempo retiramos os animais e verificamos que a área estava baixa e pisoteada.

Este material estava cobrindo o solo juntamente com esterco, urina e restos de plantas mortas. Com isso, o solo estava pronto para absorver e reter a chuva, armazenar carbono e reduzir os níveis de metano. Fizemos isso sem usar o fogo e as plantas puderam crescer livremente.

Quando comecei a perceber que não tinha opções como cientista, a não ser usar a pecuária para responder às mudanças climáticas e à desertificação, estava de frente com um grande dilema. Como fazer isso?

Então, em vez de reinventar a roda, eu comecei a estudar outras profissões e encontrei técnicas de planejamento que pudessem ser usadas e adaptadas às nossas necessidades biológicas. A partir disso, desenvolvi o que chamamos de "gestão holística e pastoreio planificado". Isso visa toda a complexidade da natureza e a nossa complexidade social, ambiental e econômica.

Hoje temos jovens mulheres, ensinando aldeias na África como juntar animais em grandes rebanhos, a fazer um plano de pastoreio para simular a natureza e onde manter os animais durante a noite. Existem muitas terras e, dessa forma, foi possível preparar os campos para cultivo e, assim, obter também aumento da produção agrícola.

Vejamos alguns resultados, uma das áreas que monitoramos próxima ao Zimbabue, passou por quatro meses de chuvas e depois uma longa estação seca. Praticamente toda água do solo evaporou, o rio está seco apesar da chuva e temos quase 150 mil pessoas vivendo com ajuda alimentar.

Após nossa intervenção o cenário mudou. O rio está cheio, saudável e limpo, a produção das pastagens, arbustos, árvores, vida selvagem, tudo está mais produtivo apenas simulando a natureza. Não temos mais medo de anos secos e isso foi possível pelo incremento no número de bovinos e caprinos em 400% através do planejamento de pastoreio e da integração de todos os animais que tínhamos.

Muitas áreas na Patagônia também enfrentam os efeitos do processo da desertificação. Um pesquisador argentino documentou o declínio das terras ao longo dos anos, assim como o número de ovelhas.

Ele e sua equipe colocaram 25 mil ovelhas juntas sobre um plano de pastagem e constataram que houve 50% no aumento da produção da terra, no primeiro ano.

Na região de Violent Horn na África, este tipo de planejamento é, obviamente, a única esperança para salvar as famílias e a cultura, de acordo com pastores locais.

Vale lembrar que estamos falando da maior parte das terras do mundo, incluindo a região de Violent Horn, onde apenas os animais servem para alimentar cerca de 95,0% das pessoas.

O que estamos fazendo no mundo está causando a mudança do clima. Acredito que tanto quanto os combustíveis fósseis, ou mais. Pior do que isso está causando a fome, a pobreza, a violência, colapso social e guerra. São milhões de homens, mulheres e crianças sofrendo e morrendo.

Se isso continuar chegaremos ao ponto em que não conseguiremos frear as mudanças climáticas, mesmo depois de eliminarmos o consumo de combustíveis fósseis.

Acredito que mostrei como podemos trabalhar com a natureza a custo muito baixo para reverter este quadro. Nós já estamos fazendo isso em cerca de 15 mil hectares em cinco continentes.

Se fizermos o que mostrei aqui podemos retirar carbono suficiente da atmosfera e restaura-lo nos solos da terra por milhares de anos. Fazer isso em apenas metade do globo poderá recuperar os níveis da era pré-industrial enquanto alimentamos as pessoas.

Não consigo pensar em mais nada que ofereça mais esperança ao nosso planeta, nossos filhos e toda a humanidade.

Fonte: vídeo Allan Savory: How to green the world s deserts and reverse climate change.

Traduzido, adaptado e comentado por Paola Jurca, pesquisadora da Scot Consultoria.


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