Cientista Econômico pela ESALQ/USP.
Na terceira semana de março, a Ucrânia suspendeu as compras de carne suína brasileira sob suspeita de contaminação. Segundo as autoridades ucranianas, os lotes do produto continham a bactéria Listeria monocytogenes.
Naquele momento, a Ucrânia era responsável pela compra de boa parte da carne suína exportada pelo Brasil, o que causou muita dor de cabeça aos suinocultores nacionais.
Segundo a Associação Brasileira de Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), de janeiro a março, a Ucrânia ocupava a terceira posição no ranking de volume de carne suína importada do Brasil, com 23,4 mil toneladas e participação de 19,5% do total geral exportado.
No faturamento, o país ocupava a segunda posição, com 21,5% de participação do total, o que correspondia a US$67,3 milhões.
Impactos no mercado interno
As exportações de carne suína em março e nos meses seguintes foram claramente prejudicadas. Veja a figura 1.
Em março foram exportadas 39,9 mil toneladas, volume 17,2% menor que no mesmo período de 2012.
Em abril, mês seguinte ao embargo, a queda do volume negociado foi de 23,7%, na comparação anual. O que resultou em volumes totais de 36,5 mil toneladas.
Já em maio, os volumes comercializados foram 17,5% menores que no mesmo período de 2012, totalizando 44,3 mil toneladas.
Com o terceiro maior comprador brasileiro inativo, os suinocultores brasileiros se viram sem mercado para escoar a oferta excedente.
Assim, a mercadoria em excesso foi escoada no mercado interno, o que gerou queda das cotações.
No dia do embargo, 21/3, o suíno vivo era negociado por R$3,27/kg e R$2,88/kg, em São Paulo e Santa Catarina, respectivamente. Figura 2.
Desde então, as cotações ficaram frouxas e no dia 10/5 atingiram o vale dos preços.
No momento em que o suíno atingiu os piores preços no ano, a desvalorização frente ao primeiro dia do embargo era de 23,9% e 17,2%, em São Paulo e Santa Catarina, respectivamente.
Recuperação do setor
Nas semanas seguintes ao dia 10/5, a oferta de suínos terminados encurtou. Os preços subiram e corrigiram o efeito do embargo sobre as cotações.
Em meio à recuperação de preços, no dia 7/6, a Secretaria de Agricultura e Pesca de Santa Catarina informou que oito frigoríficos foram habilitados a exportar carne suína para o Japão.
A boa nova colaborou para firmar os preços no mercado interno, uma vez que o país asiático é o maior comprador mundial de carne suína.
A última noticia favorável ao setor, veio no dia 21/6, quando a Abipecs informou o fim do embargo imposto pela Ucrânia. Cinco frigoríficos foram liberados, três do Rio Grande do Sul e dois de Santa Catarina.
Após noventa dias, praticamente um ciclo de produção do suíno, o comércio entre dois grandes consumidores, que são o Japão e a Ucrânia, foi liberado. Isto gera novas perspectivas a suinocultura brasileira.
Vale ressaltar que, atualmente, o suinocultor paulista recebe R$2,84/kg, valor 13,1% menor que o comercializado no início das restrições para exportação.
Em Santa Catarina, a recuperação é mais tímida. O animal vivo está cotado em R$2,53/kg, no dia 27/6, este preço é 12,1% menor comparado ao período que antecedia o embargo.
Qual a expectativa para os preços da soja no Brasil em janeiro de 2025?
Receba nossos relatórios diários e gratuitos