Formou-se pela Escola de Administração e Economia – AESP da Fundação Getúlio Vargas. Trabalhou dezesseis anos no mercado financeiro e co-fundou no Rio de Janeiro a empresa Viena-Rio Restaurantes. Fundador e Presidente da Associação Nacional de Restaurantes (ANR). Durante doze anos dirigiu o Instituto Liberal do Rio de Janeiro. Trabalhou dez anos no Citibank, morando em São Paulo, Rio de Janeiro, New York e Porto Alegre. Foi professor no IBMEC e na PUC-Rio. Desde 91, é membro do conselho executivo da Wharton School.
Visitar Havana é ver que o tempo pode parar. A arquitetura das casas e prédios parou no modernismo dos anos cinquenta. Os carros pararam nos rabos de peixe e Chevrolet Belair. A música parou na salsa antiga, no jazz caribenho e nos shows que lembram as visitas de Carmem Miranda à ilha.
Nas pessoas, há uma languidez na forma que se movimentar e trabalhar; os modos à mesa, as roupas, a linguagem, as brincadeiras com mulheres e gays, o conhecimento e a forma de argumentar mostram que o longo isolamento criou um fosso comportamental entre a ilha e o mundo.
Esta ilha linda, habitada por um povo alegre e musical, nunca foi livre. Primeiro os colonizadores espanhóis, ibéricos clássicos, com seus portos fechados e legitimando a escravidão, que somente acabou em 1886. As lutas anticoloniais devastaram os barões do açúcar e tabaco e então entraram os americanos comprando usinas e construindo mais estradas de ferro. Já então se manifestava o espírito antiamericano, na aristocracia rural e entre os intelectuais.
A república foi estabelecida em 1902, mas não um arranjo institucional apropriado. O nacionalismo foi crônico. No final do século XIX um empresário paulista da construção ferroviária mudou-se para Havana e lá construiu uma estrada de ferro para transporte de carvão. Um competidor (que era um senador) dinamitou a estrada de ferro do paulista. A justiça jamais se manifestou.
Depois da revolução de 1959, vieram os russos, construindo autoestradas, até hoje vazias e prédios, exemplos do realismo soviético. Como no comunismo não existe custo de capital, é em tais países onde se vê os melhores exemplos de desperdício de capital. (Em 1922, Von Mises escreveu que este seria o maior problema do comunismo). Agora Cuba vive de ajuda chinesa, do petróleo de Chaves e dos turistas - que este ano serão três milhões. Os canadenses patrocinaram o horrendo aeroporto internacional de Havana e o mundo patrocinou a restauração da bela Havana Velha, patrimônio da Humanidade.
Cuba foi por muito tempo o maior produtor de cana do mundo. Em 1968 Cuba estava perto de produzir 10,0 milhões de toneladas de cana, mais de três vezes a produção brasileira. Em 2010, Cuba estava na 17º posição com 11,0 milhões de toneladas e o Brasil na primeira posição com 719,0 milhões de toneladas (FAOStat). Não se vê atividade agrícola e industrial e para pagar os salários dos milhões de funcionários públicos, achatam-se seus salários e seu consumo. O governo controla a maior renda do país, a dos turistas, pelo uso do peso conversível, atrelado ao dólar por cotação fixada pelo governo, que turistas tem que usar para pagar por compras e serviços, como os restaurantes estatais, taxis, hotéis e "paladares". Os preços ficam perto dos internacionais (o governo já aprendeu), mas tudo de muito pior qualidade. O charme de Cuba atrai estranhas tribos de turistas, claramente muito complacentes.
Os cubanos recebem salários em pesos nacionais, que consomem em produtos com quotas, em mercados pessimamente mantidos e supridos. Como acontecia na Rússia, há roubo tolerado de produtos industriais, que alimentam um mercado negro visível. Médicos e engenheiros não trabalham ou dirigem taxis. Educação sem liberdade serve para pouco. E a qualidade da medicina é impossível de verificar por um estrangeiro.
As séries de Angus Maddison mostram que a renda per capita de Cuba em 1950 era a quinta maior entre os 22 maiores países latino-americanos, depois da Venezuela, Argentina, Uruguai e Chile. Em 2001, Cuba tinha a quarta pior renda per capita entre os mesmos países (adiante de Honduras, Nicarágua e Haiti).
A revolução cubana foi salva por um bônus populacional. Cuba tinha 7,1 milhões em 1960. Hoje são 11,4 milhões, com população declinante. Cuba já crescia pouco em 1959 e possuía muito boa infraestrutura urbana e residencial. Precisou de muito pouca nova infraestrutura. Se a população cubana tivesse crescido como a mexicana, Cuba seria hoje uma enorme favela de 22,0 milhões de pessoas.
Dos espanhóis aos americanos, Havana sempre foi um importante porto e entreposto comercial. Tudo acabou em 1959. Mas agora, com ideias petistas, financiamento do BNDES (90,0% do investimento total) e engenharia da Odebrecht, constrói-se o superporto de Mariel. É para ser uma zona franca, mas o governo cubano não gosta que chamem o porto de "franco" nem que da obra tirem fotos, mas não avisam de tal restrição. Fomos detidos, juntamente com o motorista cubano, por um guarda armado. Reteve nossos documentos e quando a longa novela acabou o motorista, antes exaltando o maior porto da America Latina, estava muito silente e preocupado.
Vários destes episódios de controle social (como paradas em postos policiais, comentários como "cuidado com o que falas com os turistas", medo dos guias de uma compra no mercado negro) potencializados pela TV e imprensa estatal, ausência de livros e internet, impossibilidade de viajar, dupla moeda e a presença dos Comitês Revolucionários, mostram que uma primavera cubana está longe de acontecer. Depois de 53 anos de ditadura, o povo cubano tem medo dele mesmo. A liderança cubana vive incógnita e de forma misteriosa, como tudo em Cuba. Ninguém sabe onde estão, onde moram. Mas fala-se à boca pequena sobre Chaves. Estaria na antiga residência do embaixador brasileiro em Havana. Este palácio residencial foi expropriado quando as relações diplomáticas foram cortadas e quando reestabelecidas, o governo do Brasil não solicitou a devolução da residência.
Figura 1. Odemiro Fonseca e Luiz Eduardo Vasconcelos em Cuba.
Colaborou Luiz Eduardo Vasconcelos.
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