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Scot Consultoria

Um retrato da política industrial do governo


Quarta-feira, 4 de junho de 2014 - 17h00

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.


O economista Mansueto de Almeida publicou ontem, em seu blog, excelente artigo em que destaca os ridículos resultados das megalomaníacas políticas industriais do governo Dilma Rousseff.

Embora discordemos pontualmente quando ele diz que há espaço para fazer política industrial no Brasil - pois acho que únicas políticas eficazes, nesse aspecto, seriam a desburocratização, a desregulamentação (inclusive na esfera trabalhista), a redução ampla e linear dos impostos sobre o trabalho e a produção, a abertura aos importados, o fim da insegurança jurídica (mudança nas regras a todo momento) e, last but not least, a melhoria da infraestrutura -, vale a leitura atenta.  Mansueto de Almeida é daqueles economistas que conhecem profundamente a realidade brasileira, bem como os meandros da administração pública.  Seguem alguns trechos:

Onde estão os IPADs e IPHONEs "Made in Brazil"?

No início do governo Dilma, muito se falou da "revolução" que seria produzir Ipads e Iphones no Brasil. O governo brasileiro fez esforços para que, o maior fabricante desses aparelhos, a empresa Foxconn de Taiwan aumentasse os investimentos no Brasil. A Foxconn opera megas fábricas na China. Algumas com mais de 300,0 mil trabalhadores.

A ideia era que, a ampliação dos investimentos da Foxconn, no Brasil, traria novos investimentos para o país e aumentaria a "densidade" da cadeia de eletro-eletrônicos. No futuro, o Brasil se tornaria um polo de exportação desses produtos eletrônicos.

(...)

Há algum sinal de sucesso dessa estratégia? Absolutamente nenhum sinal. Primeiro, como o Brasil é um país relativamente fechado, seria natural que a Foxconn e Apple produzissem alguns dos Iphones e Ipads no Brasil para vender aqui e no Mercosul, desde que contassem com incentivos fiscais - o que ocorreu. Mas achar que o Brasil se tornaria um grande polo de exportação desses produtos, um país de custo de produção elevado, é fantasioso.

Segundo, para decepção de todos e vergonha geral da nação, quando os produtos "made in Brazil" chegaram às lojas, os preços cobrados eram exatamente os mesmos dos produtos importados - o que seria o esperado para qualquer economista. No entanto, algumas pessoas acreditavam na forte queda dos preços quando aqui fossem produzidos os Iphones e Ipads. Assim, o governo concedeu subsídios para a Foxconn, mas os produtos não tiveram os preços reduzidos. O custo era o mesmo que antes pagávamos pelos importados. Isso é coisa de gênio!

(...)

Terceiro, qual grupo empresarial apostou neste plano de produzir Iphones e Ipads no Brasil? Talvez algum grupo com vasta experiência em gestão de empresas e que, ao longo de décadas, cresceu e se diversificou. Será que aos acionistas da 3G capital apostaram nisso? Será que o grupo Votorantim apostou nisso? Ou que tal nossas grandes empreiteiras como Odebrecht, etc.? Não, os dois grandes sócios da Foxconn, no Brasil, seriam Eike Batista e o BNDES. Não sei sobre o Banco, mas duvido que Eike Batista queira e possa agora continuar nessa empreitada.

Os Iphones e Ipads já são produzidos no Brasil, mas nada mudou para o consumidor, que continua pagando um preço muito caro por esses aparelhos. Nada mudou também em relação aos nossos indicadores agregados de inovação e de exportação de manufaturas, que continuam patinando. Em 2006, o saldo da balança comercial de manufaturas foi de US$5,0 bilhões e, em 2013, esse saldo se transformou em um déficit de US$105,0 bilhões. A culpa não foi do Ipad ou do Iphone.

O que de fato mudou foi que, nunca mais, representantes do governo falaram da revolução que seria produzir Ipads e Iphones, no Brasil. E os lançamentos dos novos modelos desses aparelhos continuam chegando no mercado brasileiro com atraso em relação ao mercado internacional.

"E dai? o que importa é que hoje produzimos Iphones e Ipads". Produzimos carros também, mas o crescimento do PIB neste e no próximo ano será abaixo de 2,0%. Adicionalmente, se o governo continuar com o seu plano de resolver os nossos problemas com a concessão indiscriminada de subsídios, o que parece ser a política oficial, o resultado será novos aumentos de carga tributária, aumento da dívida e/ou mais inflação (isso ninguém fala, mas esperem para ver o que acontecerá pós-eleição se o governo atual for reeleito).

Infelizmente, ainda existem pessoas que acham que fabricar Iphones e Ipads, no Brasil, é exemplo de política industrial moderna. Essas mesmas pessoas acreditam que um desequilíbrio macroeconômico é justificável desde que o resultado seja a criação de um parque tecnológico. Se olhassem com mais cuidado para a Coreia, saberiam que aquele país tinha elevada poupança e limitada rede de assistência social quando adotou políticas industriais ativas. Não é hoje o caso do Brasil.

Há espaço para se fazer política industrial? Sim, mas não na magnitude que pessoas no governo acreditam. Ao que parece, o nosso maior "sucesso" da política industrial foi a criação de um mega frigorífico (JBS/Friboi), uma empresa que o governo possui 30,0% do seu capital e que está perto de se tornar a segunda maior empresa do Brasil, atrás apenas da Petrobras. O Brasil é hoje um país mais inovador? Não. (...)

Por João Luiz Mauad


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