É professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.
Prezado Diretor da FEA, prezados respeitosos membros docentes, discentes, de ex-alunos e de funcionários da Congregação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo.
Dirijo-me, antes de mais nada, como professor universitário, a esta Congregação para manifestar meu sentimento de tristeza e indignação com o rumo que vêm sendo tomado pelo nosso país, colocando em risco difíceis e dolorosas conquistas que tivemos desde o processo de democratização.
Assistimos nos últimos anos uma gestão na esfera federal que vêm fracassando na tentativa de promover um maior desenvolvimento nos pilares econômico, social e ambiental do nosso país, facilmente comprovado por indicadores internacionalmente reconhecidos em todas estas áreas, que vêm apresentando seguida deterioração.
Entre os econômicos, destaco o retrocesso na atividade industrial e consequente menor geração de empregos, queda na arrecadação de impostos, balança comercial passando a ser deficitária em 2014, com importações já representando quase 22,0% do total consumido no Brasil, o retorno da inflação, que perigosamente encosta na parte superior da meta estabelecida, e representa uma terrível penalidade às classes mais humildes. Temos anualmente perdido posições no índice internacional de competitividade das nações, passamos por um aumento considerável dos custos de produção, o que traz grande comprometimento na capacidade de geração de renda pelas empresas, e sem geração de renda, fica comprometida a salutar e desejosa distribuição de renda, que se observará nos cortes de programas sociais já em 2015.
Entre os indicadores sociais, observo pela primeira vez nos últimos anos o aumento no número de miseráveis, fracas participações em rankings de desempenho de educação, a acomodação de importante parte de nossa população desistindo do trabalho e dependendo do Estado, a explosão da violência urbana e rural, além da degradação do tecido social, deterioração das instituições sociais, dos valores éticos, de educação, convivência e solidariedade. Observo também um desencanto dos jovens e dos talentos e empreendedores com o Brasil, com aumento na vontade de pessoas em buscarem alternativas em outros países.
Finalmente, assistimos também se deteriorarem alguns indicadores ambientais, com o aumento recente na taxa de destruição de nossas florestas e principalmente, nas emissões de CO2, entre outros, notadamente pela quase destruição do setor de etanol e energias renováveis com equivocadas políticas de subsídios aos combustíveis fósseis, amplamente debatidas e contestadas pelos pesquisadores da FEARP, entre os quais me incluo.
Como mais um indicador de uma gestão temerária, o governo federal não cumpriu as metas do orçamento proposto para 2014, e necessita de uma manobra para acertar as contas. Isto representa mais uma afronta às instituições, ao tentar flexibilizar perigosamente uma conquista de enorme relevância à sociedade brasileira, a lei de responsabilidade fiscal, com possíveis reflexos futuros nas arenas estaduais e municipais, pois abre-se o precedente de se acertar por artifícios as contas de quem não as cumpriu como gestor público, colocando em risco uma das maiores conquistas da sociedade brasileira, que foi a estabilização da moeda e um relativo controle sobre a inflação.
Assistimos também atônitos às descobertas diárias do que vêm sendo saqueado nas nossas estatais, sendo o caso da Petrobras, entre muitos outros, o mais escandaloso que vi em nossa história, pelo volume de recursos comprovadamente desviados pelo grupo que está à frente da gestão do nosso país, prejudicando a nossa sociedade em diversas formas, mas principalmente em investimentos que poderiam beneficiar os mais humildes e comprometendo as futuras gerações do nosso país. Ressalto que a corrupção não se restringe ao governo federal.
Ou seja, encontramo-nos hoje na mais triste situação em termos de administração pública: má gestão, que comprovadamente tirou o país dos trilhos do desenvolvimento, aliada à elevada corrupção. Basta a leitura diária dos editorais da respeitável imprensa brasileira e internacional para este triste diagnóstico.
Dirijo-me à comunidade da USP, a começar pelos colegas professores, aos funcionários, e aos nossos alunos de graduação e pós-graduação da FEA-RP, manifestando minha decepção pela elevada acomodação e omissão, na qual não me enquadro, de boa parte do sistema universitário, seja do corpo docente ou discente, à situação de deterioração na qual nos encontramos. Justo a Universidade, que historicamente é catalisadora de movimentos.
Chega a ser intrigante, além de difícil compreensão o silêncio de nossas associações de classe, sindicatos e de entidades estudantis, entre estas destaco os sempre combativos e tradicionais Centros Acadêmicos e notadamente a desaparecida UNE, que foi às ruas no Anhangabaú (SP) comigo em 1992 derrubar via impeachment um presidente que, permitam-me nobres membros desta Congregação, em tom de humor trágico, me parece hoje um "homeopata" perto de tudo isto que se vê hoje. Por que estão em silêncio?
De tal forma, uso a palavra aberta aos distintos membros da Congregação da FEA para manifestar meu chamado, meu estímulo para que a comunidade universitária saia desta injustificável acomodação e participe mais ativamente do processo de protesto contra o que vem sendo feito diariamente para prejudicar o nosso objetivo comum, que é a construção de um país justo, de oportunidades e com elevado IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), traduzido em seguidas melhorias nos seus indicadores de desenvolvimento econômico, ambiental e social.
Registro oficialmente na instituição à qual tenho orgulho de pertencer e trabalhar pelo desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão o que venho registrando em artigos e nas mídias sociais: meu humilde protesto pela quase ausência do sistema universitário e estudantil na discussão, nos movimentos contra a deterioração vivida por nosso país.
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