O trabalho da AgroTVM é informar. O objetivo é trazer ao leitor semanalmente conteúdo atualizado sobre a produção agrícola, antes e depois da porteira.
Está mais do que claro que os canaviais brasileiros necessitam aumentar suas produtividades ou ao menos mantê-las para que o setor canavieiro consiga sair da crise em que se encontra. Esta é só uma das questões que envolvem o problema da cadeia sucroenergética brasileira sendo, no entanto, fundamental para a sobrevivência da cana-de-açúcar.
Existem inúmeros aspectos técnico-científicos que englobam tal assunto, sendo impossível abordá-los num único artigo e, portanto, tentarei resumir os principais tópicos que influenciam e determinam qual será a produtividade de uma lavoura de cana nos atuais moldes do país.
Condições edafoclimáticas
O ambiente de produção deve ser o primeiro aspecto a ser analisado numa área de plantio ou replantio de cana, sendo o recurso natural solo o principal ator desse ponto de análise. Identificar o tipo de solo, sua fertilidade, características físicas e regime hídrico poderão determinar grande parte da produtividade da planta.
Características agronômicas
Em termos de planta, as características agronômicas mais latentes envolvem aspectos de fitotecnia, nutrição, controle fitossanitário e rotação de culturas. Traduzindo a frase anterior, a escolha da variedade correta para o ambiente de produção, seja esta cana-energia, resistente à seca ou a doenças, abrange a fitotecnia; uma adubação bem feita para cana-planta ou cana-soca, fertirrigação e aproveitamento dos subprodutos (torta, cinza e vinhaça) fazem a nutrição; combate de pragas, nematoides e uso de controle biológico atuam no controle fitossanitário e, por fim, a rotação de culturas com leguminosas, adubação verde ou mesmo o sorgo sacarino auxiliam na prevenção de problemas fitossanitários, condicionam a melhoria do solo e proporcionam o prolongamento da safra.
Irrigação
A questão da irrigação nos canaviais vem sendo cada vez mais valorizada, principalmente depois de um ano terrivelmente seco na região sudeste. Existem inúmeras opções de métodos e sistemas de irrigação que podem ser utilizados para a cana, mas um que vem ganhando destaque é o gotejamento enterrado. Pelo gotejamento é possível fornecer água para a soqueira exatamente onde é necessário, nas raízes, evitando-se perda por evaporação e aumentando a eficiência da irrigação. Pode-se fazer a fertirrigação, particionando as áreas em setores e controlando exatamente a quantidade de água e adubo que será aplicado em cada época do ano, economizando assim, água, energia, tempo, e, principalmente, aumentando a produtividade e rentabilidade do produtor.
Planejamento e sistematização
O planejamento hoje está tão tecnificado que fica complicado o monitoramento de uma grande área produtiva sem o uso de geotecnologias. A utilização das imagens de satélite aliadas aos softwares de geoprocessamento são procedimentos fundamentais para se otimizar e facilitar as operações agrícolas georreferenciadas e o uso de agricultura de precisão. Além disso, a utilização dos vants ou drones nas lavouras já é um caminho sem volta.
Colheita mecanizada
Coloco aqui a colheita sem desdenhar das outras operações agrícolas, tão importantes quanto à mesma, mas o agravante custo de produção e tecnologia embarcada me faz destacar tal operação. A colheita necessita de muitos cuidados para a preservação da produtividade do canavial, como evitar o pisoteio das soqueiras e as perdas visíveis que tanto ocorrem no campo. Além disso, o tópico mais importante aqui deve ser o treinamento e capacitação dos operadores para que os mesmos trabalhem conscientes de que o que fizerem no campo terá impacto direto no bolso deles. Para complementar, os conceitos de canteirização e ETC (Estrutura de Tráfego Controlado) prometem revolucionar a forma de se colher cana no Brasil, só nos restando esperar para ver.
Etanol 2G
Por último, mas não menos importante aparece o etanol de segunda geração que pretende dobrar a produção de etanol por hectare de cana (l/ha). Com a possibilidade de se verticalizar a produção através do etanol 2G, não só consegue-se evitar a abertura e ocupação de novas áreas como se produzirá mais litros de álcool por hectare de cana plantada, aumentando-se assim a produtividade do canavial em termos de etanol. Com isso, o setor poderá se tornar muito mais competitivo perante a gasolina, independente das condições políticas e regulatórias do setor.
Desta maneira, percebe-se que existe uma série de ações a serem tomadas pelo setor sucroalcooleiro que podem não só manter a produtividade atual como também elevá-la a outros patamares, permitindo a produção de mais ATR por quilo de cana, mais litros de etanol por hectare e mais biomassa para a geração de energia elétrica. Obviamente que aspectos como linhas de crédito, reforma de canaviais e incentivos governamentais influenciam diretamente na produtividade, mas talvez não a produtividade que está ao alcance dos usineiros.
Artigo originalmente publicado em https://agrotvm.wordpress.com/
Por Thomaz Penteado
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