graduanda em engenharia agronômica e analista júnior da Scot Consultoria.
Em períodos de queda da oferta de pastagens e escassez de boiadas terminadas para ao abate, os bovinos com características genéticas inferiores para corte tendem a compor a escala com maior frequência.
Estes animais são geralmente provenientes de cruzamentos entre zebuínos x raças leiteiras.
Muitas vezes o abate deste tipo de bovino não é desejável, já que apresentam características de carcaça que tendem a diminuir o seu valor comercial.
Segundo Berg & Walters (1983), bovinos de raças leiteiras possuem uma maior quantidade de osso na carcaça e menor de músculos se comparado a outras raças.
Se criados em sistema de confinamento, no entanto, pouco se nota essa diferença quando comparados a raças com aptidão para corte.
No entanto, quando terminados em pastagens, possuem uma maior dificuldade na deposição de gordura de acabamento e, assim, as características citadas por Berg & Walters (1983) ficam evidentes.
Este tipo de bovino acaba sendo desclassificado no momento do abate, ou seja, ocorre desvalorização, penalização.
Há dificuldade na comercialização de carnes com baixa quantidade de gordura de acabamento, e é essa a característica indesejável aos olhos do consumidor e consequentemente do frigorífico.
Costa, D. et al. (2007), em experimento com novilhos da raça Nelore e novilhos cruzados Nelore x Holandês terminados a pasto, observou maior rendimento de carcaça e deposição de gordura nos animais da raça Nelore, na comparação com os bovinos mestiços.
De acordo com Torres & Jardim (1975), mestiços leiteiros possuem menor conformação, peso inferior, estreitos, menos cheio no peito, espádua, anca e períneo, quando comparados com animais de raças de corte.
Mas se considerarmos os períodos com queda de oferta de boiadas gordas, aumenta a viabilidade de abate de bovinos de valor comercial inferior. O frigorífico, ao invés de diminuir a quantidade de animais abatidos por dia, aceita-os, para diluir o custo fixo.
Ou seja, mesmo que menor, a receita com o abate deste tipo de animal compensaria frente ao custo industrial.
Mesmo que a carne resultante obtenha um menor valor comercial, ao serem desclassificados ou penalizados compensa essa anomalia pois chega a pagar preços semelhantes aos de fêmeas, que estão em média, 6,3% menores que o do macho.
Esse quadro retrata que o custo de abate é o mesmo, o que varia é o valor agregado do produto final.
Segundo pesquisa realizada pela Scot Consultoria junto aos frigoríficos, a compra dos bovinos para abate representa de 75,0% a 83,0% dos custos da indústria. O custo com o abate representa entre 2,0% e 3,0% do preço pago pelo boi gordo.
Em temporada de redução de margem e falta de boiadas, o rigor de escolha diminui, permitindo que boiadas de menor qualidade sejam consideradas para produção de carne.
Bibliografia
BERG, R.T.; WALTERS, L.E. The meat animal: changes and challenges. Journal of Animal Science, v.57, n.2, p.133-145, 1983.
COSTA, D.; ABREU, J. B. R.; MOURÃO, R. C.; et al. Características de carcaça de novilhos inteiros nelore e F1 nelore x holandês. Ciência Animal Brasileira, v.8, n.4, p.685-694, 2007.
RESTLE, J.; KEPLIN, L. A. S.; VAZ, F. N.; et al. Qualidade da carne de novilhos charolês
confinados e abatidos com diferentes pesos. Ciência Rural, v. 26, n. 3, p. 463-466, 1996.
TORRES, A. D. P.; JARDIM, W. R. Manual de zootecnia. São Paulo: Ceres, 1975. 299 p.
Colaborou Mateus Ferreira, zootecnista e trainee da Scot Consultoria.
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